Por Jorge Lorente Em Formação

A difícil tarefa de julgar

“Você julga os outros? Seja quem for você, não tem desculpa. Pois, se julga os outros e faz o mesmo que eles fazem, você está condenando a si próprio” (Rm 2,1)

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Confesso que fiquei muito preocupado a partir do momento em que percebi que, a cada dia, minha audição vinha piorando. As pessoas me ligavam e eu quase não ouvia o que diziam. Pedia que falassem mais alto, mas pouco adiantavam seus gritos. Aquilo foi me angustiando. Não conseguia desviar minha mente do problema. Mais do que nunca, me pus a rezar enquanto aguardava o dia da consulta com a doutora Cynthia.

Finalmente chegou o dia da consulta. Depois de uma bateria de exames, com um ligeiro sorriso, a jovem doutora me deu seu parecer, dizendo: “Seu Jorge, pode ficar tranquilo. Estou prescrevendo uma receita sugerindo a compra de um celular novo. É nele que está o problema. Seu ouvido está muito bom”. Gente, eu vibrei de alegria. Felizmente, minhas preces foram ouvidas. Apesar do alto custo de um novo aparelho. Esta foi uma das poucas vezes em que eu admiti que a falha pudesse estar em mim. Normalmente, procuramos jogar a culpa naqueles que nos rodeiam.

Uma antiga fábula apresenta uma girafa dentro de um lago e um macaquinho, que não sabia nadar, perguntando a ela se o local era fundo. Inocentemente, a girafa respondeu: “É rasinho, pode mergulhar, a água só chega até ao meu pescoço!”. Esquecemos que a realidade do outro não é a nossa realidade.

Isso tudo me relembrou a história de um casal de idosos. Ele confidenciou a um amigo a sua preocupação com a saúde de sua esposa, pois ela vinha perdendo a audição, já quase não ouvia o que ele lhe dizia, e ficava muito brava quando ele a aconselhava a agendar uma consulta com um especialista.

Para confirmar a intensidade da perda de audição da esposa, o amigo sugeriu que ele fizesse um teste falando com ela de certa distância. Caso ela não ouvisse na primeira vez, que se aproximasse um pouco mais e falasse novamente, e assim, consecutivamente, fosse repetindo, até descobrir qual a distância em que ela conseguia captar sua voz.

Naquela mesma tarde, enquanto sua esposa estava distraída fazendo o jantar, da sala, ele gritou: “Querida, o que temos para o jantar?”. Ficou aguardando a resposta, e nada. Aproximou-se um pouco mais, gritou novamente e nada. Preocupadíssimo com o estado avançado de sua surdez, ele chegou bem pertinho dela e gritou novamente: “Querida, o que temos para o jantar?”.

Com uma cara bem feia ela voltou-se para ele e disse: “Que gritaria é essa, João, está ficando louco?”. “Eu já lhe respondi por três vezes que no jantar teremos frango ensopado com arroz branco!”.

Escrito por
Jorge Lorente
Jorge Lorente

Locutor da Rádio Imaculada, colunista e escritor de vários livros consagrados. Seu último lançamento foi a obra "Maria, mãe e mulher".

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