Por Túlia Savela Em A Igreja no Rádio 2ª Edição Atualizada em 16 JAN 2020 - 13H22

Este padre é louco

Na festa que encerra o tempo natalino, inicia-se a vida pública de Jesus que se torna um Mestre a fazer discípulos

"Com o Domingo do Batismo de Jesus conclui-se o tempo do Natal. Jesus, num gesto de extrema humildade, recebe o batismo de penitência oferecido por João Batista", indica Dom Pedro Conti, bispo de Macapá, no Amapá

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Por Dom Pedro José Conti, bispo de Macapá, no Amapá

São Filipe Néri era famoso por sua capacidade de brincar e fazer sorrir. Todos o chamavam de “bom”. Por isso, como gesto de humilhação e para evitar que o bajulassem ou honrassem pela sua “santidade”, resolveu que, por uma semana, ia tirar a barba dele somente de um lado do rosto. O resultado foi óbvio. Todos aqueles que o encontravam riam de bom gosto e diziam: "Este padre é doido varrido! Devia ser internado". Mas o alegre Filipe Néri, dentro de si, ficava feliz pelas gargalhadas dos outros.

Com o Domingo do Batismo de Jesus concluímos o tempo litúrgico do Natal. Jesus, num gesto de extrema humildade e solidariedade, entra na fila dos pecadores e recebe o batismo de penitência oferecido por João Batista. A pomba que pousa sobre Ele indica a presença do Espírito Santo e a voz do Pai confirma que aquele homem é o “Filho amado”. Todos os evangelistas são unânimes em nos dizer que, após este momento, se inicia a vida pública de Jesus. O Pai o enviou e o Espírito Santo vai guiá-lo, nas palavras e nas ações, até a Sua paixão, morte e ressurreição, em Jerusalém.

O “batismo” no Jordão marca uma mudança decisiva na vida dele. De agora em diante será um “mestre” itinerante chamando discípulos a segui-lo. Para alguns será um “profeta” com palavras nunca ouvidas, palavras de “vida eterna”. Para outros será julgado um falso profeta por vir da periferia, de Nazaré. Enfim, será considerado blasfemo, mas útil para dar uma lição exemplar aos facínoras, aos rebeldes, aos fora da Lei. Alguns o chamaram de louco e endemoninhado. Ao vê-lo morrer na cruz, o centurião romano dirá: - Verdadeiramente, este era Filho de Deus (Mt 27,54). As mesmas palavras do Pai, no dia do batismo. A cruz de Jesus permanecerá para sempre “loucura” para os pagãos, “escândalo” para os judeus, mas sabedoria e poder de Deus para os que acreditam (1 Cor 1, 23-25).

Neste domingo a Igreja nos convida a lembrar o nosso batismo, não mais de penitência, mas de “vida nova” na Trindade Santa. Fomos batizados “em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”.

Após aquele dia, também nós deveríamos ter iniciado uma vida diferente, como cristãos, conscientes do dom recebido e da missão que nos foi entregue: continuar a anunciar a alegria do Evangelho e testemunhar, com a nossa vida, a presença do Reino de Deus. Vale a pena parar para lembrar e refletir.

O nosso batismo, a nossa consciência de sermos cristãos, mudou e muda algo da nossa maneira de pensar, dos valores que norteiam a nossa vida, dos compromissos que assumimos em família e na sociedade? Tem alguma vez que somos chamados de “loucos” – se não na nossa frente, ao menos por trás – por causa da nossa fé? Estou falando sério.

Não está em jogo o sermos exteriormente diferentes, ou não, dos outros, mas a diversidade radical com tudo aquilo que podemos chamar de “mundo”, no sentido evangélico da palavra.

A primeira questão é, justamente, o valor que damos aos bens materiais, ao dinheiro e às demais posses. Jesus disse de “buscar” primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, o resto nos será dado por acréscimo, como dom da sua bondade. Ao contrário muitos hoje se achamos donos de tudo, até do planeta que, porém, já encontramos feito e não, com certeza, para o nosso consumo exclusivo.

A segunda questão, talvez, seja aquela do orgulho que temos com as “nossas” ideias, a nossa interpretação da vida, da sociedade e até de Deus. Nos achamos tão importantes e sabidos de “julgar” o que está ao nosso redor, os acontecimentos e as pessoas. Um pouco mais de humildade nos fariam bem.

Talvez só olhando mais os pássaros do céu, os lírios dos campos...as maravilhas de Deus, enfim, mais do que sempre as nossas obras. Por fim, quero lembrar o tempo, como o administramos e o gastamos. Parece que temos “tempo” para tudo, mas bem pouco para agradecer a Deus, celebrar a nossa fé aos Domingos, na comunidade, entre irmãos e amigos.

Nem vou falar dos pobres. Falta um pouco mais de “loucura” como fruto do nosso batismo tomado mais à sério e menos como brincadeira, costume ou tradição. Falta coragem, sobra medo de ser achados “loucos” por causa de Cristo.

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