Por Dom Pedro Conti, bispo de Macapá, no Amapá Em A Igreja no Rádio

Um concerto inesperado



Um concerto inesperado

Jorge, desde pequeno, mostrou interesse pela música. A mãe, sempre orgulhosa do filho, fazia de tudo para incentivá-lo. Certo dia, soube, pela televisão, que um grande pianista se apresentaria na cidade e ela logo pensou em levar o garoto. Comprou as entradas e sentou-se na fila marcada, junto ao filho. Uma velha amiga, atrás dela, a chamou. Ela foi para lá e as duas começaram a conversar. A distração foi suficiente para Jorge sair do assento e a andar pelos corredores. Cheio de curiosidade o garoto viu uma porta na qual estava escrito “Proibida a entrada”. Para ele era mais de que um convite a entrar. Aos poucos as luzes do teatro foram apagadas e a mãe volto ao seu lugar. Olhou para todos os lados, onde estava Jorge? Ele estava lá no palco, agora iluminado, sentado na frente do piano tocado uma das músicas infantis que sabia de cor. No mesmo instante, o grande pianista se apresentou, cumprimentou o público, viu a criança e disse ao ouvido dela: - Continue tocando, não pare. Com sua mão esquerda iniciou um acorde para acompanhar o garoto. Com a direita envolveu o menino e acrescentou um acompanhamento de melodia. O mestre pianista transformou uma situação embaraçosa em uma experiência sensacional. O público ficou perplexo, aplaudiu por algum tempo o grande mestre e o jovem iniciante.

Com o Segundo Domingo do Tempo Comum iniciamos o período de algumas semanas que antecipa o Tempo da Quaresma. Os trechos de evangelho proclamados nos próximos domingos apresentam os primeiros momentos daquela que chamamos de “vida pública” de Jesus. O “Filho” amado no qual o Pai colocou o seu bem-querer começa a falar e agir e, aos poucos, pelos gestos e palavras, se torna mais claro que “messias” será Jesus: muito diferente do esperado pelos tradicionalistas, os nacionalistas e os revoltados. Ele será um “salvador” pobre, sem poder humano, um pregador itinerante, um profeta “causa de queda e de reerguimento para muitos em Israel, um sinal de contradição” enfim (Lc 2,34). Para nos ajudar a acreditar e a confiar nele, a Liturgia nos oferece a página do evangelho de João das bodas de Caná. Atrás do relato de uma festa de casamento, na qual começa a faltar o vinho, está a reflexão teológica do evangelista que define o acontecido como “o início dos sinais de Jesus” (Jo 2,11). Depois virão outros “sinais”, mas o primeiro indica o rumo do caminho. A “hora”, o tempo certo, virá somente no final, será a hora da cruz e da ressurreição. Tudo acontecerá no amor e por amor. O casal que festeja o casamento não aparece. O verdadeiro noivo é Jesus, ele está no lugar de Deus, como na primeira Aliança. A verdadeira noiva pode ser o antigo povo de Israel, como sempre foi entendido pelos profetas, ou o “novo” povo dos amigos e seguidores daquele que agora selará uma “nova e eterna aliança” com a entrega de sua vida e o derramamento do seu próprio sangue. A água é transformada em vinho e este vinho é melhor. O reencontro definitivo de Deus com o seu povo, que a água das abluções não conseguia realizar, acontecerá, uma vez por todas, na vida doada do Filho. Através das imagens e da simbologia bíblicas João Evangelista nos deixa o seu recado: nós também podemos ser os discípulos que “creram nele”. Com isso, somos convidados novamente a “caminhar” com Jesus, a acompanhá-lo e escutá-lo com atenção e humildade. Devemos estar prontos a nos deixar “transformar” por ele, para passar de homens e mulheres “velhos” em homens e mulheres “novos”, cada vez melhores, mais amorosos e fraternos.

Tudo é questão de confiança. A “mãe” de Jesus sempre nos repete: - Fazei o que ele vos disser. No entanto, nós insistimos em “fazer” o que nós mesmos achamos certo, o que julgamos bom para os nossos interesses. Nunca é fácil acreditar que alguém possa transformar os nossos projetos, ideias e capacidades, em algo melhor. Temos medo de ser enganados, usados e depois deixados para trás. Jesus é o Mestre que nos envolve com o seu amor. Vai nos ajudar a fazer o que nós ainda não aprendemos: nos amar mais. Acreditemos. Nós mesmos aplaudiremos felizes.


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