Na passagem das Bodas de Caná, a Mãe de Jesus aparece como modelo de discípulo e discípula. De início, ela diz a Jesus: “Eles não têm vinho” (Jo 2,3). É um pedido discreto, mas seguro e corajoso, consciente da própria pobreza, da necessidade de abrir-se à salvação que só Jesus pode dar. De fato, o vinho bom oferecido por Jesus, em Caná, é o Evangelho que ele veio anunciar.
Ao pedido de sua Mãe, Jesus responde com uma frase enigmática: “mulher, o que há entre mim e ti?” (v.4). Com isso, ele quer afirmar que as relações entre eles não devem ser colocadas em um nível humano, mas num plano superior, que é a sua missão de revelar a vontade do Pai. Ele se refere ao dom messiânico do seu amor e da sua Palavra, simbolizado pelo “vinho novo” que ele veio doar à humanidade. Sua fala é um convite a acatar os desígnios de Deus. É a passagem na fé que todo cristão, a exemplo de Maria, deve realizar.
De fato, a Mãe de Jesus, com as palavras dirigidas aos servos: “fazei tudo o que ele vos disser” (v.5), responde ao convite de Jesus e entra no plano da completa disponibilidade a Deus. Maria coloca tudo nas mãos do Filho, unindo-se a Ele no seu modo de viver e agir. O exemplo de Maria tem de ser o caminho de cada fiel.
Nas bodas de Caná, onde a água comum é transformada em vinho de excelente qualidade, revela-se que só Jesus é capaz de transformar a nossa realidade humana e mudar nossa vida para melhor. Só Ele pode nos dar a vida em abundância. Para participarmos da verdadeira vida que Jesus dá é necessário entrarmos no seu projeto, como fez Maria que nos convida também a nos colocarmos em total obediência a seu Filho, fazendo tudo o que ele nos disser.
De fato, a vida cristã só é válida se for acolhida plena do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, que implica viver o amor de Deus como salvação, como realidade que preenche a nossa vida de sentido. A vida cristã tem de ser interpretação viva do Evangelho. Toda a ação da Igreja, todo projeto pastoral de solidariedade a serviço das pessoas, especialmente dos pobres e indefesos têm de ser expressão do próprio encontro com Cristo. Esse é o sentido da transformação da água em vinho nas Bodas de Caná.
Os seis potes de água para os judeus cumprirem os ritos de purificação representam a Lei de Moisés que, em geral, era praticada de forma pesada, insuportável porque estava esvaziada de sua ligação de amor entre Deus e o ser humano.
O Evangelho de Jesus é uma transformação porque ensina que o mandamento principal é o Amor. Todas as normas só fazem sentido se estiverem a serviço do Amor. Na Aliança, isto é, no relacionamento do povo de Israel com Deus, o Amor é o vinho que veio a faltar. Só o Amor que se faz serviço (lava-pés) é capaz de renovar e criar novas relações.
Figuras importantíssimas na passagem de Caná são os servos. Quando Maria lhes diz para fazerem tudo o que Jesus lhes disser, eles acatam prontamente. De fato, quando Jesus lhes manda encher as talhas de água e, depois, servir as mesas com o bom vinho transformado, eles lhe obedecem, sem reservas.
Quem são eles? São os discípulos e as discípulas de Jesus que acolheram o seu Evangelho e tiveram suas vidas de tal forma transformadas pela comunhão com o Senhor que se tornaram portadores e portadoras da sua mensagem. Eles conhecem a origem do bom vinho que estão servindo, porque obedeceram à palavra do Senhor que lhes mandou encher as talhas de água e depois servir. O mestre-sala, porém, um especialista da matéria, nada sabe daquele vinho extraordinário.
Com isso o evangelista nos dá uma indicação fundamental: a vida cristã só acontece na obediência à Palavra do Senhor. Somente esta obediência nos dá o verdadeiro conhecimento de Jesus, que se transforma em comunhão de vida com ele e nos torna capazes de nos colocarmos a serviço dos irmãos e irmãs; nos torna diáconos e diaconisas que servem a mesa, à semelhança do Mestre que veio para servir.
São Francisco nos recorda, em seu Testamento, que sua conversão começou com o serviço aos leprosos. Ele não gostava de ver leprosos, mas o Senhor mesmo o conduziu entre eles e, pondo-se a servi-los, Francisco experimentou uma transformação: o que antes lhe era amargo se transformou em doçura da alma e do corpo.
Conclusão:
Maria nos dá a dica:
1. Não temos “vinho”. Só o Senhor nos pode dar; só ele pode transformar;
2. “Fazei tudo o que ele vos disser”: estarmos sempre dispostos a seguir fielmente o que a Palavra do Evangelho nos inspira;
3. O Senhor nos manda servir: seu Evangelho é o mandamento do Amor que se exprime como serviço aos irmãos e irmãs
4. Assumir os compromissos da vida cristã não como obrigações pesadas, impostas a força, mas como expressões decorrentes do Amor e da comunhão com o Senhor.
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