No dia de hoje, em todo o mundo católico, multidões saem às ruas em procissão, com ramos nas mãos, recordando a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Não se trata apenas de seguir uma antiga tradição piedosa, mas de celebrar uma realidade que toca profundamente a nossa vida. De fato, depois da profissão de fé que Pedro fez em Cesareia de Filipe, no extremo norte da Terra Santa, Jesus dirigiu-se como peregrino ao Templo de Jerusalém para participar, com toda a comunidade de Israel, da Festa da Páscoa, memorial da libertação do Egito e sinal da esperança na libertação definitiva. Ele sabia que ali haveria de se realizar uma Páscoa nova, na qual ele mesmo substituiria os cordeiros imolados, oferecendo-se a si mesmo na Cruz. Sabia que, nos dons misteriosos do pão e do vinho, ele se daria para sempre aos seus, abrindo-lhes a porta para um novo caminho de libertação, para a comunhão com o Deus vivo.
Assim, a procissão do Domingo de Ramos é imagem de algo muito profundo, imagem do fato que nos encaminhamos em peregrinação, juntamente com Jesus, pelo caminho em que ele renovará o dom maior que se possa imaginar: dar-nos-á a sua vida, o seu corpo e o seu sangue, o seu amor. Mas um dom assim tão grande exige que o retribuamos adequadamente, ou seja, com o dom de nós mesmos, do nosso tempo, da nossa oração, do nosso viver em profunda comunhão de amor com Cristo que sofre, morre e ressuscita por nós.
Os antigos Padres da Igreja viram um símbolo de tudo isso num gesto das pessoas que acompanhavam Jesus na sua entrada em Jerusalém: o gesto de estender os mantos diante do Senhor. O que devemos estender diante de Cristo – diziam os Padres - é a nossa vida, ou seja, a nós mesmos, em sinal de gratidão e adoração. Com efeito, Santo André, Bispo de Creta, um desses antigos Padres, afirmava: “Em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de arbustos que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa murcham, prostremo-nos nós mesmos aos pés de Cristo, revestidos da sua graça, ou melhor, revestidos dele mesmo; sejamos como mantos estendidos a seus pés, para oferecermos ao vencedor da morte não mais ramos de palmeira, mas os troféus da sua vitória. Agitando os ramos espirituais da alma, aclamemo-lo todos os dias, juntamente com as crianças, dizendo estas santas palavras: “Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel”.
Que o Domingo de Ramos possa ser para nós o dia da decisão de acolher o Senhor e segui-lo até ao fim, a decisão de fazer da sua Páscoa de morte e ressurreição o sentido da nossa vida de cristãos. Sirva-nos de exemplo Santa Clara de Assis, que, exatamente num Domingo de Ramos, há mais de oitocentos anos, movida pelo exemplo de São Francisco e dos seus primeiros companheiros, deixou a casa dos pais para consagrar-se totalmente ao Senhor: com apenas dezoito anos de idade, teve a coragem da fé e do amor para se decidir por Cristo, encontrando nele a razão da sua vida.
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