Maria, mulher elegante

Basta pensar naquele trecho do Cântico dos Cânticos no qual a liturgia entrevê, como em filigrana, a figura de Nossa Senhora que luta em nosso favor contra as forças do mal: “Quem é esta que surge como a aurora, bela como a lua, fulgida como o sol, terrível como um exército em ordem de batalha?”.

O texto latino diz: Electra ut sol. Electra quer dizer elegante. Tem a mesma raiz verbal.

Elegante como o sol! Não existe quem não veja como, diante dela, os modelos desenhados por grandes estilistas parecem trapos, e as criações da alta moda são como coisa de brechó.

Mas existe também o Apocalipse que retoma elementos cósmicos do sol, da lua e das estrelas, com o qual a arte de todos os séculos baseou as coisas mais finas sobre a elegância de Maria: “No céu apareceu um sinal grandioso: uma mulher vestida de sol, com a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas”.

E pouco mais adiante recorre outro célebre texto que se refere, na verdade, à nova Jerusalém. Contudo, através aquele jogo de dissoluções teológicas pelo qual muitas vezes realidade e sinais trocam os lados, a tradição intuiu a presença dela: “Chegaram as núpcias do cordeiro; a sua esposa está pronta, deram a ela uma veste de puro linho, esplendente. A veste de linho são as obras justas dos santos”.

A Virgem Maria, então, é a prefiguração maravilhosa da Igreja, desce do céu, adornada de muitas joias e de esvoaçantes véus, pronta como uma esposa que se enfeita para o seu esposo. Este é um hino à elegância de Maria.

Uma elegância claramente para ser interpretada em termos de fineza interior e, certamente, não pela frequência às boutiques de Nazaré ou aos ateliês de alta moda de Jerusalém.

Se bem que, meditando atentamente o Evangelho, não parecem totalmente fora de lugar as alusões também sobre a elegância física de Maria.

Eu não sei se na intimidade do lar, onde florescem os gestos de ternura, Jesus se divertia chamando a mãe com o nome das flores mais perfumadas como um dia faria a Igreja: rosa de Jericó, lírio do vale, cedro do Líbano, palma de Cades... é uma suposição, porém, parece que Jesus pensava justamente nela, flor de beleza, quando um dia disse às multidões: “Observem como crescem os lírios do campo... eu vos digo que nem Salomão com toda a sua glória, se vestia como um deles”.

Da mesma forma, supomos que pensasse justamente nela quando disse: “A luz do corpo é o olho. Se o teu olho é claro, todo o teu corpo estará na luz”. Neste momento os olhos de sua mãe deveriam ter ficado marejados. Aqueles olhos aos quais não só transluzia a transparência da alma, mas que davam um ar de santidade também à elegância de seu corpo.

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Santa Maria, mulher elegante e que se vestia muito bem, presenteia-nos, te pedimos, com um pouco das tuas roupas. Abre-nos o guarda roupa. Habitua-nos aos teus gostos. Sabes bem, nos referimos às peças daquele vestuário interior que adornou a tua existência terrena: a gratidão, a simplicidade, a medida certa das palavras, a transparência, a ternura, o estupor. Te asseguramos: são roupas que não passam de moda. Mesmo se são muito grandes para as nossas medidas, faremos de tudo para adaptá-las ao nosso número.

Revela-nos, te pedimos, o segredo da tua linha. Apaixona-nos pelo teu espírito de fineza. Preserva-nos daquelas quedas de estilo que nos colocam, muitas vezes, nus diante da nossa vulgaridade.

Dai-nos um retalho do teu véu de esposa. Fazei-nos descobrir no esplendor da natureza e da arte os sinais da elegância de Deus.

Santa Maria, mulher elegante, liberta-nos do espírito de grosseria que temos dentro, apesar das roupas refinadas que usamos, e que explode tantas vezes em termos de violência verbal em relação ao nosso próximo.

Como estamos distantes da tua elegância espiritual! Vestimos roupas com etiquetas de marcas famosas, mas os gestos no relacionamento humano permanecem vazios. Passamos sobre a pele caras maquiagens, mas o rosto transparece ambiguidade. Colocamos na boca os mais eficientes dentifrícios, mas a linguagem que sai é trivial. O vocabulário se tornou rude e o insulto se tornou costume. As boas maneiras estão em baixa. Aliás, em certas atrações televisivas, se faltam os ingredientes da ofensa e falta de respeito, parecem que caem inclusive os índices de audiência.

Dai-nos, por isso, um sobressalto de graça que compense as nossas intemperanças. Fazei-nos compreender que, até não tenhamos visto naquele que está próximo de nós um rosto para descobrir, para acariciar, para contemplar, as mais sofisticadas refinações parecerão sempre formais, e as mais caras roupas não conseguirão mascarar a nossa alma de farrapos.

Santa Maria, mulher elegante, tu que colhestes com tanta atenção a passagem de Deus na tua vida, faze que também nós possamos respirar a sua brisa. Também ele é muito elegante, e dificilmente irrompe na nossa história com a força do fogo e do furacão; mas, como no monte Oreb, se faz sentir nas folhas que são delicadamente arrastadas pela brisa. São necessárias antenas delicadas para registrar a sua presença. Necessita de um ouvido sensível para perceber o movimento delicado de seus passos quando, de tardezinha, como fazia com Adão, desce ainda no nosso jardim.

Ajuda-nos a intuir toda a delicadeza de Deus naquela expressão bíblica com a qual o Senhor exprime quase o pudor de te atrapalhar (Talvez João, enquanto escrevia o Apocalipse, aquelas palavras foi você quem as deu): “Eis, estou à porta e bato. Se alguém ouve a minha voz e me abre a porta, virei até ele, jantarei com ele, e ele comigo”.

Tornai-nos pessoas prontas a responder, com a tua mesma fineza de estilo, à sua batida na porta. Assim, que possamos abrir rapidamente a porta, e fazer festa, e sentarmos juntos à mesa.

Aliás, visto que Ele fica para o jantar, porque não fica também você?

Dom Tonino Bello

Trecho extraído do livro "Maria, donna dei nostri giorni"