A espiritualidade do advento

A preparação para a vinda gloriosa do Messias e para o nascimento de Jesus é o tema fundamental da teologia e espiritualidade do advento. A Igreja se sente submersa na escuta da palavra de Deus, na esperança do Messias anunciado pelos profetas, recorda os pais da nossa fé, faz memória do pequeno grupo dos pobres de Javé, que aguarda o cumprimento da profecia, Zacarias e Isabel, José e Maria, o velho Simeão e a profetisa Ana. 

Vamos tomar como ponto de partida a palavra advento, do latim adventus, que significa vinda, chegada, mas com sentido de presença. Ela indica presente e futuro, posse e expectativa. Em sua origem, advento é a tradução da palavra grega parusia que significa presença, ou melhor, chegada. Na antiguidade, ela era usada para designar a presença de um rei, ou de um deus ao qual se prestava culto. O advento celebra o “já” e o “ainda não” da nossa salvação.

O advento nos recorda duas coisas importantes: primeiro, que a presença de Deus no mundo já começou e que Ele já está presente de maneira oculta; segundo, que essa presença de Deus acaba de começar, porém, não de maneira plena, está em processo de crescimento e amadurecimento. A liturgia do advento nos conduz para a centralidade do Cristo na nossa fé. Nas celebrações, são recordados continuamente os títulos messiânicos através das leituras bíblicas e das antífonas próprias da missa, Jesus é o Messias, libertador, esperado das nações, anunciado pelos profetas e revelado pelo Pai. Juntamente com a natal e a epifania, o advento é a celebração da totalidade do mistério cristão; celebramos a manifestação do Senhor, a memória, a presença e a esperança de Cristo.

O tempo do advento é mais que preparação para o nascimento de Jesus em Belém, é expectativa pela realização do mistério da redenção. São Cirilo de Jerusalém, em suas catequeses, propõe que não se limite meditar apenas a primeira vinda, mas viver na expectativa da segunda vinda, aquela gloriosa. Os dois acontecimentos estão em relação estreita, se completam entre si, no fundo evocam a mesma realidade.

Hoje, num mundo marcado pela posse imediata do que é desejado, praticamente todas as coisas podem ser obtidas por meio de pagamento, é difícil imaginar a possibilidade de alegria na expectativa. O homem não tem mais tempo para expectativas, quem espera algo dificilmente consegue fazê-lo na alegria. Para o cristão deveria ser diferente, sua expectativa é vivida na esperança da realização daquilo que já é de algum modo possuído. A alegria da nossa expectativa nos é dada pela certeza da presença. Alegrai-vos sempre no Senhor (...), o Senhor está próximo. A esperança do cristão o impele a sair de si mesmo e ir ao encontro daquele que vem. Ela nos coloca a caminho do encontro com Cristo. O grito de Israel, na expectativa do Messias, abre a liturgia do advento e é para nós cristãos um contínuo convite a alimentar a nossa esperança do retorno do Cristo na sua glória.

A devoção popular com as famosas antífonas do “Oh!”, rezadas pelo povo especialmente nos últimos dias que antecedem ao natal, pede à sabedoria divina que nos mostre o caminho da salvação; à chave de Davi que nos livre do cativeiro; ao sol que nasce do alto que venha a iluminar nossas trevas e sombras de morte. A liturgia deste tempo nos coloca na expectativa da manifestação plena de Deus na nossa história. Somos convidados a suspirar diariamente, como nossos pais na fé, “das alturas orvalhem os céus e as nuvens derramem a justiça, que da terra brote a salvação”. Senhor, mostra teu poder e vem.