Na Paixão de Jesus, é representado o drama extremo do bem e do mal, da vida e da morte. Com sua morte e ressurreição, Jesus delineia o destino do homem.
Desde o início, o mal, personificado em Satanás, persegue Jesus no deserto, e a ferrenha oposição demoníaca manifesta-se em seu ministério pelos conflitos frequentes e pela libertação dos possuídos.
O combate definitivo, porém, será na Paixão. Depois da tentativa fracassada de seduzir Jesus no deserto, Satanás retira-se para retornar no momento mais “crucial” da vida de Jesus, isto é, na Paixão, quando Satanás entra em Judas e aciona o terrível mecanismo da traição e da morte.
A presença ameaçadora do mal, camuflada por semblantes humanos, serpeia por meio dos fatos: a traição insensata de Judas, a fraqueza dos discípulos, a implacável hostilidade dos chefes, o consentimento da multidão, a covardia e o ato de injustiça final de Pilatos, os escárnios sem-fim infligidos a um homem que morre.
Que haja nisso algo mais que a simples fraqueza humana e o cálculo errado, as próprias palavras de Jesus o acenam. Ele prenuncia aos discípulos que na Paixão, que já está próxima, enfrentará a luta extrema entre a vida e a morte, entre o bem e o mal: Ele padecerá o suplício da Paixão e os discípulos serão dispersos (cf. Mc 14,26-27).
Mesmo mostrando um Jesus senhor do próprio destino, a narração evangélica não subestima o papel agressivo e desconcertante que o mal e o sofrimento exercem sobre a experiência humana. Ao mesmo tempo, toda a perspectiva da narrativa da Paixão não deixa dúvidas sobre a derrota do mal, o qual parece descarregar toda a sua fúria contra Jesus, o Filho de Deus. Pelo poder do amor de Deus, o poder da morte é destruído, para todo homem e todo tempo.
O triunfo sobre o mal se manifesta logo após a morte de Jesus: o véu do templo se rasga de alto a baixo, isto é, em Jesus Crucificado, Deus se revela plenamente e um pagão o declara: “De fato, este homem era Filho de Deus” (Mc 15,39). Jerusalém, a cidade assassina de profetas, onde o Filho de Deus é rejeitado e crucificado, torna-se a Cidade Santa, o lugar da manifestação da ressurreição (cf. Mc 16,9-14).
Desenvolvendo, o drama da vida e da morte, a Paixão de Jesus proclama o sentido pleno do Evangelho. Em Jesus, o Filho de Deus é representada toda a esperança da humanidade. O encontro de Jesus com o mal e com a morte é previsão de todo o destino humano.
A injustiça, o sofrimento, a morte são realidades dolorosas, e a história da Paixão o reconhece, mas elas não têm a última palavra sobre o destino do ser humano. Isto é claramente demonstrado no drama da Paixão em que Deus atua à revelia das forças do mal, as quais revelam contraditoriamente o poder de Deus e do Seu Cristo.
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