Por Gabriel Queiroz Em Colunista Atualizada em 13 OUT 2020 - 17H27

Enfermeira: ela é linha de frente

Assim como num embate, cada um fica em sua posição, enquanto eles enfrentam a linha de frente, nós fazemos a nossa parte através da intercessão




Ela é acordada cedo por um despertador estridente que não perdoa mais 5 minutinhos. Um banho frio ajuda a despertar e a colocar as idéias no lugar; Um choque térmico e de realidade. O café forte antecipa como será o dia e a cafeína injeta adrenalina nas veias para poder, enfim, começar as atividades.

Vê o filho dormir de longe e fecha os olhos se teletransportando para dentro de um abraço que gostaria de dar, mas por amar muito, sabe que o afeto antecede o gesto. O esposo chega apressado com sacolas e diz “eu te amo”, pondo na mesa o trivial. Ela retribui o gesto e sinaliza atraso.

Se veste rapidamente pensando no trabalho, clama a Nossa Senhora e um punhado de santos de devoção, forças para suportar o dia e condições para servir de socorro ao próximo. Ao mesmo tempo que sai, pede a Deus que fique e cuide dos seus. Pede não por desencargo, mas por realmente acreditar que pode ser vitima da enfermidade que tanto combate.

Ela é linha de frente, não uma linha sofisticada como a dos times de futebol. Nada de troféus no final do expediente. Uma linha muito tênue onde num piscar de olhos, aquele que luta pode ser vencido, mesmo munido de uma série de cuidados.

Ela chega em seu espaço de trabalho, que diferente de escritórios e consultórios, não transborda monotonia. Muito pelo contrário, coleciona contratempos e em menos de 1 minuto, já cruzou uma centena de vidas que lutam, uma a uma pelo mesmo objetivo: permanecer.

Ela corre para ajudar a Dona Maria que chegou em uma ambulância com um filho desesperado a tira-colo. Ela trabalha em prol da doente e ampara o acompanhante. Ela é chamada para outra sala pois o Seu José teve um agravamento de quadro e vai precisar ser transferido para uma Unidade de Terapia Intensiva. Jesus do céu! Histórias se repetem, outras são inéditas e ficam guardadas pra sempre na memória. Sinal da cruz e segue em frente driblando o caos, o medo e a falta de paz com muito amor pelo que faz.

Ela é linha de frente, ela é enfermeira, mas em meio período já foi psicóloga, mãe, amiga, filha, anjo, cuidadora. Ela transborda tudo o que tem e até um pouco mais. Bota o cansaço no bolso e não se faz de rogada. Se o sorriso não partir dela, o cinza pode perdurar o dia inteiro. Pecar por falta de iniciativa não faz muito o seu perfil, afinal, ela é o que é justamente por sua proatividade.

Desde a faculdade aprendeu a ter outro olhar sobre a morte, lembra com lucidez da primeira “baixa” que presenciou. Hoje ela sabe administrar a dor mas ainda não a alegria, de cada alta que é dada, de cada gesto de gratidão dito em uma refeição, em mimos que recebe por tanta troca e cuidado.

Se falando da rotina fica difícil enxergar a felicidade, eis aqui o motivo que faz ela continuar. Protetora da vida, compreende o valor desse tesouro e luta até o último segundo para que o “amém” das preces resultem em um final feliz. Deixa um pouco de sua luz em cada pessoa que toca e no final do plantão ainda não se dá por vencida.

Tem casa, comida e uma outra instituição a servir, que é conhecida como lar. Respira aliviada por ter conseguido vencer mais um dia. O banho dessa vez é quente para conduzir para o ralo todas as preocupações e não carregar em casa um peso que é do trabalho. Os ombros relaxam, os músculos doem, mas a felicidade chega num riso tímido ao se olhar no espelho e perceber tudo o que fez.

Na mesa está o esposo, o filho e um jantar especial. Ela não entende o capricho repentino, pensa um pouco mais a fundo e é interrompida por um bolo com velas de faíscas generosas. Era seu aniversário e mal percebeu, de tanto viver pro outro, de si mesma ela esqueceu. Assopra as velas sem graça e cai na gargalhada por pensar naquela situação. O abraço que tanto queria dar, recebeu em dobro e mal cabia em si de tanta gratidão.

A cabeça no travesseiro esconde orações poderosas, pela família, pelos amigos, pelos colegas de trabalho, por cada paciente que, ansiosamente, busca experimentar a cura. Ela é uma mulher de fé, pois entende que é humanamente impossível, se doar tanto aos outros e continuar de pé. Ela se nutre primeiro, para depois nutrir. Ela se fortalece primeiro, para que seja a última a precisar de fortaleza. Ela é o "feliz terceiro" por profissão, missão e vocação.

Ela poderia ser Madre Tereza, Irmã Dulce. Ela poderia ser São Lucas, São Camilo de Lellis. Mas ela é uma mulher comum, mãe, filha, amiga. Esse texto nada mais é do que um pequeno pretexto para gerar empatia e incluir os profissionais da saúde nas suas orações. O nosso pedido a Deus por estes, deve ser constante e não só diante a esta pandemia.

Aqui no texto a protagonista foi uma mulher, mas na vida real é um leque bem mais aberto. Essas mulheres e homens se desdobram para que a chama da vida fumegue por mais tempo e tem precisado muito de nossa contribuição. O físico só vence o combate quando o espiritual está fortalecido. Caso o físico padeça, o espiritual alcança o lugar que sempre almejou estar: o céu.

Assim como num embate, cada um fica em sua posição, enquanto eles enfrentam a linha de frente, nós fazemos a nossa parte através da intercessão.

Escrito por
Gabriel Lopes
Gabriel Queiroz

Formado em Rádio, TV e Internet, atua como produtor audiovisual na Rede Imaculada de Comunicação. É um entusiasta da cultura e do entretenimento e acredita, assim como São João Paulo II, na força da arte como ferramenta para adentrar os corações.

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