Por Frei Aloísio Oliveira Em Lendo o Evangelho Atualizada em 05 MAI 2021 - 11H37

Paz a vós!

Jesus, ao dizer “Paz a vós” e mostrando as mãos e o lado, sinais visíveis de Sua crucificação, quer dizer que pela Sua paixão, morte e ressurreição, reconciliou o mundo com Deus, restaurando assim, a totalidade da criação




No trecho do Evangelho de hoje (Jo 20,19-31), Jesus vai encontrar Seus discípulos estando as portas fechadas (vv. 19.26), não para demonstrar que Seu corpo ressuscitado é sutil e pode atravessar paredes, mas sim que Ele tem o poder de estar presente em todo tempo e lugar.

O Cristo Ressuscitado ao aparecer aos Seus discípulos lhes diz: "Paz a vós (v. 21)". Não se trata de uma saudação convencional e nem mesmo um simples desejo tal como "a paz esteja contigo". Trata-se da comunicação efetiva do dom supremo da Paz que, na perspectiva do Antigo Testamento, consiste na Presença de Deus no meio de Seu povo.

A Paz que Cristo Ressuscitado comunica é uma nova criação. Ele comunica o Espírito que faz o homem renascer, capacitando-o a partilhar da comunhão divina. Ele é o Filho que tem a vida em si mesmo e dela dispõe em favor dos Seus. Seu sopro é o da vida eterna.

Com efeito, Shalom, paz em hebraico, tem um sentido muito amplo e rico. De maneira geral, está ligada a integridade e restauração da integridade e, por extensão, a reconciliação. Portanto, Jesus ao dizer “Paz a vós” mostrando as mãos e o lado, isto é, os sinais visíveis de Sua crucificação, quer dizer que pela Sua paixão, morte e ressurreição, reconciliou o mundo com Deus, restaurando assim, a totalidade da criação. De fato, em seguida, Jesus repete o “Paz a vós” e soprando sobre os discípulos lhes diz: "Recebei o Espírito Santo (v. 22)". Ora, este gesto evoca o ato criador quando Deus fez o homem do barro e lhe insuflou um sopro de vida (Gn 2,7). Portanto, a Paz que Cristo Ressuscitado comunica é uma nova criação. Ele comunica o Espírito que faz o homem renascer, capacitando-o a partilhar da comunhão divina. Ele é o Filho que tem a vida em si mesmo e dela dispõe em favor dos Seus. Seu sopro é o da vida eterna.

A comunicação do Espírito Santo faz dos discípulos missionários: “como o Pai me enviou eu também vos envio”. A Paz-reconciliação não é comunicada aos discípulos como privilégio pessoal, mas lhes é conferida em vista da obra missionária para que o Sopro Recriador chegue a todos. Os discípulos tornam-se colaboradores da reconciliação que Cristo realizou. Com efeito, dizer que os discípulos podem perdoar e reter pecados é uma maneira de dizer que a totalidade do poder misericordioso foi transmitida a eles pelo Ressuscitado.Leia MaisSão João Paulo II: testemunha da Misericórdia DivinaDomingo da Misericórdia

Em seguida, é apresentada a cena de Tomé, o apóstolo que passou à imaginação popular como modelo do descrente, aquele que “tem de ver para crer”. Na verdade, Tomé é o exemplo do discípulo que lentamente caminha para a fé autêntica. A frase de Nosso Senhor: “Felizes os que creem sem ter visto”, que poderia parecer uma repreensão a Tomé por sua suposta incredulidade, na verdade, não se refere a Tomé, mas aos discípulos futuros já distantes das origens cristãs. O cristão de hoje não tem de lamentar essa distância e achar-se menos do que os discípulos que foram testemunhas oculares de tudo o que aconteceu com Jesus. O testemunho ocular é experiência que caracteriza os inícios primordiais da comunidade cristã e não pode ser repetida. Foi concedida àqueles discípulos da primeira hora não como privilégio pessoal, mas em vista das gerações futuras que haveriam de abraçar a fé baseando-se na escuta da Palavra transmitida com a força do Espírito e não mais nos sinais visíveis da Presença do Senhor.

A atitude de Tomé deve ser vista em relação à de Maria Madalena (v. 15) e à do Discípulo amado (v. 8), isto é, cada uma delas representa uma caminhada singular de adesão ao Mistério do Filho de Deus que cada discípulo é chamado a fazer. O Senhor é Único e o seguimento é único, mas como se chega ao seguimento e a maneira de exprimi-lo está sempre ligado à história pessoal de cada um. Para muitos cristãos de berço, a primeira instância de contato com Cristo é o ambiente familiar, para outros, porém, se dá de modo diferente. Contudo, cada qual deverá, depois, encontrar o Senhor por meio da escuta da Palavra e tornar o Seu seguimento cada vez mais esclarecido e assimilado pessoalmente.

Escrito por
Frei Aloísio, Ministro Provincial
Frei Aloísio Oliveira

É Ministro Provincial da Província São Francisco de Assis dos Frades Menores Conventuais e especialista em Sagrada Escritura.

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