Lendo o Evangelho

O reconhecimento dos reis magos

“Onde está o rei dos judeus recém-nascido?”

Frei Aloísio, Ministro Provincial

Escrito por Frei Aloísio Oliveira

06 JAN 2023 - 00H00

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Os magos são movidos por um desejo: querem encontrar Jesus para adorá-Lo. Eles eram astrônomos. Especialmente no ambiente mesopotâmico, a astronomia e a astrologia tinham uma antiga tradição e eram muito prestigiadas. Os acontecimentos do firmamento e os do mundo dos homens eram vistos em estreita relação recíproca. Tinha-se a convicção de que, quem fosse entendido dos fenômenos do firmamento, podia compreender, também, a história humana e dar conselhos e orientações sobre ela.

Desde o tempo do exílio babilônico, havia muitos judeus no território mesopotâmico, por meio dos quais a religião e as esperanças judaicas tornaram-se conhecidas. No âmbito de sua ciência, os magos recebem uma indicação sobre o nascimento do Messias e um impulso a pôr-se a caminho. Eles sentem só o estímulo, mas não têm um itinerário definido; sabem inclusive a direção, mas ignoram o que lhes espera. Põem-se, portanto, a caminho, assumindo incertezas e riscos.

Chegando a Jerusalém, pensavam ter chegado à meta, mas ali só encontram, por meio dos escribas, a revelação das Sagradas Escrituras que os remete a outro lugar: Belém da Judeia.

Com efeito, toda busca humana permanece insuficiente e para no meio do caminho sem o concurso da Força do Alto, concretizada para os magos na revelação das Sagradas Escrituras. Recebida essa revelação, a estrela que os havia guiado a Jerusalém e ali desaparecera, de novo, reaparece, conduzindo-os a Belém, até parar sobre o lugar em que estava o menino (cf. Mt 2,9). A “atuação” divina, de fato, não suplanta e não substitui a busca humana, mas a potencializa, fecundando-a da imensidão própria do ser humano cuja origem é um sopro divino (cf. Gn 2,7).

Tendo encontrado o menino, os magos prostram-se diante dele e, abrindo seus tesouros, oferecem-lhe ouro, incenso e mirra. Assim, no menino pobre e indefeso, despojado de qualquer sinal de realeza, reconhecem o Senhor, Pastor e Rei de todos os povos.

Certamente, o tesouro aberto pelos magos foi seus corações, dando àquele “recém-nascido” toda sua afeição, mais preciosa que o ouro refinado e mais perfumada que incenso e mirra. Por isso, voltaram às suas terras por outro caminho (cf. Mt 2,12). Pois quem encontra a iluminação cristã e lhe dedica toda afeição já não é o mesmo. Certas coisas que faz podem até serem as mesmas, mas as atitudes são diferentes. Já não se contenta com a antiga maneira de viver. A mudança se impõe por si mesma, qual lâmpada que incandesce desde dentro.

Em contraste com a figura dos magos, surge a de Herodes, um rei tão cruel, que não hesitou em matar seus três filhos por interesses de poder. Ele esconde sua rejeição brutal pelo Menino Jesus, demonstrando um falso interesse de encontrá-lo com a ajuda dos magos. Sua verdadeira intensão fica desmascarada, depois, pelo infanticídio que ele desencadeou (cf. Mt 2,16).

O contraste entre a atitude dos magos e a de Herodes é uma amostragem do que será o destino de Jesus, isto é, ele será aceito e amado por alguns e rejeitado e odiado por outros.

Em obras artísticas, ao longo da História, os magos foram, em geral, representados como um jovem, um adulto e um idoso; sendo um asiático, um europeu e um africano. Obviamente, isso não corresponde, literalmente, ao texto, mas ao espírito do Evangelho. Essa intuição comum revela que o Evangelho é destinado às pessoas de todas as idades e de todos os continentes. Assim, todos nós, quando, abrindo nosso coração, oferecemos a Jesus Cristo o tesouro de nossa afeição pondo-nos, concretamente, em seu seguimento, tornamo-nos autênticos destinatários de sua Boa-Nova; quando isso acontece, realmente não há dúvida de que voltamos para nossa vida por outro caminho (cf. Mt 2,12), ou seja, transformados.

Escrito por
Frei Aloísio, Ministro Provincial
Frei Aloísio Oliveira

É Ministro Provincial da Província São Francisco de Assis dos Frades Menores Conventuais e especialista em Sagrada Escritura.

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