Frei Pacífico
Franciscano Menor Conventual
Como surgiu sua vocação?
Minha vocação surgiu por volta dos 10 anos. Estava na Catedral de Lorena - SP. Não me recordo exatamente o que me chamou a atenção, mas sei que naquele momento eu quis ser padre. Participei também da irmandade do Santíssimo Sacramento que é uma espécie de guarda de honra do Santíssimo Sacramento. Queria ser padre e um familiar me levou a um questionamento sério. Por que não me tornar religioso? Ficou na minha cabeça e fiquei pensando enquanto frequentava encontros vocacionais na diocese. Quando assisti a um filme sobre o Padre Pio, aí me identifiquei e quis ser como aquele homem, por isso passei a procurar a vida religiosa franciscana. Um padre me indicou a congregação Oblatos de Cristo Rei. Ingressei no seminário e durante o processo de discernimento percebi que era importante para minha vida seguir a vida franciscana. Em Barretos - SP conheci a irmã de um franciscano menor conventual que passou a me acompanhar. Tive a possibilidade de estar em casa e descobrir onde Deus queria que eu estivesse, com calma.
Quais as principais dificuldades na formação?
Eu era muito retraído. O pessoal brincava que para conseguir arrancar uma frase inteira minha era difícil. Respondia mais com hum rum, tá, ok. Com a indicação dos formadores e a ajuda da comunidade fui aprofundando esse caminho e fui me soltando a ponto de chegar a me comunicar com clareza com as pessoas. Houve um ano muito intenso que foi o noviciado. Não é uma prisão, pelo contrário, é um exercício de liberdade para medir os valores que se quer abraçar. Trabalhei na Santa Casa de Santo André e na Casa de Acolhida, logo após os votos; foi importante encontrar os doentes, conversar, ouvir as pessoas, dar uma palavra de alento. Por trás de cada pessoa tem uma história humana e bonita cercada de fragilidades. Foi muito importante ter ido ao encontro das pessoas. Trabalhei também na pastoral vocacional ajudando os jovens que desejavam ingressar na Ordem.
Quais as alegrias que marcaram seu caminho?
Gosto muito de ouvir as pessoas. É muito prazeroso. Ajudar e dar um retorno é uma alegria. Sou feliz por responder à minha vocação, por estar no caminho que Deus me indicou. A gente olha para trás e vê o tanto que mudou, que não sou mais o mesmo, e que ainda tenho muita coisa para mudar.
Como foi sua ordenação?
Fui ordenado diácono em Curitiba em dezembro de 2021, pelas mãos de Dom Mariano Daneck, que é franciscano conventual. Em 3 de setembro de 2022 fui ordenado sacerdote na Catedral de Lorena, minha cidade natal. O bispo emérito Dom Benedito Beni dos Santos presidiu a cerimônia que foi muito bonita. Voltei aos pés da imagem de Nossa Senhora da Piedade onde tudo começou.
Como se sente como um padre novo?
Me sinto com alegria de estar respondendo à vocação que Deus me deu. Assumo com responsabilidade esse compromisso. O padre é aquele que leva Cristo, que leva o perdão, que ajuda a comunidade a se aproximar de Deus. Estou disposto a viver bem a responsabilidade que Deus me concedeu. Quais os desafios atuais para um jovem padre? São novos serviços na paróquia, novos contatos com as pessoas. Tenho também o trabalho na casa de formação e preciso balancear esses dois serviços. Não posso querer abraçar tudo, não somos “salvadores da pátria”, quem salva é Cristo e nós somos como que Seus “embaixadores”. Queremos ser servos fiéis. Há o risco de se perder em ativismos. Não podemos perder o espírito de oração e devoção que deve nortear todas as coisas. Não é o nosso mero fazer que leva à frente a missão, precisamos fazer muitas coisas, mas sempre lembrando qual é o fundamento. Precisamos caminhar juntos, viver como servos, fazer as coisas conjuntamente.
Qual a mensagem que o senhor deixa para os jovens que desejam se tornar religiosos?
O ser humano só se realiza quando se doa. E isso é muito belo. A vida consagrada é uma oportunidade de ter contato com as pessoas, ouvi-las, isso é realizador. Quando falamos sobre os votos religiosos, pobreza, castidade e obediência, pensamos no aspecto negativo, mas não é assim. Toda escolha gera uma renúncia, mas para fortalecer o grande sim da nossa escolha. A castidade é amar a Deus sobre todas as coisas; a pobreza é assumir Deus como a única riqueza, e isso se torna a liberdade para nós; o voto de pobreza também é altamente realizador porque nos coloca diante de um projeto muito maior do que a gente. São Maximiliano Kolbe diz que a vida franciscana tem muitos elementos que são importantes para o mundo. De fato, em um mundo em tantos conflitos, São Francisco, que estabeleceu relações de paz, nos inspira. A vida religiosa é uma profecia que aponta que não é o ter que define o ser humano, mas o ser. O mundo diz que o que importa é o eu, mas vemos que o que importa é o projeto de Deus no qual o eu se associa ao nós.
Fonte: Jovem Mílite
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