Escutar com o coração

Frei Flávio Venâncio
Franciscano Menor Conventual

Todo o ano no Dia da Ascensão de Jesus é celebrado o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Isso se deve ao fato de Jesus enviar os Seus discípulos pelo mundo inteiro e nesse caminho devem anunciar e fazer novos seguidores de Cristo.

A Igreja começa a crescer e ter novos discípulos através do anúncio. E, hoje, temos tantas redes e lugares para fazer esse anúncio. Essa é a 56ª mensagem do Papa para esse dia.

Diálogo

No início da sua carta, o Papa recorda a sua mensagem do ano passado, em que ele falava sobre enxergar a realidade. Ver os acontecimentos a partir da realidade, e não se deixar levar por fake news. A mensagem desse ano segue a lógica do ano passado, como se fosse um segundo capítulo. Por isso, o Papa diz que o próximo passo é escutar com o coração. Escutar para que haja a possibilidade de diálogo e, quando andamos pelas nossas cidades percebemos muitas pessoas que andam com fones, pois hoje a oferta de escuta é muito grande.

Ouvir com o coração

Não basta escutar um podcast ou uma música. Um fato importante é escutar o coração. Ouvir o coração nos abre ao diálogo com Deus, entrar na nossa intimidade, na nossa profundidade e entender que desde a nossa criação Deus nos chama para escutá-lo. Esse é o caminho vocacional do povo de Israel: “Ouve, Israel: o Senhor nosso Deus” (Dt 6,4). Deus sempre se comunicou com Seu povo, porém, precisamos escutá-lo. Deus ama a humanidade e cada pessoa, por isso dirige Sua Palavra que cura e nos faz criaturas novas. Quando o homem foge da relação com Deus acaba fugindo de si e se fecha ao diálogo.

Ao se fechar para o diálogo, o homem começa a sua agressão verbal ao outro. O Papa nos deixa o exemplo de Santo Estevão que testemunhou a fé em Jesus Cristo, mas as outras pessoas estavam fechadas para escutá-lo e ocorreu o martírio dele. O Papa diz que hoje existe uma surdez interior em que esquecemos e acabamos nos afastando uns dos outros. O Papa nos recorda a frase de Salomão que pede “um coração que escuta” (1Rs 3,9). Santo Agostinho diz que é necessário escutar com o coração; e São Francisco de Assis diz aos frades que devem inclinar o ouvido do coração. Todas essas expressões mostram que é preciso escutar o nosso interior e quando isso acontece ocorre o nosso crescimento espiritual e humano, pois buscamos o que mais desejamos, sonhamos e planejamos em nossas vidas.

Comunicação

Após essa base teológica, o Papa começa um outro ponto que é escutar como condição da boa comunicação. Existem pessoas reais e verdadeiras com as quais lidamos todos os dias, e o que se percebe é que no nosso cotidiano há uma falta de escuta. São poucos os lugares onde podemos dialogar e infelizmente ocorrem muitos monólogos. Não se comunica sem escutar o outro. Em meio à pandemia são tantas as pessoas que querem ser escutadas, pois diante das dores e sofrimentos devemos ter essa dimensão de buscar escutar o outro.

Sínodo

Por fim, o Papa escreve sobre escutar-se na Igreja. E ele relata que também na Igreja há espaços em que há necessidade de escuta, mas que também a Igreja precisa ser escutada em muitos ambientes. A escuta é um dom que Deus nos dá e, por isso, precisamos nos colocar na escuta do outro. Assim, o Papa nos recorda o apostolado da escuta que é um gesto de caridade dentro da dimensão pastoral da Igreja.

Dentro do processo sinodal pelo qual vivemos como Igreja, a escuta se faz necessária, mas essa escuta não pode ser apenas de programas ou estratégias para evangelização, mas uma escuta dos sonhos e das esperanças das pessoas, para uma Igreja que toque em harmonia com os diversos dons dos irmãos.