Reportagem

Um amor chamado mãe

Enquanto muitas adiam o sonho de ser mãe por querer focar nos estudos ou na carreira profissional, outras sonham desde sempre com a maternidade e buscam de muitas maneiras tornar realidade este sonho

Escrito por Ana Cristina Ribeiro e Núria Coelho

04 MAI 2022 - 00H00 (Atualizada em 06 MAI 2022 - 19H05)

A maternidade é uma escolha que conduz a mulher para um universo desconhecido e profundo. Um mundo de entrega e doação total. É comum ouvir que quando nasce um filho, nasce uma mãe, mas a verdade é que “maternar” faz renascer algo que já existe na mulher: O gesto do cuidar.

“Maternar” também tem seus avessos, é solitário, intenso, difícil e é para sempre. Viver o tal instinto materno, o amor incondicional, a responsabilidade do cuidar, traz consigo a beleza e também as frustações e os anseios que essa fase traz, fazendo muitas mulheres postergarem a realização da maternidade.

Gravidez tardia

O número de mulheres que posterga a maternidade para depois dos 35 anos tem aumentado no Brasil. Doutor Rogério Tabet, ginicologista e obstetra do Sistema Único de Saúde (SUS), revela que no Brasil o conceito de gravidez tardia mudou com o passar dos anos e afirma que o protocolo atual do Estado de São Paulo considera uma gestação tardia mulheres que engravidam a partir dos 40 anos.

O médico também considera que “é preciso saber lidar com a gravidez, primeiro encarando não como doença; segundo, vestindo a camisa, fazendo a sua parte; terceiro, tendo um boa relação entre médico e paciente; e, por último e mais importante, querer estar grávida”.

As principais preocupações numa gestação tardia estão em torno de alterações genéticas, algo que impeça o desenvolvimento do bebê no útero; a qualidade do óvulo que envelhece com o passar dos anos; e a procura do tratamento melhor indicado para cada caso. O médico também reforça que “os riscos de má formação e síndromes aumentam em gravidez tardia, mas é pouco, uma média de três a cinco por cento. O histórico familiar conta muito na má formação e possíveis síndromes em qualquer gestação”, afirma o obstetra.

Outro fator de relevância que pode levar um casal a ter um bebê depois dos 35 anos é a infertilidade. 80% dos casais inférteis engravidam após tratamentos simples, enquanto que os 20% restantes necessitam de tratamentos através das técnicas de reprodução assistida. No SUS há equipes prontamente especializados para realizar procedimentos como esses, certifica Doutor Rogério: “O SUS tem equipes extremamente qualificadas, com abordagem incríveis no quesito reprodução. Há projetos promissores como o Ideia Fértil da Faculdade de Medicina do ABC que oferece tratamento e você paga só a medicação usada, e não o procedimento”.

Mudança de vida

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

A vendedora Luciane Alexandrina Pestana de 42 anos casou-se em 2015 com Pedro Paulo. Ele já tinha filhos do primeiro casamento e tinha realizado a vasectomia, procedimento cirúrgico que impede o homem de ter filhos, contudo esse fator não era um empecilho para Luciane engravidar. Na época a vendedora tinha 35 anos e acreditava que a fertilização assistida a ajudaria na realização do sonho da maternidade. Ela só não imaginava que demoraria mais do que o esperado: “Foram várias tentativas. Em torno de oito num período de cinco anos. Nesse caminho houve muitas frustrações. Pensei em desistir muitas vezes, mas a vontade de ser mãe me fazia tentar novamente, até que na oitava vez deu certo”.

A vendedora tinha 40 anos quando recebeu o resultado positivo da gravidez e não esquece o quanto aquele dia foi importante para ela: “Me lembro como se fosse hoje, eu olhei o envelope do exame otimista, mas ao mesmo tempo realista, pois já vinha de um processo de muitos negativos e sabia que poderia dar errado novamente. Quando abri o exame e vi o positivo, congelei por alguns segundos, levantei correndo e fui contar para o meu esposo que ficou surpreso com a notícia”.

