Por Claudia Varotti Em Nossa Senhora Atualizada em 20 SET 2021 - 18H51

Círio de Nazaré

Maria faz parte do universo católico em todos os seus recantos, nos estudos acadêmicos, nas manifestações artísticas, nas devoções populares. Ela é presente na vida de todo devoto, é a Ela que recorremos nos momentos de sofrimento e quando nos alegra


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Círio é realizado todos os anos em outubro, desde 1793


Maria faz parte do universo católico em todos os seus recantos, nos estudos acadêmicos, nas manifestações artísticas, nas devoções populares. Ela é presente na vida de todo devoto, é a Ela que recorremos nos momentos de sofrimento e quando nos alegramos agradecemos a Ela pela intercessão divina. Maria é o caminho que nos leva ao Filho e ao Pai.

Maria é um fenômeno acadêmico, há uma imensa quantidade de estudos sobre essa simples mulher que ouviu ao seu Deus, o qual é também nosso Deus. Alguns fenômenos são impressionantes, como o fenômeno do Círio de Nazaré, essa tradição é uma das mais antigas no Brasil e reúne milhares pessoas, que vêm de todos os lugares do Brasil, algumas pessoas vem de outros países para observar essa manifestação religiosa que toma conta do estado de Pará.

Antes de falarmos sobre a festa vamos entender a composição da imagem de Maria de Nazaré. A tradição conta que foi São José que esculpiu uma imagem da esposa, com Seu Sagrado Filho nos braços. Essa escultura, com o início das primeiras comunidades cristãs, passou a visitar esses espaços para fazer memória da origem de Nosso Senhor Jesus e da importância do “sim” de sua Mãe à vontade de Deus, mas com o decorrer dos anos se perdeu a localização da Imagem. No Século XII um cavaleiro português a teria encontrado e construído uma pequena capela em Portugal, onde a devoção popular iniciou-se, se tornando um espaço de orações e para ofertar velas em retribuição aos pedidos atendidos.

No Brasil, no início do Século XVII, uma imagem com a composição da devoção de Nossa Senhora de Nazaré foi encontrada perto de um igarapé por um caboclo chamado Plácido José de Souza, ele levou a imagem consigo para casa, mas no dia seguinte ele foi a procura da imagem que havia desaparecido. Voltou a encontra-la no mesmo igarapé e assim aconteceu em muitos outros dias até que Plácido entendesse que Maria queria estar perto do igarapé, por que, ali havia uma estrada, assim todos poderiam partilhar a mesma sensação de proteção, conforto e bondade as quais Ela, Nossa Mãe havia ofertado ao pobre caboclo. Nesse espaço foi construída uma pequena capela e várias outras foram sendo feitas, conforme o número de devotos crescia aumentava-se o tamanho da capela, até ser construída a Basílica Santuário.

A festa de Nossa Senhora de Nazaré ou conhecido também como Círio de Nazaré acontece em outubro em vários dias, como se fossem etapas nos preparando para irmos ao encontro da Mãe. O nome Círio de Nazaré é uma referência ao Nosso Senhor Jesus Cristo, onde o Círio Pascal nos salvou e nos oferta a Luz do amor eterno de Deus por nós. Assim Maria é a luz que nos leva a Luz de Cristo.

As etapas das comemorações do Círio de Nazaré são divididas em: Translado, Vigília noturna, Romaria rodoviária, Romaria fluvial, Moto-romaria, Trasladação e finalmente a Procissão do Círio de Nazaré.

A procissão ou romaria é o ponto central da festa, onde Maria de Nazaré é colocada na Berlinda (berlinda é uma pequena capela de vidro e madeira policromada), essa pequena capela é decorada com flores, a imagem de Maria de Nazaré recebe todo ano um novo manto, o qual é ofertado por devotos de todas as esferas sociais e temos, finalmente, a corda. Diz a tradição que a corda foi utilizada pela primeira vez em 1885, pois a Berlinda havia ficado atolada em decorrência de uma enchente, após esse fato a corda passou a ser incluída na composição dos itens devocionais da festa.

Estudar as manifestações devocionais marianas é sempre emergir em uma infinidade de símbolos, ações, entrega, esperança e um infinito amor a Nossa Mãe Maria, desses símbolos devocionais que fazem parte da composição do fenômeno do Círio de Nazaré dois me chamam muito a atenção, o primeiro é a corda. Esse objeto simples, sem grandes detalhes ou valor econômico é disputado pelos devotos, que querem ao menos que seja por alguns minutos tocar na corda, como se fosse um cordão do rosário que podemos empunhar e pedir: “Cuide de nós Maria do puro amor”. Os devotos se espremem, desprezam sua própria segurança para que possam se aproximar da imagem e da berlinda, o desapego que vem a dizer: “Maria eu confio em vós”, estou aqui descalço, sem me preocupar com o calor de 40 graus que está fazendo, se querer saber se a tempestade vai chegar, para poder me aproximar de Ti, que me levará ao Pai.

Outro componente da tradição que me encanta é o encontro da imagem pelo caboclo Plácido: Maria sempre se dirige aos pobres e excluídos, nesse fenômeno ela se dirige a um homem fruto da mestiçagem. Você encontrará muitos países com um enorme número de imigrantes como o Brasil, mas nenhum com a nossa mestiçagem, essa é uma característica brasileira da qual me orgulho muito, somos inclusivos de berço, toda família brasileira é fruto da união de vários componentes com diferentes etnias e tradições, juntamos todas essas diferenças e compusemos um povo que, por exemplo, come acarajé na Praça da Liberdade em São Paulo, num bairro de imigrantes japoneses.

Entretanto, do momento da descoberta da imagem até a construção da primeira capelinha, vários foram os enganos que o caboclo Plácido experimentou, pois ele desejava ter consigo Nossa Mãe, assim como no evangelho de Mateus existe a parábola do tesouro escondido num campo, acreditou que a Mãe Maria de Nazaré deva ficar somente com ele mas, a Mulher vestida de Sol veio para estar com todos os seus filhos. Ela pacientemente vai mostrando para Plácido onde deve ficar, em um espaço de igarapé, o qual era perto de uma estrada, para que todos que passassem por aquele caminho vissem as maravilhas de Deus e seguissem Jesus que é a Luz, a Verdade e a Vida.

Como eu, damos trabalho para Maria, Jesus e Deus Pai, sem contar o Espírito Santo, quantas vezes colocamos coisas no lugar errado, assim como Plácido, teimamos em querer fazer as coisas a nossa maneira, sem olhar os caminhos que devem ser percorridos, como seguramos em uma corda que nos leva ao barranco não é a corda do Círio de Nazaré, mas a corda que nos enforca em um mundo de futilidades, intrigas e egoísmo, como enfeitamos uma berlinda que carrega os nossos pecados que não foram confessados, não é uma Berlinda que carrega Nossa Mãe, repleta de flores naturais e preparadas para ser admirada por todos os filhos de Deus, não, nossa berlinda quer desaparecer dos olhos do mundo para que não apresente nossas faltas e falhas, nossas omissões e ações que não agradam aos olhos de Deus.

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