Lendo o Evangelho

Bem-aventurados os que ouvem a Palavra e a compreendem

Escrito por Frei Aloísio de Oliveira

16 JUL 2023 - 00H00

Igreja Metodista

A parábola do semeador, ou melhor, das sementes produtivas e improdutivas, refere-se às diferentes reações à pregação de Jesus sobre o Reino dos Céus. Com efeito, Ele experimentou um doloroso fracasso em sua missão, pois os líderes judeus O hostilizavam e combatiam e a multidão, antes entusiasta, começou a abandoná-Lo (cf. Jo 6,60-71). É nesse contexto de crise caracterizada por oposição e deserção que Jesus conta a parábola do semeador, para afirmar que, embora sua missão tenha sofrido um duro revés, não foi terminantemente aniquilada. Pois Ele mesmo é o semeador que espalhou generosamente as sementes do Reino de Deus na história humana e nada poderá impedir que sua força salvífica se irrompa no futuro. Assim como entre a semeadura e a colheita há uma ligação estreita e necessária, também entre sua missão e a vinda do Reino há um vínculo indissolúvel.

Na perspectiva eclesial do evangelho de Mateus, a questão central da parábola é a “escuta da Palavra do Reino”. Tal escuta opera uma clara distinção entre a multidão a quem Jesus fala em parábolas, à beira da praia, e os discípulos a quem Jesus, em casa, explica os “mistérios do Reino”. Para Mateus, esse grupo privilegiado se identifica com os doze discípulos, que se tornam, na verdade, o modelo ideal de Igreja, a quem é dirigido o Evangelho, pois à comunidade cristã é dado entender “os mistérios do Reino dos céus” (v.11), quer dizer, o projeto secreto e definitivo de Deus sobre a história humana, sua realeza e senhorio no mundo, revelado e realizado por Jesus Cristo, em seu destino misterioso e paradoxal de rejeição, sofrimento e humilhação.

Os discípulos são bem-aventurados, portanto, por ver, escutar e compreender a Palavra de Jesus que os torna herdeiros do Reino. Os judeus são cegos e surdos, estranhos à revelação salvífica de Deus, exatamente por não acolherem tal palavra. Assim, os vários tipos de terreno, que indicam as diferentes acolhidas da palavra, resumem-se, na verdade, a apenas dois: quem ouve a palavra e não a compreende (cf. v.19) e quem a ouve e compreende (cf. v.23).

“Quem ouve a Palavra do Reino de Deus” é o fiel, membro da comunidade, que acolheu o primeiro anúncio do Evangelho e também recebeu ulteriores ensinamentos, mas não os compreendeu. Não se trata, obviamente, de uma compreensão intelectual, mas de uma assimilação personalizada, amadurecida na experiência, que leva a um agir correspondente. A partir da realidade da comunidade de Mateus, há duas principais ocasiões em que o fiel é posto à prova na escuta e entendimento da Palavra: a primeira é motivada pelo ambiente externo de tribulações e perseguições que o levam a abandonar o testemunho da fé cristã; a segunda possui uma causa interna: é quando o cristão se envereda na busca de bens materiais e nas preocupações do mundo de modo a sufocar em si a Palavra, impedindo-a de dar frutos (cf. v.22).

O ouvinte bem-aventurado, simbolizado pelo terreno bom, é quem escuta a Palavra e a compreende, isto é, ele a põe em prática de modo ativo e perseverante, sem se deixar vencer pelo medo das provações e sem permitir que outras coisas tomem o lugar de Cristo em sua vida.

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