Por Frei Aloísio Oliveira Em Formação

Ascensão do Senhor ao céu: separação e presença real

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Na sua reflexão do Evangelho (Mc 16,15-20) deste domingo (16), Frei Aloisio de Oliveira destaca que com sua ascensão ao céu, Jesus ressuscitado assenta-se à direita de Deus Pai (cf. Mc 16,19), participando plenamente do poder divino universal. Por isso, ordena a seus discípulos que anunciem o Evangelho a todo o mundo.

Diante do anúncio do evangelho só há duas posições possíveis: fé ou incredulidade. Fé, nesse contexto, é entendida como aceitação da soberania universal de Cristo, que implica em acolher a Palavra do evangelho e receber o batismo.

Assim, fé e batismo é a condição para a salvação, a saber, para a participação na Vida Nova comunicada pelo Ressuscitado (cf. Mc 16,16). Ao contrário, incredulidade significa rejeição da soberania universal do Cristo ressuscitado e recusa da sua Palavra que resultam na condenação, isto é, na exclusão da Vida por Ele comunicada.

Muitos sinais prodigiosos vão seguir à acolhida da fé: exorcismos, cura de doentes pela imposição das mãos, possibilidade de falar outras línguas e imunidade a venenos letais (cf. Mc 16,17-18).

É necessário observar atentamente o que o texto diz: tais sinais serão proporcionados aos que tiverem crido (cf. Mc 16,17a). Portanto, a fé é anterior aos prodígios e não depende deles. É a fé que ilumina os sinais tornando possível ver o que revelam.

Os sinais, em si mesmos, permanecem mudos e incapazes de conduzir à fé. Haja vista que em face aos milagres realizados por Jesus, houve quem não os reconheceu, mas atribuindo-os ao poder de Belzebu (cf. Mc 3,22), não se despertou para a fé.

Não há vínculo imediato entre sinal prodigioso e experiência de fé. É a fé que possibilita ver o prodígio. Portanto, pretender uma fé dependente de milagres é andar na contramão, uma experiência que se demonstrará desastrosa.

Depois do envio dos discípulos em missão por todo o mundo, o Ressuscitado “foi elevado ao céu e assentou-se à direita de Deus” (Mc 16,19). Se, como foi dito, a subida de Jesus ao céu e sua entronização ao lado de Deus significa, por um lado, a participação plena no poder divino universal, por outro, assinala a experiência de uma separação necessária entre o Mestre e seus discípulos.

Com efeito, a vida de uma pessoa só assume seu pleno sentido quando chega a seu desfecho decisivo: a morte. O tempo da ausência é necessário para que a presença se torne propriamente real.

Eis um aspecto misterioso da condição humana: enquanto as pessoas que, na vida, se encontraram fisicamente não se distanciam uma da outra, permanecem no nível tátil, superficial. Era isso que ocorria com os discípulos em relação a seu Mestre.

Eles não podiam chegar a um conhecimento total, espiritual enquanto mantinham a adesão sensível. Este vínculo é incompleto, dependente. É necessária a prova do distanciamento.

Esta condição humana se verifica, inclusive, na relação dos pais com os filhos como em toda relação de afeto. A verdadeira presença se realiza por meio da ausência. É assim que a ascensão ao céu, como separação de Jesus e seus discípulos, é condição para que eles recebam o Espírito prometido pelo Pai, sejam revestidos da força do alto e experimentem a “presença real” de Jesus.

Escrito por
Frei Aloísio, Ministro Provincial
Frei Aloísio Oliveira

É Ministro Provincial da Província São Francisco de Assis dos Frades Menores Conventuais e especialista em Sagrada Escritura.

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