Por Dom Pedro Conti, bispo de Macapá, no Amapá Em Formação Atualizada em 13 OUT 2020 - 15H43

Sempre atento na estrada

Ao dirigir um carro, não ligue para o que os outros lhe dizem. Quem dirige deve ficar sempre atento na estrada. Assim, na Igreja, Jesus é ao mesmo tempo o caminho e a meta da viagem. Foco nele!




Uma jovem mulher queria tirar a carteira de motorista e se inscreveu numa autoescola. Certo dia, durante uma aula de direção prática, numa rua com muito trânsito, o instrutor disse baixinho no ouvido dela: - Ouvi bem? Você me chamou de "meu querido"? – Senhor! – gritou espantada a jovem se virando do lado do homem. O instrutor, sorrindo, disse para ela de continuar olhando para a rua. Depois acrescentou: - Não se preocupe. Faço isso com todos os alunos, para lhe ensinar uma lição: não ligue para o que os outros lhe dizem. Quem dirige deve ficar sempre atento na estrada.

No 11º Domingo do Tempo Comum, retomamos a leitura do Evangelho de Mateus. Depois do grande discurso do Monte (cap. 5-6 e 7), o evangelista apresenta as "obras" do Messias, sobretudo as curas e a tempestade acalmada. No entanto, Jesus não deixa de chamar pessoas a segui-lo, como faz com Mateus, o cobrador de impostos. É, porém, na página deste domingo que Jesus escolhe os Doze. Os nomes deles estão aí, para sempre, com as suas diversidades, dúvidas e medos, como veremos no próximo domingo. Era comum, naquele tempo, e hoje também, com as devidas diferenças, que um "mestre" tivesse ao seu redor discípulos dispostos a aprender com ele. "Seguidores" de verdade, prontos a partilhar a vida dele, não meros amigos virtuais, cada um sentados no sofá da sua casa, como acontece em nossos dias. Eles tinham deixado família e trabalho para segui-lo. Esta tinha sido uma primeira virada na vida deles. Agora Jesus os envia em missão com algumas recomendações claras, inovadoras e muitos desafios. Antes, porém, o evangelista coloca novamente Jesus "vendo" as multidões. Na primeira vez, depois de "ver" as multidões, ele tinha oferecido o seu ensinamento (Mt 5,1-2). Desta vez, o seu coração se enche de compaixão pelo povo cansado e abatido, se parece com "ovelhas que não tem pastor". Ou, numa outra comparação, um campo pronto para a colheita, mas, largado por falta de trabalhadores. Jesus convida a rezar, a pedir ajuda ao "dono da messe" e, ele mesmo, começa a escolher e a enviar os operários.

Com isso, entendemos que a Igreja é missionária por constituição. O dia que deixasse de evangelizar, deixaria de ser a Igreja que Jesus quis. Mas, atenção, junto com a ação vai também a oração porque sem a força e a luz do Espírito Santo, a missão se tornaria propaganda. Ela não é o resultado de um planejamento ou de um esforço de vontade nossa, como diz Papa Francisco na sua mensagem para o Dia Mundial das Missões do próximo mês de outubro: "É Cristo que faz sair a Igreja de si mesma". Tudo isso, porém, não significa que a obra, nunca acabada, do anúncio do Evangelho seja algo improvisado, sem rumo, sem meta e sem conteúdo. Não. Jesus, é claro. Tem que começar pelas "ovelhas perdidas da casa de Israel", o povo eleito. Depois virão também os samaritanos e os pagãos, como os apóstolos fizeram. Fundamental, contudo, é a mensagem que devem comunicar: "O Reino de Deus está próximo".

Deus não está longe, está aqui no meio da humanidade, se deixa encontrar, porque fala, cura, doa vida nova, salva e liberta por meio do seu Filho Jesus. Por fim um sinal inequivocável para reconhecer a autêntica ação evangelizadora: a gratuidade. A missão não é um "negócio". Quem reconhece ter sido alcançado "de graça", sem merecimento algum, pelo amor de Deus, por puro dom da sua bondade, deve também partilhar generosamente este bem tão precioso com quem o quiser acolher. Este é o "foco" da missão da Igreja: fazer saber à uma humanidade confusa e atraída por infinitas propostas de felicidade que o caminho para dar um sentido grande à vida é o seguimento de Jesus Cristo.

Leia MaisA hora certaO que será? O aniversárioCom ele, aprendemos a confiar no único "mandamento" que é o verdadeiro bem ao nosso alcance e que ninguém pode nos roubar: o amor doado que nos faz felizes alegrando os outros. O cristão é como um motorista que está dirigindo. Não pode se deixar distrair por qualquer conversa ao seu redor. O seu olhar deve ficar sempre atento na estrada. Jesus é ao mesmo tempo o caminho e a meta da viagem, vamos lembrar.

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