Por Jorge Lorente Em Colunista

Garantia de vida plena

“Assim é na ressurreição dos mortos: semeado na corrupção, o corpo ressuscita incorruptível; semeado no desprezo, ressuscita glorioso; semeado na fraqueza, ressuscita vigoroso” (1Cor 15, 42-43)

Mário Alvarez
Mário Alvarez


A celebração dos nossos fiéis defuntos me recordou uma antiga lenda indígena, muito difundida entre as crianças. Eles relacionam a vida da pessoa com o rio que tem sua nascente ao lado da aldeia. Na primeira aula, os anciãos mostram para as crianças aquela pequena mina que, ao nascer, encontra grande dificuldade para iniciar sua caminhada. Ressaltam que, assim como os pequenos indiozinhos, o rio é ainda apenas uma pequena mina de água que precisa superar os primeiros obstáculos que insistem em não o deixar caminhar. Aos poucos o pequeno regato vai crescendo, vai criando coragem e dando início à sua caminhada. Ele ainda não tem noção de seu destino, mas seu instinto lhe diz que não pode ficar parado, haja o que houver, tem que seguir.

As montanhas, pedras e obstáculos, que surgem à sua frente, os índios adultos comparam com os animais selvagens e com a mata cerrada com que as crianças irão se deparar quando tiverem que sair da aldeia e caminhar sozinhas.

Os adultos ressaltam que o rio precisa ser imitado, pois ele jamais se deixa abater. Ele luta com todas as suas forças e, cautelosamente, vai desviando dos empecilhos, mudando sua rota, sempre sem perder o foco, sem esquecer o seu objetivo que é caminhar, incansavelmente, ainda que sem saber para onde. Finalmente, já adulto e caudaloso, o rio descobre que seu destino final é o imenso oceano. Isso o assusta, mas não lhe resta alternativa. Mais à frente o rio se depara com o vasto oceano no qual deverá entrar e desaparecer para sempre. A tristeza invade seu coração. Para ele esse é o momento final, parece-lhe que tudo foi em vão, chegou a hora de sua morte.

É assim que o rio vê o desfecho de sua história. Parece-lhe que sua caminhada foi inútil. Nada mais lhe resta, a morte é o seu fim. Ele então, desapontado, com o semblante triste, fecha seus olhos e mergulha no imenso mar. Alguns segundos depois, ao reabrir seus olhos, perplexo, ele percebe que o oceano cresceu com sua presença. Agora seu medo desaparece e dá lugar a uma imensa alegria, pois não se trata de desaparecer, mas sim de renascer, de transformar-se em um imenso oceano.

Esse rio representa, não somente aqueles indiozinhos, ele representa nosso caminho nesta vida, por vezes, sem destino, desesperançados, receosos, esperando a morte chegar, sem coragem para desviar e superar os obstáculos do dia a dia. Esta lenda deve servir-nos de alento e esperança, pois a morte foi vencida. Para o cristão não existe morte. Com sua morte e ressurreição, Jesus nos deixou a garantia da vida plena. Como a semente se transforma na altiva árvore, na linda flor e no saboroso fruto, assim também nossa vida será transformada. Deparar-se com a morte é sempre uma experiência difícil, mas, como disse São Paulo aos tessalonicenses: “Se acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou, acreditamos também que aqueles que morreram em Jesus serão levados por Deus em Sua companhia” (1Ts 4,14).

Fonte: Revista O Mílite

Escrito por
Jorge Lorente
Jorge Lorente

Locutor da Rádio Imaculada, colunista e escritor de vários livros consagrados. Seu último lançamento foi a obra "Maria, mãe e mulher".

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