Por Frei Aloísio Oliveira Em Lendo o Evangelho Atualizada em 05 MAI 2021 - 09H20

“Cala-te e sai dele!”

A Palavra de Deus que combate o mal

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Este exorcismo colocado, assim, no início do ministério público de Jesus, é muito relevante. Significa que toda a atividade de Jesus tem como finalidade libertar o homem do domínio do mal, que o escraviza e faz resistir a Deus. Jesus apresenta-se, então, como Aquele que, com uma palavra repleta de autoridade, chama-nos para o seu seguimento pelo qual o mal é definitivamente vencido.

A experiência de domínio do mal é, aqui, descrita como ação de um “espírito impuro”. No contexto bíblico, “impuro” é tudo aquilo que é oposto a Deus e distante d’Ele. Deus é o “puro”, por excelência, e só os puros de coração O verão (cf. Mt 5,8). Satanás, a personificação do mal, é um “espírito impuro” justamente porque rouba, do coração do homem, a palavra de Deus (cf. Mc 4,15) que o torna Seu filho, substituindo-a pela mentira que o faz distanciar-se d’Ele e opor-se a Ele, que é a fonte de sua vida. Por isso, Jesus diz que o pensamento do homem é satânico quando é oposto ao pensamento de Deus (cf. Mc 8,33).

Nos exorcismos, Satanás é descrito como aquele que se “apossa” do homem, usurpando-lhe a própria identidade e tornando-o de tal forma estranho a si mesmo que não só faz o mal aos outros, como também destrói a si próprio (cf. Mc 5,1-5). A força do mal, personificada em Satanás, nutre-se do pecado como experiência do distanciamento de Deus. Tal distanciamento é resultante de uma mentira. Por isso, Satanás é apresentado como pai da mentira (cf. Jo 8,44), pois foi ele que, ardilosamente, apresentando ao homem uma falsa imagem de Deus, induziu-o à desobediência ao colocá-lo diante da vertigem de seu limite próprio de criatura, iludindo-o com a beleza falaz de uma autonomia sem limites (cf. Gn 3,1-5). Com isso, a experiência do limite e da insuficiência, inerente ao ser criatura, tornou-se, para o homem, motivo de vergonha e medo, diante dos quais só consegue fugir e esconder-se (cf. Gn 3,8-10).

Abandonada a fonte autêntica do próprio eu, com labuta o homem cava para si cisternas rachadas, que não podem conter água (cf. Jr 2,13). Perdida sua identidade, busca-a sempre naquilo que mais o aliena de si mesmo: o ter, o poder e o prestígio. Disto resultam a insatisfação e a falta da verdadeira estima de si, a solidão, a angústia mortal, a ganância e o egoísmo insaciáveis, as injustiças, as guerras e todo o mal. Mas, o próprio Criador prometeu que esse mal não haveria de prevalecer, definitivamente, sobre o homem. A descendência da mulher haveria de vencê-lo (cf. Gn 3,15). Jesus é tal descendência que, comunicando a Palavra da Verdade, esmaga a cabeça da serpente fazendo calar a sua mentira que está na origem de nossa escravidão, mostrando-nos a verdade, nossa e de Deus, na sua inteireza: nós somos filhos e Ele é Pai. Com isso, entende-se porque os exorcismos marcam a chegada do Reino de Deus e o fim da escravidão do homem.

Para nós, cristãos, o exorcismo fundamental é o batismo, pelo qual passamos da sujeição ao mal à luta contra ele. Mas não podemos nos iludir. O combate não é fácil e dura a vida inteira. Jesus chama-nos, para o Seu seguimento, com Sua palavra poderosa que pode ser doce como o mel enquanto está na boca, mas quando engolida se torna amarga (cf. Ap 10,9-10). Assim, visto que a Palavra de Jesus Cristo combate o mal que está em nós, podemos experimentar desejos contrários e resistências dilacerantes. Mas não podemos perder a confiança: é necessário que nossos males apareçam para que sejam curados. No endemoninhado, constatamos nossas reações pessoais diante da Palavra do Senhor e o que Ela é capaz de fazer por nós.

Escrito por
Frei Aloísio, Ministro Provincial
Frei Aloísio Oliveira

É Ministro Provincial da Província São Francisco de Assis dos Frades Menores Conventuais e especialista em Sagrada Escritura.

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