Por Frei Aloísio Oliveira Em Formação

Crer em Jesus, para possuir a vida eterna




No livro dos Números há uma passagem em que as pessoas que murmuravam contra Deus e Moisés eram castigadas pela mordida mortal de uma serpente. O Senhor Deus, porém, se compadeceu do povo e mandou que Moisés fizesse uma serpente de bronze e a pendurasse em uma vara.

Assim, quem quer que fosse mordido, ao olhar para a serpente de bronze colocada na ponta da haste, ficava curado. O livro da Sabedoria explica que os hebreus viam, nesse episódio, apenas um sinal da salvação de Deus: “aquele que se voltava para a serpente não era salvo por aquilo em que estava olhando, mas por ti, o Salvador de todos” (Sb 16,7).

Sem dúvida, esta citação, do Livro da Sabedoria é o fio condutor que orientou a interpretação cristã que viu em Jesus, elevado na cruz, o significado da serpente erguida que salva da morte.

Bebendo dessas fontes bíblicas, São João diz que a condição para ter a vida eterna é crer no Filho Único de Deus (cf. Jo 3,15). Ele é um filho elevado na cruz, como o próprio evangelista deixará claro, posteriormente, que a fé consiste em ver o crucificado: eles olharão para Aquele que traspassaram (cf. Jo 19,37).

O envio desse Filho único ao mundo é consequência do amor de Deus (cf. Jo 3,16), que quer a salvação e a vida do mundo: “pois Ele não enviou o seu Filho ao mundo, para julgá-lo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele” (Jo 3,17).

Ao se falar que o relacionamento de Deus com o mundo é baseado no amor e não no julgamento, aborda-se em cheio outro importante tema bíblico: o juízo. Embora Deus não julgue e o Filho também não (cf. Jo 3,17; 12,47), há um julgamento que se dá pela tomada de posição, por parte do ser humano, diante da presença do Enviado de Deus: “Quem nele crer não é julgado, mas quem não crer já está julgado, porque não creu no nome do Filho Único de Deus” (Jo 3,18). Esse “julgamento” aconteceu para ouvintes de Jesus quando ele exerceu seu ministério e acontece para as pessoas de todos os tempos a quem o Evangelho é anunciado.

Essa concepção do julgamento, como tomada pessoal de posição diante da oferta de Deus, lança raízes na própria revelação da Aliança como é descrita no livro do Deuteronômio: “vê, eu coloquei hoje diante de ti a vida e a felicidade, a morte e a infelicidade. Se obedeceres aos mandamentos do Senhor, viverás. Mas se teu coração se desviar e não escutares, certamente perecereis. Chamo hoje como testemunha contra vós o céu e a terra: foi a vida e a morte que coloquei diante de ti” (cf. Dt 30,15-19).

Como se vê, a Israel, como representante de toda a humanidade, é proposta uma tomada de decisão pessoal em relação a Deus; assumir a Lei, que é luz (cf. Sl 119,105); cumprir fielmente os preceitos, revelados por Deus, é o meio pelo qual o homem poderá atingir uma plenitude que não possui, e assim realizar seu profundo desejo de “vida”; e, ao contrário, fugir a isso equivale a escolher a morte.

Seguindo um esquema semelhante, João apresenta a revelação: na vinda do Filho a este mundo, na sua mensagem e itinerário, revelou-se o próprio amor de Deus; na sua presença sobre a terra condensa-se, de certa forma, o desejo de Deus de salvar o mundo.

A condição agora imposta refere-se, tal como antigamente, à atitude pessoal do homem; mas já não se trata de um conjunto de preceitos, por mais sagrados que sejam, trata-se de acreditar no Filho, o que equivale a acreditar no amor revelado.

Escrito por
Frei Aloísio, Ministro Provincial
Frei Aloísio Oliveira

É Ministro Provincial da Província São Francisco de Assis dos Frades Menores Conventuais e especialista em Sagrada Escritura.

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