A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pastorais e organismos da Igreja do Brasil divulgam na quarta-feira (10), uma mensagem por ocasião da COP26, a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas que acontece em Glasgow, na Escócia. A mensagem foi apresentada e referendada pela presidência da CNBB durante a reunião do Conselho Episcopal Pastoral (Consep).
No texto, os bispos pedem que os organismos internacionais, governos e todos os segmentos da sociedade civil “combatam as mudanças climáticas e garantam a continuidade de todas as formas de vida, investindo na vida - dom maior e inviolável”.
Mensagem da CNBB por ocasião da COP26
Estamos atentos aos debates, acordos e deliberações da Conferência da ONU (COP26), realizada em Glasgow, na Escócia. A COP26 se apresenta ao mundo como esperança. Espera-se que os organismos internacionais, governos e todos os segmentos da sociedade civil, no atual contexto socioambiental que demanda ações urgentes, audaciosas e eficazes, combatam as mudanças climáticas e garantam a continuidade de todas as formas de vida, investindo na Vida - dom maior e inviolável. Essa Conferência do Clima desafia o mundo inteiro e precisa interpelar particularmente o Brasil, que tem territórios e biomas ameaçados. O mais recente informe do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) aponta que o aumento da emissão de gases de efeito estufa provoca irreversíveis transformações no Brasil, principalmente no Semiárido, no Cerrado e na Amazônia, com consequências diretas no regime climático de outras regiões do país e da América Latina. Com a aceleração do desmatamento e das queimadas, o Brasil contribui também com o aquecimento do planeta - contaminando a atmosfera em cerca de 2,17 bilhões de toneladas de dióxido de carbono, segundo dados de 2019, apresentados pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
As previsões do IPCC indicam que o Nordeste brasileiro, o Centro-Oeste e a região Norte se tornarão mais secos e quentes nas próximas décadas, caso a emissão de carbono não seja zerada ainda na atual década. Tal cenário agravará ainda mais a aguda crise socioambiental em que estamos imersos, com a ampliação de desigualdades sociais, degradação de territórios, fazendo desaparecer espécies animais e vegetais. A humanidade poderá ter de conviver com ambientes inóspitos que ameaçam a continuidade da vida.
A Igreja Católica no Brasil, no horizonte da Doutrina Social da Igreja e em comunhão com o Papa Francisco, reafirma o seu compromisso com a justiça socioambiental, na perspectiva da Ecologia Integral – reconhecendo a dignidade da pessoa humana, o destino universal dos bens e o direito inegociável à vida para as presentes e futuras gerações.
Preocupa-nos que, diante das ameaças aos povos tradicionais e seus territórios, estes mesmos estejam alijados dos espaços e processos de reflexão e deliberação sobre suas vidas. A humanidade ainda carece de processos capazes de levá-la à reflexão sobre a sua própria existência. É ilusório acreditar que apenas as tecnologias conseguirão solucionar a catástrofe ambiental em curso, ou que as estratégias de mercado bastem para proteger e garantir um meio ambiente justo e sustentável para todas as pessoas, desconsiderando as indicações de organizações e instituições com presença histórica junto às comunidades do campo e da cidade.
A COP26 é, assim, decisiva, pelo dever ético de oferecer aos governos inspirações para suas políticas locais no enfrentamento das mudanças do clima, bem como o fortalecimento da solidariedade internacional, porque as crises experimentadas com o aquecimento global devem ser solucionadas coletivamente. Além disso, por seus acordos e deliberações, permitirá acompanhar e saber quais os organismos, governos, empresas e organizações estão dispostos a promover rupturas, transformar radicalmente estruturas de produção, consumo e priorizar nas suas agendas a defesa dos pobres e da Casa Comum, adotando medidas fortes.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, organismos eclesiais e outras instituições católicas, em sintonia com instituições e organizações da sociedade civil, continuarão acompanhando as agendas socioambientais no Brasil, promovendo a dignidade da pessoa humana, o cuidado com a Casa Comum, no horizonte de uma Ecologia Integral.
Inspirados pela Mãe de Deus e nossa, discípula exemplar, acompanharemos e exigiremos o cumprimento das deliberações da COP26, comprometidos com a justiça, dignidade e direitos aos povos e respeito à Casa Comum.
Brasília – DF, 10 de novembro de 2021
Dom Walmor Oliveira de Azevedo Presidente da CNBB
Cardeal Dom Cláudio Hummes Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia - CNBB
Dom Sebastião Lima Duarte
Presidente da Comissão Episcopal Especial para a Ecologia Integral e Mineração - CNBB
Dom José Valdeci Santos Mendes
Presidente da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora - CNBB
Presidente do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP)
Dom Erwin Kräutler
Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil)
Dom Mário Antônio da Silva
Presidente da Cáritas Brasileira
Dom Roque Paloschi
Presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI)
Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira
Presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT)
Fonte: Vatican News
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