O início do Ministério de Jesus

A leitura do evangelho deste domingo é composta de dois trechos bem distintos. O primeiro é uma introdução à obra inteira (cf. Lc 1,1-4), e o segundo narra o início do ministério de Jesus (cf. Lc 4,14-21).

Nos primeiros versículos, Lucas expõe o objetivo de sua obra: demonstrar a solidez da doutrina transmitida sobre Jesus. Assim como o Antigo Testamento é a história de um povo, também o evangelho é ancorado na trajetória real do Filho de Deus. O autor sabe que sua iniciativa não é pioneira, demonstrando conhecer obras de predecessores que se dedicaram a transmitir “os fatos ocorridos entre nós” (Lc 1,1).

Assim, partindo da contribuição da tradição, Lucas empreende o esforço de oferecer uma leitura meditada e aprofundada dos fatos ocorridos, que, para ele, não só se referem à vida de Jesus, mas compreendem também a missão da Igreja que partindo de Jerusalém chegou aos confins da terra (cf. At 28,28).

Sua intenção, portanto, é atualizar a mensagem evangélica para torná-la sempre nova e em sintonia com a diversidade dos tempos e lugares. Embora permanecendo no âmbito da tradição, o autor não se sente bloqueado por ela, mas é capaz de reinterpretá-la para responder às exigências de um novo público. A mensagem cristã não é uma especulação sobre algumas verdades, mas uma narração sobre a pessoa de Jesus e sobre a experiência da Igreja primitiva.

No segundo trecho da leitura (Lc 4,14-21), relata-se que Jesus, depois de sofrer as tentações no deserto, voltou para a Galileia e deu início a seu ministério, sob o impulso do Espírito. Sua pregação impressionava a todos e sua fama difundiu-se na região (cf. Lc 4,14).

Certo dia, em Nazaré, durante a liturgia da sinagoga, leu o trecho do livro de Isaias, em que o profeta declara estar imbuído do Espírito do Senhor para anunciar aos judeus exilados na Babilônia a magnífica libertação, que Deus haveria de realizar como um solene ano jubilar (cf. Is 61,1-9). Ao término da leitura, o comentário de Jesus foi tão breve quanto ousado: “Hoje se realizou essa Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 4,21). Com isso, Jesus declarou sua missão como o Ano Jubilar, por excelência.

Em outras palavras, a salvação outrora anunciada pelo profeta, que não foi completa nem definitiva no retorno dos exilados a Jerusalém, realizou-se plena e decisivamente na pessoa e no ministério de Jesus de Nazaré.

As palavras proféticas n’Ele se realizam porque possuindo a plenitude do Espírito divino, pode atualizar a inadiável salvação de Deus. A missão de Jesus realiza efetivamente o Ano da Graça do Senhor porque revira a ordem estabelecida: rompe os grilhões dos prisioneiros e o jugo que pesa sobre os oprimidos, reabilita a vista dos cegos e traz uma mensagem de esperança para os pobres. Dessa forma, o texto não só anuncia a missão de Jesus, como também revela sua identidade messiânica.