"A Santa Sé está pronta para qualquer mediação necessária, como sempre...". O cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, seis dias após o ataque terrorista contra Israel, define o atentado executado no último sábado como "desumano", e ressalta o apelo do Papa Francisco para a libertação de todos os reféns que estão nas mãos do Hamas. Parolin pede proporcionalidade na legítima defesa de Israel, expressando preocupação com as vítimas civis do bombardeio de Gaza, e reitera que, apesar do que está acontecendo, para uma paz que seja verdadeiramente justa, devemos chegar à uma solução para os dois Estados "que permita que palestinos e israelenses vivam lado a lado, em paz e segurança".
Eminência, todos os conflitos são terríveis. Mas o que estamos percebendo desde a madrugada do último sábado é o agravamento de uma brutalidade sem precedentes. Estamos testemunhando uma perda total de humanidade. Em sua opinião, ainda há espaço para evitar o pior?
O ataque terrorista realizado pelo Hamas e outras milícias no último sábado contra milhares de israelenses que estavam prestes a celebrar o dia da Simchat Torá, no final da semana da festa de Sukkot, é desumano. A Santa Sé expressa sua total e firme condenação. Além disso, estamos preocupados com os homens, mulheres, crianças e idosos que estão sendo mantidos como reféns em Gaza. Expressamos nossa proximidade com as famílias afetadas, a grande maioria das quais é judia, e oramos por elas, por aqueles que ainda estão em choque e pelos feridos. É necessário recuperar o senso de razão, abandonar a lógica cega do ódio e rejeitar a violência como solução. O atacado tem o direito de se defender, mas a autodefesa também deve respeitar o parâmetro da proporcionalidade. Não sei qual é o espaço para o diálogo entre Israel e a milícia do Hamas, mas se houver, e esperemos que haja, ele deve ser buscado imediatamente e sem demora. Isso é para evitar mais derramamento de sangue, como está acontecendo em Gaza, onde há muitas vítimas civis inocentes como resultado dos ataques do exército israelense.
O Papa Francisco reitera que a paz é construída sobre a justiça. Não existe paz que não seja justa. Em que termos essa demanda por justiça para ambos os lados do conflito é expressa hoje?
A paz só pode ser construída com base na justiça. Os latinos gostavam de dizer: "Opus iustitiae pax", não pode haver paz entre os homens sem justiça. Parece-me que a maior justiça possível na Terra Santa é a criação de dois Estados, que permitiria que palestinos e israelenses vivessem lado a lado, em paz e segurança, atendendo às aspirações da maioria deles. Essa solução, que é prevista pela comunidade internacional, ultimamente tem parecido para alguns, de ambos os lados, não mais viável. Para outros, ela nunca foi. A Santa Sé está convencida do contrário e continua a apoiá-la. Agora, porém, o que é certo? É justo que os reféns sejam devolvidos imediatamente, mesmo os que estão em poder do Hamas desde os conflitos passados: nesse sentido, renovo com veemência o vibrante apelo lançado e repetido pelo Santo Padre nos últimos dias. É justo que, em legítima defesa, Israel não coloque em risco os civis palestinos que vivem em Gaza. É correto, indispensável, eu diria, que nesse conflito - como em qualquer outro - o direito humanitário seja totalmente respeitado.
O Papa Francisco, no final da audiência da última quarta-feira, fez um apelo pela libertação dos reféns e pediu que as vidas dos inocentes fossem poupadas. O senhor vê espaço para uma iniciativa diplomática da Santa Sé, semelhante ao que foi feito no conflito entre a Rússia e a Ucrânia?
Sim, a libertação dos reféns israelenses e a proteção das vidas dos inocentes em Gaza estão no centro do problema criado pelo ataque do Hamas e pela resposta do exército israelense. Eles estão no centro das preocupações de todos nós, do Papa e de toda a comunidade internacional. A Santa Sé está pronta para qualquer mediação necessária, como sempre. Enquanto isso, procura conversar com as organizações cujos canais já estão abertos. Qualquer mediação para pôr fim ao conflito deve, no entanto, levar em conta uma série de elementos que tornam a questão muito complexa e articulada, como a questão dos assentamentos israelenses, a segurança e a questão da cidade de Jerusalém. Uma solução pode ser encontrada no diálogo direto entre palestinos e israelenses, incentivado e apoiado pela comunidade internacional, mesmo que agora seja mais difícil.
Em duas entrevistas recentes dadas ao Osservatore Romano pelo presidente palestino Mahmud Abbas e pelo presidente israelense Isaac Herzog, ambos expressaram seu apreço pelas constantes palavras de paz vindas da minoria cristã na Terra Santa, que são o "sal" dessa terra. No entanto, os cristãos estão pressionados pelo conflito e em uma situação de sofrimento. É preocupante a situação da pequena comunidade cristã em Gaza, que corre o risco de ser extinta. Como os cristãos da Terra Santa podem ser ajudados de forma concreta?
Em primeiro lugar, com oração e proximidade espiritual e material. Essas minhas palavras pretendem ser um atestado renovado da proximidade afetuosa do Papa e da Santa Sé. Os cristãos são uma parte essencial da terra onde Jesus nasceu, viveu, morreu e ressuscitou. Ninguém pode pensar na Palestina ou em Israel sem a presença cristã, que está lá desde o início e estará lá para sempre. É verdade que agora a pequena comunidade católica em Gaza - cerca de 150 famílias - está sofrendo muito. E quando um membro sofre, toda a Igreja sofre, portanto, todos nós sofremos. Sabemos que eles se reuniram na paróquia. O pároco não pôde voltar e permanece em Belém. Tudo está parado, paralisado, como se estivesse dominado pelo medo e pela raiva. Oramos pelos israelenses, oramos pelos palestinos, oramos pelos cristãos, judeus e muçulmanos: "Pedi, vós todos, a paz para Jerusalém... Por amor de meus irmãos e de meus amigos, pedirei paz para ti. Por amor da casa do Senhor, nosso Deus, pedirei para ti a felicidade" (Salmo 122).
Fonte: Vatican News
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