Como em qualquer gravidez tardia, Luciane precisou fazer o pré-natal com obstetra de alto-risco, e teve que tomar anticoagulante, uma injeção na barriga por causa de uma trombofilia. Seguiu até completar as semanas necessárias com tranquilidade e a bebê nasceu saudável e no tempo previsto.

O nascimento da pequena Lilian mudou toda a rotina do casal. Após 1 anos e 5 meses de vida a pequena continua trazendo cor e alegria para a vida de Luciane e Pedro Paulo: “A chegada dela tudo mudou. Eu tinha a casa orgnizada, eu estudava, escolhia a roupa que queria e não a primeira que aparecia. Hoje eu desmaio de cansaço quando eu deito e, mesmo vivendo no limite do cansaço, eu rezo todas as noites agradecendo pelo milagre que Deus me concedeu. Peço a Ele que a proteja e me dê saúde e sabedoria para cuidar dela. Eu posso estar desarrumada, exausta, mas eu tento ser a minha melhor versão todos os dias só para ter a certeza de que ela estará segura. Vivo meus dias por ela e para ela.”

Maior amor do mundo

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

A jornalista Adriana Cury de 54 anos não esperava engravidar quase seis anos depois da primogenita, Marina. Adriana tinha 34 anos quando recebeu o resultado positivo da segunda gravidez. A primeira reação, segundo a jornalista, foi de medo, pois tinha uma vida muito corrida e uma rotina intensa no trabalho. Sua maior precupação era como conseguiria conciliar a profissão com os cuidados de um bebê. Por outro lado, Adriana nunca quis ter uma filha só, pois sabia a alegria de partilhar as experiências da vida com irmãos e acreditava que Marina seria mais feliz com a chegada de Júlia: “Era algo que ela realmente queria e acreditou piamente que eu engravidei porque ela pediu aos céus. Ela ficou muito feliz quando soube que eu estava grávida. No final, insistiu tanto que até o nome da irmã foi ela quem escolheu”.

A transformação que um bebê traz para a vida de uma família é gigantesca, profunda e excepcional. Cada fase traz expectativas e cada pequena conquista é motivo de alegria e comemoração, independente se é o primeiro, segundo ou terceiro filho. Cada um é único e especial. Para Adriana, Marina era a mudança necessária para aquele momento da vida: “Quando olhei para a Julia pela primeira vez fora do meu ventre, eu tive uma certeza: aquele bebê transformaria toda minha vida. Foi algo assim mesmo, instantâneo e arrebatador. Julia era um bebê alegre, sorridente, muito, muito sapeca. A gente sempre é mais tranquilo com o segundo filho, pois temos mais experiência e segurança, então é um amor, embora na mesma medida, mais leve um pouco. Essa alegria dela bebê mudou toda a minha vida. Compreendi que era hora de ser eu, de ser uma mãe cada vez melhor, de ter as rédeas de minha vida em minhas mãos. Olhando aquelas duas meninas que eu sempre amei tanto, me senti forte e comecei uma longa e boa transformação na minha vida”.

Hoje, Julia com 19 anos e Marina com 26 compartilham uma vida de estudos e conquistas com a mãe que é a grande aliada e amiga: “Julia já é quase uma mulher. Apesar dos meus temores sobre a rotina, quando ela nasceu foi tudo muito tranquilo. Ela continuou sendo muito sapeca, voluntariosa, e tenho certeza que nos ensinou a todos a assumirmos nossas posições na vida e a sermos mais autênticos. Abriu caminhos para a irmã mais velha que era mais tímida e menos questionadora. O resultado foi uma mãe em constante aprendizado e repaginação para duas filhas do mundo atual”.

