O relatório Conflitos no Campo 2020, da Comissão Pastoral da Terra, revela que há tendência de aumento de conflitos no campo por terra, água e trabalho. O documento foi apresentado pelo órgão, que é vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na segunda-feira (31).
O relatório de Conflitos relativo aos dados de 2019 apresentava um aumento de 26% comparado com os dados de 2018 (de 1.000 ocorrências passou-se para 1.260). Em 2020, o aumento foi de 25%.
Os dados gerais de conflitos no campo mostram que o número de ocorrências passou de 1.903 em 2019, para 2.054 em 2020, um aumento de 8%. Esse é o maior número de ocorrências de conflitos no campo já registrado pela CPT, desde 1985. O número de pessoas envolvidas nesses conflitos passou de 898.635, em 2019, para 914.144, em 2020, um aumento de quase 2%.
O representante do Centro de Documentação Dom Tomás Balduino, Paulo Cesar Moreira, destacou que o ano passado foi “o ano de terror, com um aumento de 8% de conflitos do campo e das águas em relação à 2019, uma média 6.62 conflitos por dia. Os dois primeiros anos do governo do presidente Jair Bolsonaro registraram o maior número de aumentos de conflitos no campo. Os povos indígenas (42%) foi o grupo que mais sofreram ações de conflitos por terra, seguido por quilombolas com 17% e posseiros com 15%”, apontou.
A CPT documentou e sistematizou, também, 1.576 ocorrências de conflitos por terra em 2020, o maior número desde 1985, quando o relatório começou a ser publicado, 25% superior a 2019 e 57,6% a 2018. Esses conflitos envolveram 171.625 famílias. Os dados são ainda mais assustadores quando analisados apenas os números referentes aos povos indígenas no Brasil nesse tipo de conflito: 656 ocorrências (41,6% do total), com 96.931
famílias (56,5%).
Em 2020, o número de ocorrências de conflitos pela água diminuiu cerca de 30% em relação ao ano anterior. Isso se deve muito por conta de dois eventos de grande magnitude e com forte caráter conflituoso que aconteceram em 2019: o derramamento de óleo no litoral brasileiro, em especial na Região Nordeste, e o desastre provocado pelo rompimento da barragem B1 da mineradora Vale S.A, em Brumadinho (MG). Entretanto, foram registrados quatro assassinatos nesse tipo de conflito, e esse foi o maior número de mortes em conflitos por água já registrados pela CPT, desde que ela passou a fazer o registro desse tipo de conflito, separado de “terra”, em 2002.
A coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas (Apib) do Brasil, Sônia Guajajara, também participou do lançamento do relatório, e comentou os dados que relevam que “os povos indígenas, com 42%, foi o grupo que mais sofreu ações de conflito por terra no país em 2020, seguido por quilombolas com 17% e posseiros com 15%”, apontou.
A representante da Apib destacou a importância da sistematização dos dados organizada pela CPT para ajudar os povos indígenas a se apropriarem das informações e fortalecerem as suas lutas por seus direitos aos territórios, já consagrada na Constituição de 1988.
“O relatório ajuda os povos indígenas a ter uma melhor noção de como organizar suas estratégias para combater o avanço dos interesses sobre as terras indígenas”, disse.
Sônia também destacou o avanço dos conflitos na Amazônia Legal, região que concentrou, em 2020, 62,4% dos conflitos por terra no país. Outro aspecto que ela apontou foi a morte de 1038 indígenas em decorrência da Covid-19.
Segundo a representante da Apib, o número de mortes representa um enfraquecimento de parte da cultura. “Muitos morreram sem tempo de repassar seu conhecimento e sabedoria ancestral aos mais jovens para dar continuidade ao seu legado. Com essas vidas, perdemos várias bibliotecas de conhecimento tradicional”, disse.
Você pode conferir o relatório na íntegra aqui.
Fonte: CNBB
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