Por Túlia Savela Em Formação Atualizada em 03 MAR 2020 - 10H43

Pecado existe?

Bispo de Santo André fala sobre os perigos de se pensar que o pecado é uma invenção ou convenção




Por Dom Pedro Carlos Cipollini, Bispo da Diocese de Santo André

“Não existe pecado do lado de lá do Equador...”, cantava-se tempos atrás. Com o avanço da psicologia e da psiquiatria, estudadas nas Faculdades e aplicadas nos consultórios, o pecado caiu de moda. Deus morreu, sentenciou o filósofo. Com seu desaparecimento, já que o pecado é desobediência a Deus, o pecado acabou. Esta é a reação a um moralismo excessivo, antievangélico de tempos passados, no qual a ideia de pecado era usada não raro, para que, através do medo, a obediência fosse praticada. Isto sim é hoje superado no ensinamento e pastoral da Igreja.

Necessitamos cautela ao falar da culpabilidade da pessoa, levando-se em conta condicionamentos psicológicos e sociais, sim. A liberdade do indivíduo é misteriosa e, por isso, Cristo proíbe condenar as ações dos outros: “não julgueis e não sereis julgados” (Mt 7,1).

Porém, o pecado existe. A Bíblia, do começo ao fim seria incompreensível, se não existisse o pecado como recusa do homem ao amor de Deus. Jesus é apresentado como aquele que tira o pecado do mundo (cf. Jo l,29), diz que não veio chamar justos mas pecadores (cf. Mc 2,17). Mais que teorizar sobre o pecado, Jesus o enfrenta. Mostra que o pecado é mal por excelência, corrompe, fazendo as pessoas se enfrentarem em lutas mortais, no esquecimento de Deus.

Podemos caracterizar o pecado como “aversão a Deus e conversão às criaturas”, as quais, acabam tomando o lugar de Deus no coração da pessoa, degradando sua vida. Com esta troca, instala-se uma frustração fundamental que arruína a pessoa no seu ser moral, impossibilitando a convivência feliz da pessoa consigo mesma, com os outros, com a natureza e com Deus.

Negando-se ao amor para o qual foi criada a pessoa fica desequilibrada em todo o seu ser. Na grande Tradição da Igreja os pecados são resumidos na sua visibilidade e consequências como capitais, ou seja, são sete cabeças: soberba, vaidade, luxúria, ira, gula, preguiça e avareza.

Numa época de incrível inter-relacionamento e interação em rede, é preciso ressaltar que, se ontem o pecado tinha dimensão mais individualista, hoje possui uma ressonância sobretudo social.

O Papa São João Paulo II ensinou: “Pecados sociais são o fruto, a acumulação e concentração de muitos pecados pessoais” (cf. in AAS 77 (1985) p. 217)... “não será fora de propósito falar de estruturas de pecado” (cf. SRS n.36). Enfim, começa-se a ver um pouco além do “salve sua alma”, a salvação do indivíduo, para pensar na salvação com dimensões sociais: uma salvação integral que envolve não só o indivíduo, mas a Humanidade e toda a Criação.

Reflitamos tudo isto nesta quaresma. Boa quaresma!

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