Milagre de amor

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

A assistente financeira Vivian de Araujo Baldo, de 42 anos, já tinha no coração o desejo de ser mãe quando se casou com Adalto, há mais de 15 anos. A decisão em ter um bebê veio logo no segundo ano de casamento. Tentaram e não conseguiram. Faziam exames frequentemente para ver se tinha algo errado com a saúde e todos os exames apontavam que nada os impediam de engravidar naturalmente. Pensaram por um tempo em tentar métodos de reproduçãoa ssistida, mas Vivian sentia no coração que em algum momento um milagre aconteceria.

Quando decidiram deixar de lado a expectativa em ter um bebê, Vivan tinha 42 anos. Já tinham cinco sobrinhos e estavam conformados de que aqueles eram os filhos que Deus tinha enviado para eles.

Certo dia, a assistente financeira precisou ir ao hospital, pois estava com muita dor. Na consulta o médico constatou infecção de urina. Precisava tratar a infecção com remédio e por isso foi pedido o exame de sangue Beta HCG (exame capaz de apontar se a mulher está grávida ou não). Ele pediu por precaução, pois ela teria que tomar uma medicação forte e se estivesse grávida poderia perder o bebê.

Vivian seguiu as instruções, fez o exame por precaução, mas acreditava que não daria positivo em hipotese nenhuma, pois já estava frustrada com tantos exames de gravidez negativos. No dia 8 de março ela realizou o exame, esperou o resultado que saiu no final do mesmo dia: “Uma amiga do setor que trabalho olhou o exame e perguntou o que era aquele papel. Eu disse que era um exame de gravidez, mas que era só por causa da mediação. Com o passar das horas ela pediu para consultar o resultado do exame no computador dela. Em seguida ela veio em minha direção e me parabenizou dizendo: Parabéns mamãe, você está grávida! Eu fiquei muito brava porque estava descrente de que seria possível. Esperei tanto que não acreditei quando realmente aconteceu.”

No mesmo dia uma médica ginicologista esteve na empresa onde Vivian trabalha para dar uma palestra sobre a saúde da mulher. Como ela não estava acreditando, as amigas do setor pediram permissão para levar o exame até a doutora que confirmou a gravidez.

No mesmo dia ela conseguiu uma consulta com obstetra que já encaminhou para realizar um ultrassom, onde foi confirmada a gestação de quase 12 semanas: “Quando cheguei no hospital, meu esposo já estava esperando, sem saber o que de fato estava acontecendo. Eu não quis contar pra ele, sem ter certeza de que estava mesmo grávida. Pra gente sempre foi uma espera muito grande, então decidi contar para ele só depois que tivesse feito o ultrassom, pois se não fosse verdade, só eu ficaria com a expectativa frustrada. Quando eu entrei para fazer o ultrassom conseguimos ver o bebê e ouvir o coração dele. Foi um momento único e mágico”.

O pré-natal da Vivian foi de alto-risco devido a idade, mas correu tudo bem. Murilo nasceu saudável e no tempo certo. Trouxe mais vida para a família que tanto esperou esse milagre: “A imagem mais linda que eu pude ver foi quando ele saiu da minha barriga. Ali eu vi o quanto é grande o amor de Deus por nós. Ele me deu a chance de sentir esse amor imensurável. E quando me dei conta do papel que teria dali pra frente, pedia a Deus saúde e sabedoria para cuidar de um ser tão pequeno e frágil”.

Hoje o Murilo tem três anos e é uma criança saudável e feliz, numa casa que tem muito amor para oferecer. Vivian deixa uma mensagem para as mulheres que como ela sonham com a maternidade: “Eu sei que tem muitas mulheres que não conseguem, mas elas não deixam de ser mulheres por isso. Deus sempre dá alguém especial para a gente exercer a maternidade. O Lado materno existe em toda a mulher. Para as que estão tentando eu digo: Não desista, confie em Deus e em Nossa Senhora. Tudo tem um tempo para acontecer. Não percam a esperança!”

Fonte: O Mílite

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