Formação

Os jesuítas e a educação

Educação e tecnologia

Escrito por Espiritualidade

16 NOV 2019 - 21H00 (Atualizada em 24 AGO 2021 - 13H19)

Quando falamos de educação moderna pensamos em professores dinâmicos, que conheçam a tecnologia, com proposta a frente de seu tempo, que falem a língua dos seus educandos, mesmo sem entender bem o que esses conceitos significam. Pois bem todos esses aspectos citados por mim são encontrados no método pedagógico dos jesuítas intitulado, Ratio Studiorum, que tem em sua base muito do que foi criado por São José de Anchieta em seu programa de evangelizar os nativos encontrados por ele em nossa terra.

São José de Anchieta foi responsável por introduzir algumas ideias inovadoras para educar. Por exemplo, ele escrevia canções evangelizadoras se utilizando de melodias das canções populares que existiam na época. Foi o primeiro evangelizador a conhecer a língua de seu educando, para evangelizar os índios ele aprendeu a língua nativa e fez inclusive uma gramática da língua tupi para que os novos missionários pudessem se preparar para a expansão da missão.

O Padre Antônio Vieira tornou-se famoso pelas peças de teatro que compôs se utilizando dos autos de fé tradicionais do catolicismo, mas se utilizando dos temas que poderiam ser assimilados pelos nativos, assim o bem, mal, Deus, misericórdia era tratados com as histórias que os índios já conheciam. Padre Antônio Vieira mesclava o cristianismo com a cultura indígena, tornando o processo de evangelização possível. Inclusive, toda a mitologia indígena que ainda temos conhecimento, as várias nações que viviam no Brasil, suas tradições, estrutura social, conflitos, somente são conhecidos por que os jesuítas mantiveram registro de todo esse contato e interação entre os jesuítas e nativos.

Voltando a São José de Anchieta que aprendeu a língua tupi para falar com os nativos brasileiros, fato que vai antecipar em 500 anos o Concílio do Vaticano II, onde a língua oficial da Igreja deixa de ser o latim para seguir a língua do seu povo, onde está o povo, no Brasil, se fala português então, as missas e todo os ritos da Igreja serão realizados em português, valendo tal conceito para todos os países onde a Igreja tem suas missões e assim por diante.

Quando hoje as crianças nas escolas cantam para apreender estão utilizando um método anchietano, São José de Anchieta passava as noites escrevendo as canções e distribuindo durante o dia para que o povo, todos aqueles que viviam no Brasil daquela época, portugueses, nativos, negros, mestiços, aprendessem as canções.

Entre as várias estratégias jesuíticas uma me chama mais a atenção. As crianças nativas recebiam a mesma instrução que os filhos dos ricos portugueses que aqui viviam, esse comentário pode parecer absurdo nos tempos atuais, mas nos tempos de Anchieta, Manoel da Nóbrega e Antônio Vieira, havia uma grande discussão no mundo acadêmico questionando se os nativos possuíam ou não alma. É verdade, você entendeu bem, muitos teóricos, médicos, professores, questionavam se o índio possuía ou não alma, mas por que essa questão era tão importante? Porque se o índio não tem alma, não tem capacidade de aprendizado, se não é capaz de aprender, não pode ser tratado como igual e se não pode ser tratado como igual pode ser escravizado.

Todo o processo de evangelização jesuíta também tinha como foco proteger os nativos da escravização portuguesa. Assim algumas coisas realmente aconteceram, como os batizados realizados para toda uma tribo que foi uma estratégia dos jesuítas para que com o batismo os nativos fosse considerados cristãos porque o rei português determinou que todo nativo cristianizado não deveria ser escravizado.

Retomando o foco para a educação, São José de Anchieta foi o primeiro a perceber o perigo de uma criança não receber cuidados, educação e atenção devida. Em seu tempo de evangelizador ele enfrentava um grande problema, os portugueses que aqui vieram tomavam como “mulheres” índias, as crianças frutos desses relacionamentos não eram reconhecidas como filhos legítimos pelos pais portugueses, sendo considerados “bastardos”, no sentido de que não tinham direito a herança e também não eram aceitos como índios pelas tribos de suas mães, resultado, serão essas as primeiras crianças abandonadas de nossa Pátria, quem olhou por essas crianças? Os padres jesuítas que criaram casas próximas aos colégios para que esses brasileiros renegados por seus pais e mães tivessem educação, cuidado e oportunidade. Consta de algumas cartas entre os jesuítas que o grande sonho do Padre Manoel da Nóbrega era ter alguns desses brasileirinhos ordenados como sacerdote jesuíta, sonho que ele não viu realizado em sua vida.

Devemos ressaltar que esse contato e modo de evangelizar, se utilizando de meios lúdicos como jogos, canções, teatros e o aprendizado da língua do educando vai servir como base para toda a missão evangelizadora jesuítica, que naquele tempo estava em expansão, assim no Japão, Índia, América, os jesuítas vão estabelecer “procedimentos” para a evangelização; posso afirmar que o sistema funcionou e funciona ainda hoje e, serviu como base para muito do que hoje aplicamos nas escolas.

São José de Anchieta quando chegou ao Brasil era um jovem contando apenas com apenas 19 anos, de saúde frágil e pequena estatura, entretanto Padre Manoel da Nóbrega reconheceu naquele jovem a capacidade intelectual do educador que aprende com o educando. O missionário que se oferece plenamente ao Criador para que dele possa se utilizar no processo de evangelizar, esse homem que se tornou o pai da pedagogia brasileira, retratado por tantos grandes artistas brasileiros, deu a nós a fundação do conceito de ser “Brasileiro”, aquele que aceita a diferença dos outros, aprende com eles, reconhece a potencialidade de todos os seres e fez um dos seus pilares a de um povo mestiço com orgulho, onde todo aquele que nele chega se torna brasileiro por amor a um país imenso e com uma grande miscelânea cultural que lhe torna rico e único.

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