Lendo o Evangelho

Quando ainda estava escuro

Ser iluminado pela luz de Jesus Ressuscitado e ter vida nova. Essa é a experiência que todos devemos viver nessa Páscoa do Senhor, depois de percorrer pelo caminho no escuro a procura do Filho de Deus

Frei Aloísio, Ministro Provincial

Escrito por Frei Aloísio Oliveira

17 ABR 2022 - 00H00

O quarto evangelho gira em torno do binômio “fé e incredulidade”. Fé é acolher Jesus, que é a Luz de Deus vinda a este mundo (cf. Jo 1,9). Ao contrário, incredulidade é rejeitar Jesus, e isso significa preferir as trevas à luz (cf. Jo 3,19). Acolher Jesus é receber e assimilar a mensagem do Evangelho que dá ao discípulo a Vida Nova de comunhão com o Pai e o Filho (cf. Jo 14,23).

Portanto, a experiência da Ressurreição não é outra coisa senão a plenitude de vida que inunda os que acolhem e assimilam a Palavra do Evangelho. É a luz da fé que dissipa a escuridão da morte (cf. Lc 1,79), dando ao discípulo uma existência luminosa, gerada não da vontade da carne nem da vontade do homem, mas de Deus mesmo (cf. Jo 1,13).

A iluminação da fé, porém, não é produto acabado ou ato que se cumpra de uma vez por todas, mas é caminho a ser percorrido. É muito significativo que Maria, depois Pedro e o outro discípulo, vão à procura do Senhor, “quando ainda estava escuro” (cf. Jo 20,1). Correndo no escuro, eles abrem caminho para chegar ao túmulo onde estava o corpo do Senhor (cf. Jo 20,4). Com efeito, como a aurora surge lentamente das entranhas da noite, a iluminação da fé também acontece para o discípulo que, reconhecendo sua cegueira (cf. Jo 9,7), acolhe a Palavra do Evangelho, que lhe possibilita ver o que antes não via (cf. Jo 9,35-38).

De fato, o “ver” é a experiência que domina essa passagem evangélica: Maria Madalena “vê” a pedra retirada do túmulo (v.1), o outro discípulo “vê” os panos de linho no sepulcro e Pedro “vê” os panos e o sudário dobrado posto à parte (cf. Jo 20,6-7). Finalmente, o discípulo que havia chegado primeiro ao túmulo “viu” e “acreditou” (cf. Jo 20,8).

Este “ver e acreditar” não é simplesmente o “ver” dos olhos que constatam o túmulo vazio e os panos mortuários dobrados, mas sim a experiência de quem “percebe o essencial invisível aos olhos”. Com efeito, todos os testemunhos visíveis da ressurreição de Jesus, bem como de Seu ministério terrestre, permanecem mudos sem essa experiência. Haja vista Maria Madalena que, inicialmente, diante do túmulo vazio, retira-se horrorizada pensando que o corpo de seu Senhor tinha sido roubado. Só depois, enquanto chorava sozinha próxima à tumba vazia e o Senhor mesmo a chama por nome (cf. Jo 20,16), ela “percebe” a presença do Ressuscitado e lhe responde em linguagem familiar: “Rabbuni”, que quer dizer, “Mestre!”.

Assim, só depois de longa caminhada na fé, Maria encontra o Senhor Ressuscitado. Ela, que havia saído “no escuro” à procura de Jesus morto, se dá conta de que Ele está Vivo, bem ao seu lado, e a chama pelo nome. Que experiência maravilhosa! Tal experiência cada fiel é chamado a fazer.

Portanto, qualquer que seja a situação em que nos encontramos, mesmo que seja, às vezes, escura e sombria, somos desafiados crescer na fé até ao ponto de percebermos que o Senhor Ressuscitado está sempre próximo de nós, nos ama e nos chama por nome. Assim, a nossa vida será iluminada pela Luz da Ressurreição e já não haverá mais escuridão!

Fonte: O Mílite

Escrito por
Frei Aloísio, Ministro Provincial
Frei Aloísio Oliveira

É Ministro Provincial da Província São Francisco de Assis dos Frades Menores Conventuais e especialista em Sagrada Escritura.

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