Esse trecho do Evangelho começa descrevendo o murmúrio, ou seja, a resistência dos ouvintes de Jesus para aceitar Sua declaração: “Eu sou o pão da vida” (Jo 6,35). Por essa atitude, eles se assemelham aos seus antepassados que, atormentados pela fome, no deserto, censuravam Moisés por tê-los feito sair do Egito.
A ligação entre as duas passagens bíblicas é a falta de fé. No deserto, os hebreus “murmuravam” contra Moisés, o qual lhes respondeu que não é contra ele que estavam “murmurando”, mas contra Deus (cf. Ex 16,7-8). Desta forma, o verbo “murmurar”, nesse trecho do evangelho, indica que recusar a crer em Jesus é recusar a aderir aos desígnios do próprio Deus.
Em seguida, Jesus afirma que a adesão a Ele é fruto de uma “atração” exercida por Deus: “Ninguém vem a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair” (Jo 6,44). Ora, a “atração” divina, na Escritura, é inseparável do amor, do qual é expressão. Com efeito, disse Deus a Israel: “Eu te amei com um amor eterno, por isso te atraí em minha misericórdia” (Jr 38,3). Isso significa que se para praticar as obras da Lei, exteriormente, poderia bastar o esforço humano, para crer em Jesus, porém, é necessária a intervenção do Pai. Pois acolher Jesus é entrar no mistério divino, o que é impossível sem que Deus mesmo abra o acesso.
Crer não é apenas realizar algumas boas obras externas ou fazer experiência de ser “ajudado por Deus” em determinadas situações ou empreendimentos humanos. A vida na fé é obra inteira de Deus.
Enquanto esperaríamos uma explicação extraordinária e sublime dessa “atração divina”, a sequência do texto fala sobriamente da escuta da Palavra: “Quem escuta o ensinamento do Pai e d’Ele aprende vem a mim” (Jo 6,45b). Isso significa que o ensinamento do Pai transmitido a Israel, isto é, as Sagradas Escrituras, quando devidamente assimiladas, levam ao Filho. Pela vinda do Filho ao mundo é chegado o tempo da plena compreensão da Palavra pela qual o próprio Pai se revela à humanidade. Comer o pão do céu, portanto, é assimilar as palavras de Jesus que comunicam a Vida divina, ou seja, a experiência do Amor de Deus, que enche nossa vida de sentido.
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