A dor de cabeça começou no dia 15de julho de 2009. Como Geane já estava no quinto mês de gestação e sempre teve muito enjoo, não deu muita importância para a dor que podia ter sido causada por algo que ela havia comido no dia.
Tomou um meio comprimido de analgésico e, ao voltar para casa, depois de um dia inteiro de trabalho, adormeceu. No outro dia, por volta das 5h, Geane acordou com vontade de ir ao banheiro, mas não conseguiu levantar. Seu corpo estava paralisado. Elias, seu esposo, levantou e, ao acender a luz, viu que Geane estava tendo uma convulsão. Ele gritou e pediu por ajuda. A família deles logo chegou e um amigo os levou para o hospital. Na ocasião, Geane não reconheceu ninguém. Sabia que todos que ali presentes eram importantes, mas não lembrava de nenhum deles.
Chegando ao hospital, Geane foi atendida como emergência, contudo o médico disse que não se tratava de uma convulsão e a liberou em seguida. Elias ainda pediu para reconsiderarem e internarem Geane para ficar em observação, mas, por sua vez, o médico afirmou que não era necessário e que aquilo não passava de um mal-estar.
Em casa, Geane procurou descansar, mas, depois de 30 minutos, sentiu a mesma sensação e, pela segunda vez, Geane teve uma convulsão na frente da família. No hospital, um outro médico que a atendeu pediu para interná-la com urgência e ficou pasmo com a conduta de seu colega, pois o estado de Geane tinha se agravado por não ter sido atendida adequadamente. Como a situação dela estava muito complicada, os médicos decidiram dar uma injeção de um medicamento anticonvulsivante para tentar salvá-la. Porém, o procedimento foi feito sem o consentimento da família e nenhum documento foi assinado autorizando o uso do medicamento que era abortivo.
Depois de um tempo, Geane que até então estava inconsciente, acordou e percebeu que algo estava estranho. Todos que iam visitá-la estavam com os olhos cheios de lágrimas e muito tristes. Ela não tinha ideia do que tinha acontecido, mas desconfiava que era algo com sua bebê.
O parto
Passaram-se três dias sem que ninguém lhe dissesse o que estava acontecendo. Foi então que um médico veio até Geane para fazer um ultrassom. Muito tranquilo, disse que a bebê estava viva, apesar de seu coração bater muito fraco. Ele explicou para Geane o que tinha acontecido e fez uma proposta de transferi-la para o Hospital das Clínicas, onde ele era responsável por uma equipe neonatal especializada nos casos de bebês prematuros em estado grave. O casal aceitou e, no mesmo dia, foram transferidos.
Naquele momento, Geane lembra que se fez forte apenas para apoiar a família que sofria muito, mas desmoronava por dentro pensando em sua pequena menina.
No dia 18 de julho de 2009, Geane deu entrada na sala de parto. Momentos antes, o médico tinha pedido que Elias não acompanhasse o parto, pois em casos em que existe a possibilidade de a mãe vir a falecer, o pai automaticamente culpa o bebê pela morte da mãe, ou seja, pode ocorrer rejeição, então, para evitar este trauma, o hospital adotava tal procedimento.
Assim, sem a companhia do esposo, Geane deu a luz a Heloisa, às 18h50: uma garotinha de apenas cinco meses e meio de vida intra-uterina, de 29 centímetros e 500 gramas. Foi um parto muito difícil e quando Geane viu sua filha na incubadora, soube que teria que ser forte, porque aquele bebê tão pequenino dependia dela e de seu amor.
Heloísa foi para a UTI e, durante quatro meses, Geane e Elias revezavam para ficar com a filha. Por isso, acordavam todos os dias bem cedo e, entre ônibus, trólebus, metrô e um trajeto a pé, eles percorriam uma distância de duas horas para chegar ao hospital e gastavam em média 30 reais por dia. Sem saberem, essa luta diária foi fortalecendo o casal, pois, dia após dia, eles viam como Heloísa se agarrava e, mesmo depois de ter sofrido hemorragia cerebral e sido submetida a várias cirurgias, o quadro de saúde da pequena guerreira só melhorava.
Certo dia, em outubro, estava chovendo muito forte e o médico avisou que Heloísa começar a respiraria a respirar sozinha. Quando Heloísa estava fazendo os exercícios, a energia do hospital acabou e os geradores não ligaram. Como ainda tinha muita dificuldade e sem a respiração mecânica, Heloísa começou a ficar sem ar e o desespero foi tomando conta de Geane. O hospital virou um caos total. Muitas vidas dependiam dos aparelhos de respiração mecânica para sobreviver. Na tentativa de salvá-las muitos médicos se dedicavam totalmente a ventilação mecânica manual. No meio de tudo aquilo, o médico pediu para Geane tirar a roupa, colocar a Heloísa junto a seu peito e respirar. Feito isso, a bebê se acalmou e, em sincronia com a mãe, respirou até adormecer. Naquele dia, muito bebês morreram.
A oração
Em todos os momentos, a oração desempenhou um papel fundamental na história da família. Geane trabalhava há três anos na Milícia da Imaculada, e as pessoas, ao saberem da sua angústia, diziam que estavam rezando por ela e pela Heloísa. Cada vez que uma pessoa dizia isso, Geane colocava toda sua fé nas orações, principalmente quando ia ao hospital. Antes de entrar na ala onde Heloísa ficava, tinha de esperar em uma sala restrita. Nessa sala, se houvesse uma incubadora era sinal de que uma criança tinha falecido. Todas as vezes que Geane chegava e via uma incubadora, ela rezava para não ser a sua filha e pensava em São Maximiliano Kolbe. Ela também vivia ali o bunker da fome.
Mas sua fé era mais forte. Por isso, quando o Frei Sebastião quis ir ao hospital para batizar sua bebê, Geane recusou veementemente. Heloísa só seria batizada quando saísse do hospital e pudesse ir ao Santuário Imaculada Conceição e São Maximiliano Maria Kolbe.
No dia 18 de novembro, o telefone tocou na casa do casal. Era a melhor notícia que eles receberiam em anos. Heloísa estava de alta. Geane e Elias saíram de casa emocionados. A primeira coisa que Geane precisava fazer era agradecer a Deus e, por isso, foi direto para a Milícia da Imaculada. De frente ao Santíssimo, ela só conseguia chorar e agradecer a Deus e Nossa Senhora pela vida de sua filha.
Sofrer nos faz crescer
Geane reconhece que no hospital ela teve a oportunidade de mudar. Ver o sofrimento de tantas mães que diziam adeus aos seus bebês era muito triste, e ela sabia que isso, de algum modo, a fortaleceu, pois fosse qual fosse o desfecho de sua história, Deus era seu porto seguro e, agora, ela agradecia aquele presente que Ele tinha lhe dado.
Depois desse episódio em sua vida, Geane reza todos os dias pelas pessoas que sofrem e que precisam da oração assim como ela precisou.
Hoje, Heloísa tem sete anos e encanta todos aqueles que a conhecem por sua bondade e determinação. A menina que lutou pela vida faz a alegria de seus pais e, por ela, Geane viveria a mesma história outra vez.
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