Por MI Em Igreja Atualizada em 04 FEV 2019 - 13H26

Não houve um acidente em Minas Gerais

Confira as palavras do bispo acerca do desastre em Brumadinho (MG)


CNBB
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Confira as palavras do bispo acerca do desastre em Brumadinho (MG)


Riquezas das Minas Gerais, seus minérios e tantas outras maravilhas, que tão “generosamente” foram dadas pelo Criador, transformaram-se segundo o bispo auxiliar de Belo Horizonte, dom Joaqui Giovani Mol, em sua perdição.

“Minas vê, gravíssima e rapidamente, seus rios, lagos, afluentes, terras agricultáveis, comunidades e suas culturas sendo dizimadas. São cometidos crimes contra a vida humana, contra o meio ambiente e contra o direito de viver em comunidade e em família”, destacou o bispo.

Em seu artigo “Mineradoras lesam a humanidade”, Dom Mol menciona a Encíclica do Papa Francisco, Laudato Si, que alerta para a necessidade da urgente compreensão de que o Planeta clama contra o mal que lhe é provocado no uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nele colocou.

“O que foi legado ao homem para que prospere e tenha uma vida plena e a transmita às futuras gerações, a ação irrefreavelmente gananciosa e criminosa das mineradoras destrói em tão pouco tempo”, afirmou o bispo.

Dom Mol relatou que vive-se diante da "débil" regulação do setor pelo Legislativo. Segundo ele, "contaminado" de pessoas financiadas por empresas e que são autorizadas pelo Executivo, “imiscuído” em múltiplos interesses nem sempre republicanos e “precariamente” fiscalizadas pelos órgãos que existem para isso. Soma-se a isso, de acordo com o bispo, a um Judiciário “leniente”, “ensimesmado”, “caríssimo”, “insensível”, “pretensioso” e “divorciado” do povo brasileiro.

Conforme o bispo foi assim em Mariana, pela Vale/Samarco, até hoje “na justiça” e é assim em Brumadinho, pela Vale. Dom Mol diz que não se pode deixar que assim continue.

Para o bispo, não houve um acidente em Minas Gerais, mas um "crime ambiental e um homicídio coletivo".

“Uma matança de pessoas, animais e do meio ambiente. Quase mataram também a esperança, a fé, a dignidade e o amor das pessoas que sobraram, agora terrível e indescritivelmente sofridas, mas em processo curativo, em reconstrução, soerguimento, revitalização e retomada de posse de sua brava dignidade”, disse.

Como não há uma empresa mineradora em abstrato, as pessoas que nela atuam, segundo Dom Mol, "têm responsabilidade sobre esta tragédia e devem ser rigorosamente punidas", para que, juntamente com a mineradora, não caiam em desgraça também os que exercem os poderes acima citados e já tão pouco acreditados.

“Conscientemente as mineradoras optam, por serem mais baratos, por modelos de exploração de minério de ferro e de outros metais mais danosos ao meio ambiente e à vida humana. O lucro exorbitante, quase ilimitado, com pouco retorno à sociedade por meio do poder público, é o único critério e preside, inconsequentemente, as decisões em relação aos modelos de exploração dos recursos naturais”, comentou o bispo.

Ainda de acordo com ele, por causa dessa sede “insaciável” e “enlouquecida” por riquezas cada vez maiores, concentradas sempre mais nas mãos de pouquíssimas pessoas, empresas mantêm trabalhadores na pobreza a vida inteira e expostos à morte.

“A mineração em nosso País se tornou eticamente insustentável, calamitosa e de altíssimo risco para a vida humana e toda a vida existente em suas áreas de atuação”, falou.

Dom Mol salienta que a dimensão cruel e potência danosa da reincidência desses crimes apontam que apenas o fato de não se tratarem de um contexto de conflito armado é que os distingue de serem entendidos como crimes de lesa-humanidade: “As práticas de seus infratores, afinal, se mostram sistemáticas, resultam da clareza dos riscos e danos de suas ações em covardes atos desumanos e contra a população civil. Por isso mesmo, urge que as pessoas, organizações e instituições que valorizam a vida humana, que querem defender a natureza dessa progressiva e suicida destruição, se insurjam contra esse modelo de negócio que enriquece tão poucos, destruindo a vida de tantos. Do modo que se realiza, esta economia mata, repito o Papa Francisco, o maior líder humanitário do mundo atual”.

"É inadmissível", segundo ele, a persistência desse modelo econômico de enriquecimento pela destruição.

“É impossível continuarmos aceitando que a natureza, obra-prima de Deus, seja sistematicamente destruída. E que milhares de trabalhadores, idosos e crianças, mulheres e jovens, prevalentemente os mais pobres e humildes, sejam diariamente expostos ao risco de morrer em função de uma ganância deplorável. Precisamos, talvez como nunca antes, como nos convoca o Papa Francisco, cujo nome tem inspiração em São Francisco de Assis, 'exemplo por excelência pelo cuidado com o que é frágil e a ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade' (Laudato si), de um debate que una a todos, porque o desafio ambiental diz respeito e tem impacto sobre todos nós”, finalizou.

Com informações da CNBB.

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