No trecho do evangelho de hoje, registra-se a missão de Pedro. Após sua confissão de fé em Jesus, lhe é dito: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Santo Agostinho comenta esta passagem dizendo que Jesus não diz “tu és pedra”, mas “tu és Pedro”. Isto porque não é a “Pedra” que vem de Pedro, mas é Pedro que vem da “Pedra angular”, que é Jesus. Isto é muito importante para se entender o ministério de Pedro e a missão do Papa na Igreja. É o co-pertencimento de Pedro a Jesus, “Pedra angular” da Igreja, que lhe garante a autoridade para guiar e consolidar na fé a comunidade cristã.
Com efeito, o ministério conferido a Pedro pela entrega das chaves indica um serviço especial. Antigamente, recebia as chaves o servo encarregado de administrar a casa de seu senhor e de cuidar de sua família. Sendo a Igreja a “Casa” e “Família” do Senhor, a Pedro e seus sucessores, os papas, cabe administrá-la e cuidar dela.
A missão de Pedro vai acompanhada de uma promessa: “As forças do inferno não poderão vencer a Igreja do Senhor” sob a liderança e cuidados do Apóstolo (Mt 16,18). A solidez inabalável da Igreja, portanto, vem do fato de o seu fundamento ser Jesus, que Pedro confessou como sendo o Cristo, o Filho do Deus Vivo. Essa confissão de fé saída da boca de Pedro, não como palavra de sabedoria humana, mas como revelação do Pai do Céu, é que edifica e sustém a Igreja.
O caminho da fé de Paulo é bem diferente do itinerário da fé de Pedro. Se Pedro representa o fundamento institucional da Igreja, Paulo aparece mais como fundador carismático. Ele não conheceu o Jesus histórico. Ele encontrou o Jesus da fé, através daquela visão narrada nos Atos dos Apóstolos. Paulo viajava para Damasco, determinado a perseguir e exterminar os cristãos, quando ouve a voz do próprio Senhor: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9,4). Este episódio marcou uma reviravolta completa em sua vida, de forma que ele se transformou de perseguidor em pregador incansável da mensagem cristã por todo o mundo. Foi ele, de fato, que realizou mais plenamente a missão dos apóstolos de serem testemunhas de Cristo “até os confins da terra” (At 1,8). Tornando-se pregador do Evangelho entre os pagãos, Paulo tornou realidade a universalidade da Igreja, da qual Pedro foi instituído guardião.
No desafio de sua atividade missionária, Paulo estava convicto de que o núcleo da mensagem do Evangelho é a cruz de Cristo. A sabedoria da cruz é que dá consistência ao anúncio do Evangelho. O mundo em que ele vivia estava dividido entre a religiosidade rígida dos judeus farisaicos e o mundo pagão, que oscilava entre a dissolução moral e o fanatismo religioso. Neste contexto, o Apóstolo anunciou, como salvação, o Cristo Crucificado: escândalo para os judeus e loucura para os pagãos, mas força e sabedoria de Deus para todos os que nele creem. (1Cor 1,22-24).
Pedro e Paulo representam duas dimensões da vocação apostólica, diferentes, mas complementares. As duas foram necessárias para que pudéssemos celebrar hoje os fundadores da Igreja universal. A complementaridade dos carismas de Pedro e Paulo continua atual na Igreja hoje: de um lado, a necessidade da responsabilidade institucional e, de outro, a urgência da criatividade missionária para responder aos desafios de uma nova evangelização, mais adequada aos tempos atuais.
A história destes dois apóstolos conta o que graça de Cristo pode realizar na vida de cada um de nós. Pedro, frágil na fé, negou Jesus no momento da paixão, e isso não impediu que o Senhor lhe confiasse a missão de guiar a sua Igreja; Paulo, o implacável perseguidor dos cristãos, foi transformado no mais ardoroso pregador do Evangelho, a ponto de dizer: “Ai de mim, se eu não evangelizar!” (1Cor 9,16). Isto significa que, embora a nossa vida cristã se comprove pelos frutos de conversão, não somos redimidos pelos nossos méritos, mas pela graça que nos foi concedida em Jesus Cristo. “Dele recebemos graça sobre graça” (Jo 1,16).
33º Domingo do Tempo Comum l 17 de novembro de 2024
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