Por Paulo Teixeira Em Colunista Atualizada em 25 MAI 2021 - 14H56

Vida pelas vidas

Responsável por uma UTI específica para tratamento da Covid-19, o médico Fernando Santella fala sobre o que é estar na linha de frente no combate à pandemia

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal
Fernando Santella, médico intensivista


O médico jovial e alegre que participa com frequência da programação da Rádio Imaculada conta que perdeu 6 quilos no primeiro mês da pandemia e revela seus sentimentos durante essa emergência: “Sinto-me privilegiado e também abençoado em poder ajudar tanta gente nessa situação. Tive crises de ansiedade e de choro, e também tive muitas alterações de humor. Ao mesmo tempo que a gente se sente bem, sente com dificuldade porque tem muita gente que conhecemos e que está sofrendo, e muita gente que não conhecemos, mas sabemos que sofre”.

Fernando Santella, que trabalha 90 horas por semana, conta que no início da pandemia foram muitas internações com casos graves. Depois, com as medidas de isolamento social, os casos foram reduzindo, mas, com o que ele chama de “relaxamento natural do isolamento”, o número de internações aumentou.

Sobre as medidas de precaução com a família, Fernando diz que “não é excesso de zelo, mas de trabalho” que o leva alterar as rotinas mais simples de casa. “É cansativo.

Chegando em casa, troco a roupa antes mesmo de entrar. Não posso abraçar as crianças e a esposa. Eu vou ao mercado e higienizo as compras antes de levar para casa”, relata.

Além da rotina alterada, as famílias e os hospitais têm o desafio de lidar com uma doença desconhecida que tem menor letalidade do que a gripe H1N1, por exemplo, mas o contagio é muito mais amplo.

“Não é uma doença que prioriza os mais velhos. Na verdade, atinge os idosos porque eles já têm dificuldades imunológicas. A doença se parece com aquele jogo trágico de ‘roleta russa’. Dá a impressão que escolhe algumas pessoas e elas acabam perecendo”.

As experiências difíceis são constantes e impactantes. Doutor Fernando lembra de um homem de 37 anos, amigo de uma enfermeira, que foi hospitalizado para observação com sintomas leves de tosse e febre. No dia seguinte, apresentou falta de ar e o médico resolveu encaminhá-lo para a UTI como precaução. Com o jeito alegre de sempre disse: “Rapaz, não fala que você tá bom, não, senão eles vão perguntar porque te encaminhei para a UTI sem gravidade”.

Mas no outro dia houve piora do quadro respiratório, o rapaz passou 20 dias entubado e morreu. “Foi uma experiência triste, pesada, difícil. A enfermeira amiga pediu demissão porque não conseguia trabalhar nessa situação”, relata.

Leia MaisPapa: alívio oferecido por Jesus não é apenas psicológico ou esmolaO toque que curaVarejo e serviços de SP registram queda no faturamento em abril A escada da oraçãoOs pequenos do Reino“A única forma de combatermos o vírus é não transmitirmos”, lembra o médico. Por isso são necessárias as diversas formas de proteção e cuidado. “Nós, profissionais da saúde, não queremos aplausos e agradecimentos, precisamos que as pessoas respeitem as regras e as ordens de quem estuda e sabe o que tá falando. Não é uma questão política, é de sobrevivência. Pedimos o respeito”.

Vai passar e vai dar tudo certo, mas com o tempo. “Essas mudanças e dificuldades nos ajudam. Muitas pessoas sofrerão, muitas pessoas vão morrer, muitas feridas serão abertas e depois cicatrizadas. Só o tempo vai dizer como sairemos”, conclui o médico pneumologista Fernando Santella.

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Escrito por
Paulo Teixeira
Paulo Teixeira

Jornalista formado na Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM), atua como editor responsável das revistas O Mílite e Jovem Mílite há mais de quatro anos. É autor do livro "A comunicação na América Latina".

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