Por Túlia Savela Em A Igreja no Rádio 2ª Edição

Força do desapego

A crônica "A pequena bolsa" ilustra a força do desapego e mostra que agir de forma nova e fazer algo a mais desarma disputas





Por Dom Pedro José Conti, bispo de Macapá, no Amapá

Certa vez alguns bandidos chegaram à cabana onde morava um eremita. Disseram para ele: "Viemos para levar tudo da tua casa". Ele respondeu: "Meus filhos, podem levar tudo aquilo que estão vendo". Eles pegaram tudo aquilo que encontraram e foram embora. Porém, esqueceram uma pequena bolsa que não era visível. Então o monge pegou a bolsa e correu atrás deles chamando-os: "Meus filhos, tomem esta também! Vocês a esqueceram!" Eles ficaram tão surpreendidos pela força de suportação do sábio que se arrependeram e lhe devolveram tudo. Disseram entre eles: "Ele é de verdade um homem de Deus!"

No Evangelho deste domingo, Jesus segue com a Sua proposta de uma “maior justiça”. “Olho por olho, dente por dente” continua sendo aquela que nós chamamos de justiça “retributiva”, ou seja, tanto tirei, tanto devo repor. Nada mais, mas também nada menos. Esta justiça já era melhor do que uma possível vingança exagerada ou de uma condenação a uma pena desproporcional ao crime cometido. Portanto, pode parecer uma justiça, digamos, justa. No entanto, as coisas são mais complexas. Os anos de prisão não devolvem à família o ente querido que, por exemplo, foi tirado ou os bens que foram roubados.

Muitas vezes esse tipo de justiça se assemelha mais com a satisfação de uma vingança do que com uma real transformação dos relacionamentos humanos. Devemos reconhecer que esta justiça é fria e incapaz de mudar as pessoas. O processo se torna um amontoado de papeis e, às vezes, se arrasta por anos nos tribunais. Sobram mágoas, raiva e revolta, talvez, também, claro, arrependimento.

Por isso, de alguns anos para cá, ousamos falar de justiça “restaurativa”, algo diferente que tenha como objetivo a recuperação das pessoas envolvidas seja do lado dos criminosos, seja do lado das vítimas e dos seus familiares. Precisa de muita paciência, humildade e desejo de recomeçar.

Quando a aproximação entre os dois lados funciona, todos se tornam mais humanos. Quem errou percebe o estrago que fez, mas também as vítimas se libertam dos sentimentos do ódio e da vingança.

Jesus, no Evangelho, nos ensina a surpreender quem nos tirou a túnica, oferecendo-lhe também o manto. Tudo isso para aprender a dar muito mais valor aos relacionamentos entre as pessoas do que aos objetos que talvez nos tenham sido tirados. No fundo, existe sempre uma grande “dívida” social com os mais pobres e excluídos. Somente a generosidade e a partilha podem resgatar vidas e apaziguar os ânimos de todos.

Em seguida, Jesus nos pede para amar os nossos inimigos e rezar por aqueles que nos perseguem. Parece algo impossível e, com certeza, não é nada fácil. No entanto, mais uma vez, para que as coisas mudem de verdade, precisamos agir de uma forma nova, fazer algo a mais, que desarme quem disputa conosco.

Já deveríamos ter procurado a reconciliação com o irmão, que tem algo contra nós, antes de apresentar a nossa oferta ao altar (Mt 5,23-26), mas, se o nosso irmão não quer a paz, age como inimigo nosso, o que podemos fazer?

Desta vez entra em jogo o nosso orgulho e a nossa convicção absoluta de estarmos do lado certo. É o outro que nos ofendeu, é ele que deve pedir desculpa, é ele que deve fazer o primeiro passo. E se ele não fizer nada porque pensa igual a nós? Continuaremos inimigos para sempre, vivendo o resto da nossa vida de costas viradas um para o outro? A nossa consciência não sente nem um pouco o desejo da reconciliação?

Construímos muros, para nos esconder, mas também para não ver, não nos aproximar e nem deixar que o outro se aproxime. Queremos deixar claro que por lá passarão somente os que consideramos e selecionamos como “amigos”. Os demais, podem não ser inimigos, mas não merecem confiança, que fiquem fora.

Segurança é uma coisa, mas discriminação e exclusão é outra. Estamos muito longe de ser “perfeitos” como o nosso Pai celeste é perfeito. Mas não vamos desistir. Talvez baste um pequeno passo, uma pequena bolsa esquecida e oferecida, para transformar o coração nosso e dos outros.

Confira também a reflexão proposta por Dom Nelson Westrupp, Bispo Emérito de Santo André, preparada para os ouvintes do programa A Igreja no Rádio, da Rádio Imaculada:

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Por Túlia Savela, em A Igreja no Rádio 2ª Edição

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