Formação

Jonas e os profetas menores

A profecia na Bíblia é formada por um gênero literário próprio. Temos profetas maiores e menores. Eles são classificados assim não pela quantidade de capítulos, mas sim, pela intensidade da sua ação profética de denúncia e anúncio.

Irmã Rosani Becker (Arquivo Pessoal)

Escrito por Irmã Rosani Becker

02 AGO 2018 - 10H14 (Atualizada em 27 AGO 2021 - 10H05)

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“Eu sabia que só tu és um Deus benévolo e misericordioso, lento para a cólera, cheio de amor e que se arrepende do mal” (Jn 4,2).

A profecia na Bíblia é formada por um gênero literário próprio. Temos profetas maiores e menores. Eles são classificados assim não pela quantidade de capítulos, mas sim, pela intensidade da sua ação profética de denúncia e anúncio. A profecia ocupa boa parte dos textos sagrados. Temos os livros especificamente proféticos, mas também temos várias perícopes imbuídas pela profecia ao longo da Sagrada Escritura. Jesus foi o profeta por excelência.

Embora a teologia oficial, com o apoio dos persas, se impusesse, a linha da teologia camponesa em defesa da vida, manifestava-se mais amplamente nas novelas bíblicas como as de Rute, Jonas e Cântico dos Cânticos. Após o fim do domínio persa, com a vitória de Alexandre, o grande, em 333 a.C., a Judeia passou ao domínio dos gregos. E na luta contra a imposição da cultura grega pelos reis Selêucidas (200-142 a.C.).

Jonas trata de um tema que também é comum a Rute e por isso se supõe que seus autores devem ser dos mesmos círculos da resistência popular. Sua teologia está enraizada no movimento profético que segue a linha teológica do livro de Isaías. Por trás de Jonas, certamente devemos situar também os grupos de resistência dos samaritanos e outros grupos étnicos que o judaísmo pós-exílico foi discriminando cada vez mais.

Como sua crítica irônica se dirige especialmente aos teólogos exclusivistas do templo de Jerusalém e isto faz com que livro possa ser situado em torno de 400 a.C.

Da mesma forma como Rute, o livro de Jonas é uma grande parábola. Seu conteúdo pode ser profético. Porém, Jonas não é profeta. Pelo contrário, sua atitude é racista e que, em vez de se alegrar com a inclusão de povos estrangeiros na universalidade de Javé, fica triste, aborrecido e quer morrer. O livro foi considerado profético pela tradição de Israel porque em 2Rs 14,25 se fala de um profeta que tem o mesmo nome do personagem principal dessa história. Mas o livro de Jonas não tem nada a ver com aquele profeta da corte de Jeroboão II (782-753 a.C.). Toda obra dele se desenvolve em torno de um grande tema. É a postura nacionalista e racista da comunidade judaica em torno do segundo templo em Jerusalém (Esd 4, 1-3; Ne 13,3). Jonas é como que a personificação dessa atitude mesquinha. Na verdade, Jonas representa a posição de Neemias e Esdras, que consideram como o verdadeiro Israel somente a comunidade de Israel repatriada em torno de Sião. O profético no livro de Jonas é o anúncio do projeto de Javé para todos os povos. Inclusive aos impérios de ontem e de hoje simbolizados por Nínive, a capital do antigo império Assírio. Os impérios precisam deixar de praticar a violência. Devem aderir ao projeto de justiça e de amor, de respeito e de promoção da vida. Somente quando deixarem sua prepotência e tirania, a fraternidade universal será possível. A fé nesse Deus da vida não é exclusivamente de nenhuma nação. Javé é misericordioso e não é Deus nacional de nenhum povo. É Deus de toda humanidade.

A missão que Deus confia a Jonas é denunciar a maldade, as injustiças da cidade de Nínive, símbolo dos impérios que oprimem. Como Jonas encarna e teologia exclusivista própria do período do segundo templo, ele não concorda com a possibilidade de estrangeiros, e ainda mais, opressores do seu povo, virem a se converter a Javé. Por isso foge para Társis, na direção oposta de Nínive. Társis quer dizer “refinaria”. É uma referência às colônias fenícios no ocidente que forneciam metais a Tiro (Is 23, 1.10; Ez 27,13; 38,13).

Como nos relacionamos com quem não é do nosso país ou no nosso credo? Qual a política dos países centrais em relação aos migrantes de países periféricos? Como encarar hoje as diferentes formas com que as diversas culturas expressam sua fé?

Escrito por
Irmã Rosani Becker (Arquivo Pessoal)
Irmã Rosani Becker

Irmã Maria Rosani Becker é religiosa desde 1983 da Congregação das Irmãs Franciscanas da Beata Angelina. Formada em Serviço Social, Ciências Religiosas, possui especialização em Sagrada Escritura e Línguas Bíblicas. Atuou como missionária na Itália e em Madagascar. Atualmente atua diretamente na Ação Social do Instituto Bom Pastor em Curitiba - PR.

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