Escrito por: Irmão Eder Vasconcelos
O Papa Francisco tem sem¬pre os pobres diante de seus olhos. Entre os mais pobres dos pobres estão certamente os povos indígenas, os povos originários que há mais de quinhentos anos resistem a um processo de destruição e degradação.
Em seu discurso em Puerto Maldonado, Peru, o Papa afirmou: “Provavelmente, nunca os povos originários amazônicos estiveram tão ameaçados nos seus territórios como o estão agora”. Esta fala do Papa nos remente à tragédia vivida nos últimos meses pelo povo Yanomami, desnutrido, prostrado e barbaramente abandonado. Vida de crianças, jovens e adultos ceifadas pelo descaso. As imagens veiculadas pela imprensa e nas mídias digitais são dramáticas. São imagens gritantes que nos lembram os campos de concen¬tração nazistas da Segunda Guerra Mundial. Chega-se a falar em um verdadeiro genocídio deste povo. Mais uma vez falhamos como sociedade, como humanidade.
Por que tanta maldade? A resposta não poderia ser outra: tudo pela ganância desenfreada pelo ouro, pela terra. Tudo em nome do capitalismo selvagem que coloca o lucro acima do ser humano. Quanta desumanização praticada por aqueles que são os verdadeiros guardiões e guardiãs das matas e das florestas!
O Papa sabe reconhecer a importância dos povos indígenas e sua genuína contribuição para o cuidado integral da ecologia, da Terra: “Vós sois memória viva da missão que Deus nos confiou a todos: cuidar da Casa Comum”, afirma Francisco. Os povos originários são memória viva do cuidado com o espaço sagrado, a Mãe Terra, Pachamama. As palavras do Papa estão em perfeita sintonia com o pensamento do xamã Yanomami Davi Kopenawa ao criticar a forma como os brancos veem a ancestralidade: “Os brancos desenham suas palavras porque seu pensamento é cheio de esquecimento. Nós guardamos as palavras dos nossos an-tepassados dentro de nós há muito tempo e continuamos passando seus ensinamentos para os nossos filhos”. A palavra ancestral, ou melhor, a sabedoria ancestral na cultura nativa é guardada na mente, no espírito, no coração. Os velhos, isto é, os sábios indígenas, são uma verdadeira biblioteca. Guardam as palavras sagradas. Guardam a memória ancestral. Guardam os mistérios das matas e dos rios.
Ainda em sua visita a Puerto Maldonado o Papa dirigindo-se diretamente a vários e diferentes povos indígenas presentes, disse: “Obrigado pela vossa presença e por nos ajudar a ver mais de perto, nos vossos rostos, o reflexo desta terra. Um rosto plural, de uma variedade infinita e de uma enorme riqueza biológica, cultural e espiritual. Nós, que não habitamos nestas terras, precisamos de vossa sabedoria e dos vossos conhecimentos para podermos penetrar – sem o destruir – o tesouro que encerra esta região”. Francisco se coloca numa atitude de reverência, respeito e proximidade diante dos povos nativos. Reconhece a pluralidade e a vasta riqueza biológica, cultural e espiri¬tual de cada povo. Um verdadeiro tesouro a ser preservado e cuidado para o bem da humanidade.
Na sua recente visita pastoral ao Canadá, o Papa pediu perdão aos indígenas por abusos cometidos por integrantes da Igreja Católica: “Peço perdão, em particular, pela maneira como integrantes da Igreja e de comunidades religiosas colaboraram com o projeto de destruição cultural promovido pelos governos, que resultou nas escolas residenciais”. Pedir perdão é gesto de profunda humildade. O perdão cura as feridas abertas pelas injustiças e pelos abusos. Francisco é homem do perdão e da reconciliação. Um peregrino da paz e do bem!
O Santo Padre, com tristeza, relembrou ainda as ações cometi¬das nas escolas. “Penso nas histórias que vocês me contaram: as políticas que marginalizaram os povos indígenas, como suas lín¬guas e culturas foram suprimidas; sobre os abusos físicos, verbais, psicológicos e espirituais que as crianças sofreram; por eles terem sido retirados de suas casas muito novos”. A atitude de Francisco é de reparação e perdão dos erros, equívocos e injustiças da própria Igreja contra os povos indígenas. Essa atitude reparadora exige de cada cristão católico uma tomada de consciência do preconceito, do racismo e da indiferença em relação aos povos originários e outros povos. Somos todos irmãos e irmãs na grande comunidade de vida ter¬rena e cósmica. Na grande maloca, nome dado em tupi para a habitação indígena, tudo está ligado e interligado. Nós, brancos, não somos melhores que os povos da floresta. Somos todos imagem e semelhança de Deus Pai e Mãe da criação.
Assim, a cosmovisão dos povos originários tem muito a dizer, a ensinar à “sociedade da distração” do século XXI. Na Exortação Apostólica Pós-sinodal, Querida Amazô¬nia, o Papa Francisco recorda que temos muito a aprender dos povos originários. Diz ele: “Aprendendo com os povos nativos, podemos contemplar a Amazônia, e não ape¬nas analisá-la, e não apenas usá-la, para que o amor desperte um interesse profundo sincero; mais ainda, podemos sentir-nos intimamente unidos a ela, e não só defendê-la: e então a Amazônia tornar-se-á nossa como uma mãe”. Em última análise, com os povos habitantes da floresta amazônica podemos aprender a arte de contemplar a vida com serenidade e naturalidade. Podemos aprender a arte do cuidado amoroso e generoso para com a Terra, nossa Mãe, nosso lar, nossa vida. Podemos aprender a arte do Bem-viver e do Bem-conviver com tudo e com todos.
Fonte: O Mílite
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