Por Frei Aloísio de Oliveira Em Formação Atualizada em 03 NOV 2020 - 08H57

Bem-aventurados os pobres em espírito

A mais alta nobreza a que o espírito humano pode chegar




Bem-aventurado (makarios), na Bíblia, define o estado de felicidade procedente das bênçãos de Deus caracterizado por uma manifestação concreta, específica dessa bênção.

O que nos surpreende nas bem-aventuranças evangélicas é o paradoxo que lhes caracteriza, isto é, o proclamar bem-aventuradas pessoas em situações humanamente deploráveis que, a partir da perspectiva meramente terrena, seriam mais propriamente consideradas desventuradas, senão amaldiçoadas. Se não fosse um texto sagrado, não o aceitaríamos.

É a experiência religiosa, que o plasma, que detém o nosso ímpeto de rejeição e nos retém em um momento de estranhamento, fazendo-nos perguntar: o que significa dizer que pessoas em situações tão desfavoráveis são bem-aventuradas?

As bem-aventuranças começam com o tema da pobreza: “Bem-aventurados os pobres em espírito” e prosseguem com outros temas afins que denotam falta, indigência, insuficiência, finitude e são seguidas por promessas expressas, geralmente, na voz passiva: “Bem-aventurados os aflitos, porque serão saciados; Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados...”

Este jeito de falar é conhecido, na teologia, como “passivos teológicos”, ou seja, uma maneira de mencionar uma ação de Deus sem pronunciar o seu nome, por respeito. Dessa forma, o agente das bem-aventuranças é o próprio Deus.

Os aflitos serão consolados por Deus, os famintos serão saciados por Deus e assim por diante. Parece que as bem-aventuranças que seguem à primeira são desenvolvimentos dela, ou seja, explicitam o que é pobreza em espírito. Isto é, só quem experimenta existencialmente a sua finitude e insuficiência e vive cordialmente esta condição, lançando-se totalmente em Deus, pode ser consolado, plenamente saciado por Ele.

O homem auto-suficiente, cheio de si, é qual copo trasbordante, não cabe mais nada, nem Deus. Está reduzido à sua medida. Portanto, a pobreza em espírito, de que se ocupam as bem-aventuranças, é algo necessário ao homem. Ela o ilumina de Imensidão e o faz gritar a Deus com todas as veras d’alma, como o salmista: “Quanto a mim, sou pobre e indigente: ó Deus, vem depressa! Tu és meu auxílio e salvação: Senhor, não demores! (Sl 70,6).

A pobreza em espírito não existe em quem pensa ser dono de si e auto-suficiente, que não precisa dos outros nem de Deus, pois as Escrituras afirmam que quem diz: “sou rico, enriqueci-me e de nada mais preciso, ignora ser ele o infeliz: miserável, cego, pobre e nu! (cf. Ap 3,17).

A pobreza em espírito tampouco se identifica simplesmente com a pobreza material, pois mesmo quem fosse possuidor de muitos bens poderia reconhecer que a riqueza material não é tudo para ele, e viver como quem, de fato, depende de Deus.

E, ao contrário, uma pessoa materialmente pobre poderia ser cheia de inveja e ganância e esperar tudo da riqueza terrena. Portanto, essa bem-aventurança tem um sentido originário fundante que está na raiz do nosso verdadeiro relacionamento com Deus.

A pobreza em espírito é a mais alta nobreza a que o espírito humano pode chegar, pois é configuração com o próprio Cristo, que de rico, se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza (2Cor 8,9).

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