Mundo

O Papa que uniu!

O Papa que denunciou, o Papa que uniu, o Papa Amado, difamado, acolhido e rejeitado

Escrito por MI

21 ABR 2025 - 07H55 (Atualizada em 21 ABR 2025 - 10H54)



O mundo acordou nesta segunda-feira, 21 de abril, com a triste notícia do falecimento do papa Francisco, aos 88 anos, no duodécimo de seu pontificado. Primeiro papa latino-americano da história da Igreja Católica, ele escolheu para si o nome de Francisco, em homenagem ao santo de Assis. Sua referência não se deteve aí. Ele, embora chefe visível da Igreja Católica, escolheu um modo de vida simples, austero e desprovido de benesses. Viveu pobre como os pobres que defendeu durante todo o seu pontificado.

Denunciou, em alto e bom som, as políticas que operam em favor da morte de imigrantes, dos vulneráveis e dos indefesos da sociedade. Condenou as guerras atuais e convocou os políticos a serem artesãos da paz. Nomeou mulheres para postos-chave no Vaticano e promoveu uma reflexão sobre o caminho sinodal, a fim de curar a Igreja do clericalismo e do fechamento em si mesma. Em sua pregação, insistiu na visão e na experiência de um Deus misericordioso, bom para com todos e capaz de perdoar tudo. A misericórdia divina é uma chave de leitura honesta de seu programa de governo. Criticou uma Igreja fechada em suas cercanias internas e que serve a si mesma. Convidou-a a sair, a ir ao encontro de todos — especialmente dos que jazem nas periferias das grandes cidades e das realidades sociais.

Francisco se apresentou como um homem humilde e pecador, como todo e qualquer ser humano sobre a terra. Foi ao encontro de pessoas em cárcere e reivindicou a bênção de Deus para todos. Defendeu a causa das mulheres, das crianças, dos casais homoafetivos, dos estrangeiros, dos pobres, e afirmou que, na Igreja, há lugar para eles; há lugar para todos. Seu pontificado agradou e desagradou a muitos. Considerado de "esquerda" e "vermelho", ele, com bom humor, se auto intitulava unicamente cristão. Seus critérios se basearam no Programa de Jesus de Nazaré, mas, como o de Cristo, o de Francisco também não foi bem acolhido nem compreendido por todos.

Amado, difamado, acolhido e rejeitado, o papa argentino continuou mesmo quando sua saúde se tornou frágil. Debilitado, sem ar e sobre uma cadeira de rodas, ele não hesitou em ir ao encontro dos acamados nos hospitais ou dos retidos nas prisões. Privilegiou centros considerados "periféricos" ou pouco valorizados: Lampedusa, Congo, Marselha, entre tantos outros. Convidado a ir a Paris na reabertura da icônica catedral, ele preferiu a ilha da Córsega, onde pululam imigrantes, para discutir a piedade popular. Muitos analistas, incrédulos, diziam a seu respeito: "Ele nunca está onde é esperado". Ele preferia estar onde era mais necessário.

Sua morte nos enche de profundo pesar. Primeiro, porque é a despedida de um homem cuja bondade e abertura aos pequenos eram inegáveis. Depois, porque o silêncio de sua voz — que era um brado em favor da paz e da fraternidade — fará eclodir as vozes ruidosas dos que anseiam por um mundo polarizado e dividido entre privilegiados e esquecidos, entre o fortalecimento do capital e a morte dos que são considerados um peso para a sociedade do sucesso e do bem-estar.

Num mundo de "Trumps", "Putins", "Bolsonaros", "Musks", « Malafaias », « Mileis » e semelhantes, a morte do papa Francisco nos inquieta e nos enche de temor. O futuro nos parece menos claro a partir de agora. Os caminhos da Igreja e do mundo são incertos e nebulosos. Quem ousará anunciar e denunciar com a coragem e a força de Francisco? Quem se levantará em favor dos "últimos", dos que incomodam os grandes e os acomodados em suas pompas e privilégios? Quem será a voz dos "calados" pelo sistema, o amparo dos "expulsos" dos países ricos e a ternura dos "ignorados" pelos grandes dos povos ?

Oxalá o caminho aberto por Francisco não seja tomado pelos espinhos, nem desfeito pelas pedras e pelos entraves político-religiosos. Queira Deus que o Seu Espírito suscite um novo pastor que seja universal e fiel discípulo do Cristo da Cruz. Na segunda-feira de Páscoa, Francisco ressuscitou! Do céu, quem sabe, seu alcance e sua força serão agora indomáveis.

Paz à sua alma ! Em luto, mas cheio de esperança,

________________

Padre Claudemar Silva França, Bourgogne, 21 de abril de 2025.

Fonte: Padre Claudemar Silva

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.

500

Boleto

Reportar erro!

Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:

Por MI, em Mundo

O Papa que uniu!

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente.