Por Frei Aloísio Oliveira Em Lendo o Evangelho

Jesus é o Messias

“Hoje se realizou essa Escritura”




Com uma leitura do profeta Isaias, durante a liturgia, na sinagoga de Nazaré, Jesus proclama ser o messias esperado para pôr em ação a libertação em favor dos oprimidos. Sua conclusão ousada, ao término da leitura: “Hoje se realizou essa Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 4,21) provocou reação ambivalente dos ouvintes: de um lado, admiração e reconhecimento, de outro, desconcerto em face de sua evidente pretensão messiânica.

Pois, com sua intervenção, Ele proclamou que a atualidade da inadiável ação salvadora de Deus realizou-se em Sua pessoa, que as palavras proféticas referidas na leitura litúrgica (cf. Lc 4,18-19) aplicavam-se diretamente a Ele. Dessa forma, o texto não só marca a inauguração do reinado de Deus, como também revela a identidade de seu Enviado.

Os concidadãos de Jesus ficaram estupefatos com suas afirmações e perguntavam-se a si mesmos: “Não é este o filho de José?” (Lc 4,22c). Com essa pergunta queriam dizer: esse homem é um cidadão comum, da cidade de Nazaré, como nós. Como ele pode se proclamar executor da salvação prometida por Deus?

Dessa forma, o conhecimento das origens simples de Jesus torna-se impedimento para reconhecerem n’Ele a ação salvadora de Deus, que sempre se manifesta nas mediações humanas. Jesus interpreta o estado de ânimo de seus conterrâneos em relação a ele, com provérbio popular: “médico, cura-te a ti mesmo” que, aplicado à situação, significava: comprova tuas pretensões de enviado de Deus, realizando, também aqui, os milagres que ouvimos dizer que fizeste em outros lugares (cf. Lc 4,23).

Jesus vê sua rejeição por parte de seus conterrâneos como inerente à sua missão profética ao modo dos grandes profetas bíblicos. Citando a passagem de Elias beneficiando, com sua missão profética, a viúva estrangeira de Sarepta e a de Eliseu curando o sírio Naaman de sua lepra, Jesus afirma a seus conterrâneos, que se consideravam destinatários prioritários de seus milagres (cf. Lc 4,23), que sua missão não se restringe a concepções bairristas de salvação, mas é oferecida a todos.

Mesmo iniciando, oficialmente, seu ministério em seu torrão natal, Jesus não está condicionado aos desejos egoístas de sua gente nem restrito a concepções etnocêntricas da salvação e nem preso às formas religiosas espetaculosas de seu ambiente. O Reino de Deus por Ele inaugurado rompeu os muros do quintal do mundo judaico para atingir os confins da terra. Sua missão profética pode se realizar exatamente porque Ele, livre de todo ligame vinculante, está à altura de enfrentar a rejeição, a condenação e a morte.

A tentativa dos conterrâneos de Jesus de assassiná-Lo fora da cidade prefigura seu destino: pelo modo de exercer seu ministério, será morto fora dos muros de Jerusalém, rejeitado não só pelas autoridades religiosas, mas também pela gente do povo. O fato de Jesus escapar, seguindo seu caminho entre aqueles que queriam matá-lo, prenuncia sua ressurreição, por meio da qual Ele não permanece prisioneiro da morte.

Escrito por:
Frei Aloísio, Ministro Provincial
Frei Aloísio Oliveira

É Ministro Provincial da Província São Francisco de Assis dos Frades Menores Conventuais e especialista em Sagrada Escritura.

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