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Editora vaticana publica a primeira de mais de 30 homilias inéditas de Bento XVI

Editadas pelo padre Federico Lombardi, ex-porta-voz da Santa Sé, as reflexões são em italiano e abrangem grande parte dos ciclos litúrgicos festivos

Escrito por Angelica Lima

26 DEZ 2023 - 15H41

A Fundação Vaticana Joseph Ratzinger e a Livraria Editorial do Vaticano lançaram a primeira de uma coleção de mais de 30 homilias inéditas pronunciadas pelo papa Bento XVI e que serão publicadas em 2024.

As homilias, editadas pelo padre Federico Lombardi, ex-porta-voz da Santa Sé, são em italiano e abrangem grande parte, embora não a totalidade, dos ciclos litúrgicos festivos.

“Este não é um volume que se espera que forneça novidades exegéticas ou teológicas, mas sim um alimento espiritual substancial, em sintonia com o gênero homilético cultivado com cuidado e profundo espírito sacerdotal por Joseph Ratzinger ao longo da sua vida”, afirmou o Dicastério para a Comunicação.

O jornal dominical alemão Welt am Sonntag e L'Osservatore Romano publicaram, na véspera de Natal, um primeiro sermão inédito dedicado a “São José e a espera do Natal”, proferido durante as celebrações dominicais privadas na capela do mosteiro Mater Ecclesiae depois de sua renúncia ao papado.

O sermão é do Quarto Domingo do Advento (ciclo litúrgico A), do dia 22 de dezembro de 2013, dedicado principalmente à figura de são José, baseado no Evangelho do dia.

O padre Lombardi, em entrevista concedida ao Welt am Sonntag, relata que estes sermões “privados” de Bento XVI foram gravados e transcritos pelas “Memores Domini”, as consagradas que o assistiam, e posteriormente confiados à Livraria Editora Vaticana.

O secretário do papa Bento XVI, dom Georg Ganswein já havia anunciado essas homilias e sua transcrição em diversas ocasiões, e o próprio papa já havia falado sobre como as preparava durante a semana

Welt am Sonntag perguntou se era possível publicar uma delas por ocasião do Natal e o pedido foi aceito.

Abaixo está a homilia inédita do papa Bento XVI em tradução livre ao português:

Homilia de Bento XVI em 22-12-2013 – Quarto Domingo do Advento

Capela Privada – Mosteiro Mater Ecclesiae

Evangelho: Mt 1,18-24

Queridos amigos,

Junto a Maria, Mãe do Senhor, e São João Batista, a liturgia apresenta-nos hoje uma terceira figura que encarna o Advento: São José.

Meditando o texto do Evangelho, podemos perceber, parece-me, três elementos constitutivos desta visão.

O primeiro e decisivo é que São José é chamado de “justo”. No Antigo Testamento isto caracteriza aquele que vive verdadeiramente segundo a palavra de Deus, aquele que vive a aliança com Deus.

Para entendê-lo, devemos pensar na diferença entre o Antigo e o Novo Testamento. O ato fundamental do cristão é o encontro com Jesus, com a palavra de Deus que é Pessoa. Ao encontrar Jesus, encontramos a verdade, o amor de Deus, e a relação de amizade torna-se amor; nossa comunhão com Deus cresce, somos verdadeiramente crentes e nos tornamos santos.

No Antigo Testamento, o ato fundamental é diferente porque Cristo ainda era futuro, e o máximo era voltar-se para Cristo, mas não era um encontro real como tal. A palavra de Deus no Antigo Testamento tem a forma fundamental da lei, a “Torá”. Deus guia, é isso que significa; Deus nos mostra o caminho. É um caminho de educação que forma o homem segundo Deus e o torna capaz de encontrar-se com Cristo. Neste sentido, esta justiça, viver segundo a lei, é um caminho para Cristo, uma extensão para Ele; mas o ato fundamental é a observância da Torá, a lei, e assim ser “justo”.

São José é justo, um exemplo ainda do Antigo Testamento. Mas aqui existe um perigo e ao mesmo tempo uma promessa, uma porta aberta.

O perigo aparece nas discussões de Jesus com os fariseus e especialmente nas cartas de São Paulo. O perigo é que se a palavra de Deus é fundamentalmente lei, deve ser considerada uma soma de prescrições e proibições, um pacote de normas, e a atitude deveria ser a de observar as normas e assim se corrigir. Mas se a religião é assim, só isto, não nasce a relação pessoal com Deus, e o homem permanece em si mesmo, tenta aperfeiçoar-se, ser perfeito. Mas assim surge uma amargura, como vemos no segundo filho da parábola do filho pródigo, que, tendo observado tudo, no final é amargurado e também com um pouco de inveja do irmão que, segundo ele, teve uma vida em abundância. Este é o perigo: a simples observância da lei torna-se impessoal, só um fazer, o homem torna-se duro e também amargo. Ao final, ele não consegue amar esse Deus, que se apresenta apenas com normas e às vezes até ameaças. Este é o perigo.

Fonte: ACI Digital

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