Por Jorge Lorente Em Formação

A fé de acreditar sem ver

“O outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo vazio, entrou também. Ele viu e acreditou. De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura que diz: ‘Ele deve ressuscitar dos mortos” (Jo 20, 8-9)




Neste mês, em que celebramos a ressurreição do Senhor, decidi dividir com você, leitor, o resumo de uma história real, vivida pelo meu grande amigo, Padre Walter Collini, quando ainda estava na cidade de Martins, no Rio Grande do Norte.

Seu relato começa assim: No dia de Páscoa, todos nós que somos Igreja repetimos, cantamos e gritamos: “Jesus ressuscitou!”. Mas como ter certeza disso se a cada dia constatamos que da morte não há retorno? Maria Madalena, Pedro e João foram ao sepulcro, mas o túmulo estava vazio. Jesus não estava lá! Não é estranho que a Igreja use este Evangelho para o dia de Páscoa, para anunciar ao mundo todo que Jesus Cristo ressuscitou? Um túmulo vazio? Uma ausência! Uma ausência dolorosa! Na verdade, a certeza da ressurreição de Cristo está nesta pequena frase que o Evangelista João, o discípulo amado, atribui a si mesmo e aos outros discípulos apaixonados pelo Senhor: “Ele viu e acreditou!”.

Na verdade, afirma o Padre Walter, os apóstolos viram o mesmo que viu um menino de sua paróquia, de nome Nenê, portador de Síndrome de Down. Esse menino especial foi, segundo o Padre Walter, seu melhor professor de teologia, pois aprendeu muito com ele.



Sempre que terminava a Santa Missa o pequeno Nenê ia lá, perto do sacrário, e ficava rezando um tempinho, falando com Jesus. Na Quinta-feira Santa, após a Celebração da Eucaristia e do Lava-pés, houve a transladação do Santíssimo para a adoração em outro lugar. O sacrário ficou vazio, sem nada e com a porta aberta para sinalizar a ausência de Jesus. Nenê, no final da celebração, fiel ao seu costume, foi rezar na frente do sacrário vazio!

A primeira reação instintiva do Padre Walter, ao ver aquela cena, foi a de sentir pena pelo menino estar aí, na frente do nada. Mas logo em seguida, antes de ir lá explicar ao garoto, o padre se deu conta de que ele é quem estava cego! O menino viu o que ele não tinha visto! Naquele sacrário vazio, Nenê viu o mesmo que Maria Madalena, Pedro e João: viram no sepulcro vazio!

Nenê viu, ou melhor, enxergou com os olhos da fé, com os olhos do coração, com os olhos da esperança e, sobretudo, com os olhos do amor, que conseguem ver para além das aparências, para além da matéria opaca, para além da razão humana.

O cristão é o ser humano que vê o invisível, que “toca com a mão” o espírito. O cristão autêntico, na sua infinita necessidade de absoluto, abraça o mistério do indescritível e do inacreditável!

No dia da ressurreição, os discípulos acreditaram porque “não viram o Senhor no túmulo”. A verdadeira fé não se fundamenta só no que vemos. As evidências da fé estão muito além da constatação do olhar; elas também nos chegam pela experiência da ausência. O olhar, por mais abrangente que seja, nunca será moldura exata para aquilo que só cabe no coração. O olhar nos dá pistas, o coração certezas!

Feliz Páscoa para você que acredita mesmo sem ter visto!

Escrito por
Jorge Lorente
Jorge Lorente

Locutor da Rádio Imaculada, colunista e escritor de vários livros consagrados. Seu último lançamento foi a obra "Maria, mãe e mulher".

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