Pais e filhos jovens
No Evangelho de Lucas deste domingo, encontraremos a maravilhosa parábola do pai misericordioso e dos dois filhos. O mais novo é um rebelde arrependido, o outro um obediente insatisfeito; ambos são muito amados pelo pai. Por coincidência, neste final de semana, acontecerá, em Macapá, um "simpósio" da Pastoral Familiar que terá como assunto a família com especial atenção aos filhos jovens. Pelas informações, parece que o anterior ocorreu há 30 anos. Mas já aconteceram vários Congressos e Seminários. Família e juventude é um assunto que nos interessa. Sem dúvida a família, no sentido comum da palavra, começa com o casal. Um homem e uma mulher, por amor, se doam um ao outro e criam algo que não existia antes: uma família nova. Os filhos são frutos do amor do casal, mas também são dom de Deus. Cada filho, ou filha, é uma novidade porque ninguém é cópia de ninguém. Para cada filho, o casal e, eventualmente, os irmãos que vieram antes, são desafiados a encontrar os caminhos da acolhida, da convivência e, sobretudo, da educação. No meio de tantas criaturas, o ser humano é aquele que mais demora para crescer e aprender, mas, ao final, cada um de nós é uma obra única, com sua personalidade, potencialidade e criatividade. Também quando os anos passam e parece que já experimentamos de tudo na vida, nunca paramos de crescer e aprender. Todos somos sempre seres em construção, capazes de nos surpreender a nós mesmos. No bem e também no mal, infelizmente. Contudo, uma idade particularmente marcante da vida de toda pessoa é o tempo da juventude. Nestes anos, a maioria de nós, toma as maiores e mais importantes decisões da vida: a profissão, o matrimônio, o grupo de amigos, a prática da fé. Assim, os casais que criaram os seus filhos, os veem sair de casa, às vezes, com tristezas, em geral, se espera, com orgulho. Agora irão caminhar sozinhos, adultos, livres, autônomos. Cada um com seus erros e acertos.
Por ser um tempo de grandes decisões, a relação entre pais e filhos, especialmente no tempo da juventude, não é um assunto fácil. Muitos pais são tentados de desistir, de se "desligar" dos filhos jovens quando ainda eles não se afastaram da família. Parece que hoje a distância entre as gerações cresça cada vez mais: na linguagem, na tecnologia, nos sonhos e projetos. Até na fé. Na esteira do Sínodo sobre a Juventude, acontecido em outubro de 2018, o Simpósio que iremos realizar, quis enfrentar estas questões. Porque, apesar de tudo, do distanciamento generacional e dos conflitos, a família ainda é uma referência para os jovens. Não dá para generalizar, mas os jovens nunca deixam de reparar o que os adultos dizem e fazem. Às vezes para criticar, outras para ou admirar ou agradar. Sempre, acredito, conscientemente ou não, para se confrontar. Muitos outros "modelos" são apresentados aos jovens pela sociedade consumista e competitiva. Os pais podem lhes parecer pobres demais, humildes, atrasados, ou autoritários, carrascos, carcereiros e assim por adiante, mas sempre serão os pais deles. Pais que não se pode trocar e dos quais herdamos não somente bens materiais, se tiverem, mas também muito da nossa personalidade. No Simpósio refletiremos sobre tudo isso, apontando desafios e esperanças. A parábola do Pai misericordioso será uma grande luz. Primeiro porque muitas famílias convivem com filhos e filhas que parecem estranhos, diferentes, desligados. No entanto eles cobram e aproveitam de tudo o que os pais podem lhes oferecer. Os adultos acham que estão mais fora da família do que dentro. Em outros casos têm filhos e filhas que continuam agarrados, obedientes, serviçais. Nunca brigam, mas talvez estejam bem acomodados, mais preocupados em agradar que em buscar os seus próprios caminhos. Filhos perfeitos talvez não existam, assim como não existem pais perfeitos. A todos o Pai misericordioso da parábola lembra que o amor, quando é sincero, faz acontecer milagres. Filhos desgarrados voltam, irmãos brigados se perdoam, casais e famílias desunidas experimentam a alegria do perdão e da paz. Rezamos para que nunca falte a festa do amor nas nossas famílias!
Por Dom Pedro José Conti, bispo de Macapá, no Amapá
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