Formação

Por que temos salmos na Bíblia?

Os Salmos fazem parte de um gênero literário próprio para expressar a alma do povo em meio às tantas dificuldades, crises, incertezas e provações.

Escrito por Espiritualidade

29 JUN 2018 - 12H00 (Atualizada em 27 AGO 2021 - 11H05)

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Os Salmos fazem parte de um gênero literário próprio para expressar a alma do povo em meio às tantas dificuldades, crises, incertezas e provações. Diante dos desafios da caminhada, rezam, cantam e vivem da poesia que produz ânimo, vitalidade, resistência e alegria.

Chamamos de livro dos Salmos, título em hebraico (Tehillîm) que significa “louvores”. São orações que tem um único objetivo: manter viva a fé na caminhada rumo aos novos céus e nova terra! É o alimento para permanecer ligados à promessa divina nas mais diferentes situações.

Certamente é um dos livros mais rezados e estudados. Este livro pode ser dividido em cinco coleções. Por trás dessa divisão está a ideia dos sacerdotes e levitas em editar o saltério (hinos), imitando os livros da Lei, o Pentateuco. Os salmos são considerados a dimensão orante da lei. Eles são ao mesmo tempo, uma síntese da história de Israel, da sua profecia, de sua sabedoria e da sua Lei. Muitos deles fazem referências à lei: Sl 1,2; 19,8; 37,31; 40,9; 78, 1.5.10; 94,12 e todo Sl 119. Além dos 150 salmos do saltério, há muitas orações nos demais livros da Bíblia. Eis alguns: Ex 15,1-21; Jz 5,1-31; 1Sm 2,1-10; Lc 1,46-55; várias coletâneas contribuíram para a edição do saltério. Porém, antes da edição final do saltério, muitos cancioneiros já existiam e eram usados por diferentes grupos e também para a espiritualidade pessoal.

Nos salmos transparece o rosto de Deus, deixando-nos entrever a experiência que o povo teve de Deus na longa caminhada histórica e também nas pequenas crises da caminhada cotidiana. Dessa forma, os salmos nos revelam o amor de Deus para com o povo e o amor do povo para com Deus. Inúmeras são as imagens que trazem do rosto de Deus.

Quem reza um salmo está sempre perguntando: Quais são os traços do rosto de Deus que transparecem em minha prece? E na minha vida? Na minha comunidade? Por isso, ao longo dos séculos a oração com o saltério sempre esteve presente nos vários horários do dia.

Os salmos nos trazem orações messiânicas, na sua tríplice dimensão batismal: profética, sacerdotal e régia. São orações que nos ajudam a viver melhor nosso compromisso cristão. O povo reza a partir de tudo o que se faz presente na vida e na história, revelando e celebrando a presença de Deus, do começo ao fim de nossa caminhada aqui na terra.

Eis um pequeno esquema para quem desejar aprofundar as orações sálmicas:

• Sl 3-41 Este cancioneiro é conhecido por “Saltério de Davi”. Exceto o Sl 33, todos os demais são atribuídos a Davi.

• Sl 42-89 esta coletânea de orações é chamada de “Saltério Eloísta” porque para referir-se a Deus, usa o nome de Elohim (textos hebraicos). Dentro desse cancioneiro, podemos ainda perceber as seguintes subdivisões:

- Sl 42-49; 84-85; 87-88: São os “Salmos dos filhos de Coré”. É possível que seja o cancioneiro desse grupo de cantores.

- Sl 50 e 73-80: São os “Salmos de Asaf”. É provável que tenha sido o livro de cantos desse grupo de levitas cantores.

- Sl 51-72; este é mais um “Saltério de Davi”, exceto os Sl 66-67 e 72, todos os demais são atribuídos ao patrono do culto.

• Outras coleções de Salmos:

- Sl 90-104: Esta coleção reúne vários hinos monoteístas.

- Sl 108-110 e 138-145: É um 3º “Saltério de Davi”.

- Sl 120-134: Cancioneiro dos “Cantos de subida ou de peregrinação”.

- Sl 105-107; 111-114; 116-118; 135-136 e 146-149: São os “Aleluias”, que convidam ao louvor de Deus.

Esta junção de coleções pré-existentes explica certas repetições. Por exemplo, que o Sl 14 se repete no Sl 53. O Sl 70 está repetido em Sl 40,14-18. O Sl 57,8-12 se repete no Sl 108,2-6. O Sl 60,7-14 está repetido do Sl 108,7-14.

Estes cânticos nos revelam a espiritualidade do povo de Israel. Eles são o coração do Primeiro Testamento. Eles são o cotidiano da vida transformado em oração. Toda vida de Israel está espelhada nos salmos, que estão profundamente enraizados na experiência do dia a dia. Talvez seja por isso que são tão espontâneos. Diferentes situações da vida, como a alegria, as dores, as esperanças, as vitórias e derrotas, são transformadas em oração de louvor, de ação de graças, de súplica, de lamento e de confiança. Também os lugares de formação dos salmos são os mais diversos. Eles nasceram no campo, na cidade, na terra de Israel, na Babilônia. Podemos comparar os salmos com a água de um rio, pois percorrem e fertilizam a história, a mística, a vida das pessoas e comunidades que os rezam. Há alguns salmos muito antigos e são anteriores à monarquia. Vários salmos sofreram um longo processo de formação e com o passar dos anos, foram modificados e reinterpretados.

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