O trecho do Evangelho de hoje (18) é tão breve quanto simples. Os discípulos, que retornam da missão, relatam a Jesus tudo o que fizeram e ensinaram. O Senhor, por Sua vez, convida-os a um descanso em lugar afastado, pois o anúncio exigia tanto deles que não tinham tempo nem para comer (cf. Mc 6,30-31).
A partir desses versículos, pode-se concluir que o evangelista quer dizer que o anúncio do Evangelho é missão tão sublime e necessária quanto árdua e exigente. Por isso, o evangelizador deve estar disposto a dedicar-se a ela de corpo e alma, isto é, empregando todo seu tempo e suas energias.
Contudo, deve ser cuidadoso para não cair no “ativismo” presunçoso como se o sucesso da evangelização dependesse exclusivamente de sua eficiência e dedicação. A missão pertence a Jesus Cristo e é Ele que a conduz. Ele é o único Pastor (cf. Jo 10,8-14), capaz de se compadecer de seu povo (Os 11,8).
Com efeito, as pessoas ordenadas, que exercem o ministério pastoral na Igreja, não substituem a presença de Cristo, mas são a mediação humana por cujas funções Ele mesmo se faz presente. Portanto, a adesão pessoal ao Senhor Jesus, a referência absoluta e irrenunciável a Ele não podem ser descuidadas em hipótese nenhuma, nem mesmo sob pretexto de urgências do ministério.
Aliás, o ministério só é legítimo quando é expressão da comunhão com Cristo. É o “estar com o Senhor” que possibilita ser por Ele enviado (cf. Mc 3,14).
Na cena da multidão acorrendo a Jesus, precedendo-O ao lugar aonde se dirigia com Seus discípulos (cf. Mc 33-34), e na compaixão que Ele lhes demonstra, se caracteriza o Messias esperado. Pois, na Bíblia, a compaixão é, por excelência, uma característica do próprio Deus.
Portanto, se Jesus “moveu as entranhas de misericórdia” (cf. Mc 6,34a) é porque n’Ele Deus mesmo veio pastorear Seu rebanho. Assim, o povo que andava à deriva como ovelha sem pastor (cf. Mc 6,34b), agora, tem um guia seguro e o evangelista demonstra isso afirmando que Jesus “começou a ensinar muitas coisas” à multidão.
Essa observação é muito importante para se entender a atividade de Jesus como pastor: antes de saciar a fome de pão, é com Sua palavra que ele sacia as pessoas. A narração da multiplicação dos pães, que vem a seguir (cf. Mc 6,35-44), não pode ser separada dessa constatação que a precede: é com a “palavra” que Jesus busca reunir a multidão em um Novo Povo de Deus.
A Igreja antiga compreendeu bem isso, pois em seu rito eucarístico, propõe “duas mesas” interligadas: primeiro serve a da palavra, por meio da qual instrui a comunidade e, depois, serve a do pão, pela qual a alimenta. Cumpre, dessa forma, o duplo aspecto do pastoreio de Cristo.
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