Sacramento da esperança
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ADVENTO | História e esperança

Sacramento da esperança

Paulo Teixeira

Escrito por Paulo Teixeira

09 OUT 2018 - 13H20 (Atualizada em 14 JAN 2021 - 15H39)

Roger Van der Weyden

O advento é um tempo litúrgico típico da Igreja no Ocidente. No Oriente a Igreja faz apenas uma breve preparação para a festa do natal. A origem exata das celebrações do advento é incerta, as informações que temos à disposição são poucas, porém, já no século IV encontramos notícias do advento como preparação para a vinda gloriosa do Cristo e também como preparação para o nascimento de Jesus em Belém. 

Roger Van der Weyden
Roger Van der Weyden

As grandes festas do cristianismo são precedidas por um período de preparação. As festas de natal e epifania foram aos poucos ganhando relevância no conjunto das grandes festas cristãs, com isso surgiu a necessidade de um período de preparação, mais ou menos como o tempo da quaresma em relação à páscoa.

“Antes de constituir-se em Roma no decorrer dos séculos VI-VII, o advento já tinha sido precedido por várias experiências nas comunidades cristãs da Gália, da Espanha e também do norte da Itália. Temos informações a respeito no Liber Officiorum, atribuído por alguns pesquisadores a Hilário de Poitiers, sobre três semanas de práticas ascéticas e penitenciais em preparação à vinda do Senhor”

Os relatos sobre a celebração do natal são encontrados já no final do século IV, quando era celebrado em toda a Igreja, por alguns no dia 25 de dezembro, por outros no dia 6 de janeiro; a preparação para a festa do natal começou a ser indicada provavelmente nesta época. A respeito deste período de preparação existem informações nas atas do Concílio de Zaragoza, realizado em 380. O cânon quatro propõe aos fiéis a frequência na assembleia durante as três semanas que precediam a festa da epifania. Existem ainda algumas homilias, a maior parte de São Cesáreo, bispo de Arles (502-542), que convidam os fiéis a preparar-se para a celebração da festa do natal.

Não existia, no entanto, nenhuma lei geral para toda a Igreja sobre o tempo de preparação para a celebração do natal, por exemplo. O sínodo realizado em Macon, na Gália, em 581, no cânon nove, ordena aos fiéis que “desde o dia 11 de novembro (festa de São Martinho) até a festa do natal do Senhor, o sacrifício seja oferecido de acordo com o rito quaresmal nas segundas, quartas e sextas-feiras da semana”. O Sacramentário Gelasiano determina cinco domingos de preparação para o natal, que mais tarde foram reduzidos a quatro pelo Papa Gregório VII (1073-85).

O advento na sua origem possuía um caráter vagamente ascético, sem expressões litúrgicas; estava ligado a um período de preparação ao batismo que, segundo o costume da Igreja no Oriente, era celebrado na festa da epifania.

A respeito do seu significado original, alguns estudiosos optam pelo sentido de tempo de preparação para o nascimento de Jesus, outros pelo sentido de preparação para a vinda gloriosa de Cristo no fim dos tempos. O missal romano, na introdução geral, diz que “o tempo do advento possui dupla característica, sendo um tempo de preparação para as solenidades do natal, em que se comemora a primeira vinda do filho de Deus entre os homens, e também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda do Cristo no fim dos tempos; por este motivo, o tempo do advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa”.

As orações litúrgicas mais antigas do tempo do advento são encontradas nos Sacramentários Gelasiano e Gregoriano do século VI e VII. O tema que prevalece nelas é a última vinda do Senhor na sua glória, porém, a proximidade da festa do natal já impregna com seu conteúdo pelo menos o domingo precedente. Antigos lecionários de Würzburg e de Murbach, dos séculos VII e VIII, confirmam a dupla temática do advento com seus textos, a vinda do Senhor na carne e o seu retorno no fim dos tempos.

A fórmula de quatro semanas de preparação se impôs definitivamente nos missais dos séculos XII e XIII. Este uso foi posteriormente recebido pelo missal de Pio V (1570) e permaneceu até os dias atuais. O advento começa com as primeiras vésperas do domingo que cai no dia 30 de novembro ou no domingo que lhe fica mais próximo, terminando antes das primeiras vésperas do natal do Senhor; os dias da semana entre 17 e 24 de dezembro visam, inclusive de modo mais direto, a preparação imediata do natal do Senhor.

A teologia do tempo do advento possui uma riqueza profunda. Ela considera o conjunto completo do mistério da encarnação do Senhor na história até a sua conclusão. A Igreja celebra no tempo do advento a vinda plena de Deus para a salvação do homem em Jesus de Nazaré e com ela vivemos continuamente a tensão do “já”, da salvação completamente realizada em Cristo, e do “ainda não”, da realização da salvação em nós.

Escrito por
Paulo Teixeira
Paulo Teixeira

Jornalista formado na Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM), atua como editor responsável das revistas O Mílite e Jovem Mílite há mais de quatro anos. É autor do livro "A comunicação na América Latina".

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