Ao olharmos para Maria, especialmente a mulher de Nazaré, a qual nasce na origem da fé, o nosso olhar, a nossa contemplação se aproxima desta mulher solidária com a paixão de seus irmãos.
Eis um traço característico da espiritualidade mariana: a solidariedade para com os outros, especialmente quando estes são desfavorecidos pelas diferentes circunstâncias da vida.
Portanto, hoje mais do que nunca, nossa ação evangelizadora deve promover este tipo de espiritualidade, desprendida de todo tipo de subjetivismo e fechamento, de individualismo, e até mesmo desencarnada da vida quotidiana. Maria deve suscitar em nosso povo um compromisso para com aqueles que precisam de vida, de dignidade e principalmente da boa-nova de seu Filho Jesus. Esta dimensão deve ser primordial nos nossos dias e na missão da Igreja no continente latino-americano.
Se quisermos comprovar este fato na vida de Maria, bastaria olharmos com atenção e cuidado as palavras do magnificat, que os bispos em Puebla apresentaram como: “o espelho da alma de Maria”. Esta característica, portanto, não é simplesmente um fator externo e superficial da pessoa de Maria, mas antes uma atitude que revela quem realmente é, e como é o seu interior.
Uma luz que surge aqui é que a mariologia deve apresentar Maria como seguidora e discípula, fazendo com que a verdadeira devoção a Ela possa traduzir-se mais na imitação de sua vida e de suas virtudes do que na dimensão de veneração e culto.
Fazendo referência a Puebla, esta conferência nos convida a olhar para aquela Maria que proclama, no hino do magnificat, a grandeza do Deus salvador em quem colocou sua fé e esperança, como paradigma da espiritualidade dos pobres de Javé. Ao assumir esta espiritualidade, Maria nos dá mostras dela como caminho de salvação.
Portanto, o desafio pastoral da evangelização será sempre o empenho em tentar aproximar o nosso povo latino-americano, na grande maioria massas humanas pobres e marginalizadas, com a “pobre de Javé”, a qual, fazendo-se pequena diante da grandeza de Deus, conseguiu a maior grandeza humana.
Assim, Maria se apresenta como uma mulher simples e humilde, porém, em nenhum momento passiva diante das coisas que a vida lhe foi apresentando. Por isso, Ela deve ser a companheira de caminhada nas tristezas e alegrias da vida, motivando-nos a viver a libertação enquanto dignidade da pessoa humana: a compaixão, a compreensão, a solidariedade nas “alegrias e esperanças, nas tristezas e nas angústias dos homens do nosso tempo, sobretudo os pobres e todos os que sofrem”.
Maria, por ser mãe, nos acompanha sempre; Ela partilhou de nossas experiências humanas fundamentais, as felizes e as dolorosas, o amor de mãe e de esposa, mas também a morte, a pobreza, o exílio e a violência. Portanto, neste sentido, podemos entender melhor a atitude de Maria na colaboração com Jesus, na redenção dos homens, o que nos leva a não aceitar as situações injustas com resignação e tranquilidade, com indiferentismo; mas, diante dos desafios do nosso tempo e das necessidades dos nossos irmãos, Ela é um desafio para a imaginação criadora e um convite para assumir o protagonismo da própria história.
“Eram como ovelhas que não têm pastor”
O comentário teológico desta atividade messiânica é realizado por uma frase bíblica: “eram como ovelhas sem pastor”. Moisés diante de sua morte pede a Deus que estabeleça como chefe da comunidade “um homem que os preceda no entrar e no sair... para que a comunidade do Senhor não seja um rebanho sem pastor” (Nm 27,17). Como Josué tomará o lugar de Moisés, assim, os discípulos continuarão a missão de Jesus, o pastor messiânico que guia e protege a comunidade cansada e abatida. A motivação profunda do compromisso messiânico-salvífico de Jesus, que deve prolongar-se na missão dos discípulos, está na compaixão, naquele amor gratuito e ativo que o impulsiona a intervir para aliviar as misérias do povo, (Mt 14,14; 15,32; 20,34).
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