Igreja

A Igreja no combate à fome

Durante a pandemia esta, diversas iniciativas mostraram o quanto é importante ajudar a quem mais precisa. Para conversar conosco nesta edição, temos Dom Guilherme Werlang, Bispo de Lajes, em Santa Catarina

Escrito por Angelica Lima

08 JUN 2022 - 00H00

Divulgação

Dom Guilherme, a fome não é um desafio novo para o Brasil, não é mesmo?

A fome no Brasil é vergonhosa e criminosa. Em 1993 eu estava na Diocese de Jataí - GO e nos engajamos no Natal Sem Fome do Betinho e somente em uma paróquia recolhemos mais de 15 toneladas de alimentos. Foi, inclusive, o quartel do exército da cidade que transportou os alimentos para o programa. A solidariedade alivia o problema vergonhoso da fome. O Brasil é rico em biodiversidade e produção de alimentos, mas está tudo sendo pensado para fora. A fome está crescendo também por políticas econômicas que privilegiam o capital ao invés das pessoas. As previsões de safras e a produção de proteína animal devem ser as maiores da história, por outro lado, há indicadores que apontam para o aumento da fome. Não podemos, como seres humanos e como cristãos, fugir dessa temática.

Divulgação
Divulgação
Dom Guilherme Werlang é bispo de Lajes, em Santa Catarina

No tempo da pandemia muitas iniciativas de solidariedade se articularam para socorrer as pessoas. Mas o combate à fome deve ser permanente, não é mesmo Dom Guilherme?

O pobre tem fome todos os dias. São milhões de brasileiros que vão dormir com fome. Tem crianças que a gente não sabe se dormem ou se desmaiam de fome. Há também idosos que se privam de alimentação para oferecer o mínimo aos netos. As campanhas são importantes, mas precisamos de atitudes que mudem o status quo. Não podemos admitir que o Brasil viva somente de campanhas, auxílios e bolsas. É necessário mexer na política econômica. O programa neoliberal é pecaminosos e seus autores vão pagar muito caro no juízo final (Mt 25, 31-46). Muitos são os que socorrem bancos e sistemas financeiros e deixam pessoas com fome.

Algumas pessoas acham que tratar da questão a fome é uma ideologia política. O que a Igreja pensa disso?

A Doutrina Social da Igreja só tem legitimidade porque se fundamenta na Palavra de Deus. No Antigo Testamento, por exemplo, temos o encontro de Moisés com Deus que explica: “Ouvi o clamor do meu povo que está escravo no Egito” (Ex 3,7). A Doutrina da Igreja não é de direita ou esquerda, não é uma ideologia, mas se baseia na Bíblia, desde o século I até nossos dias.

Em 2002 a CNBB lançou o documento Exigências Evangélicas e Éticas de Superação da Miséria e da Fome. Quais as contribuições desse texto para a Igreja no Brasil?

 Lembro-me bem que foi Dom Luciano Mendes de Almeida quem lançou esse desafio na Assembleia dos Bispos e foi aprovado por unanimidade. A Multiplicação dos pães (Mc 6,34-44) é a motivação do documento. Jesus disse para os discípulos darem de comer à multidão. Nós, hoje, somos os discípulos que precisamos nos preocupar com a questão da fome. Colaborei com Dom Mauro Moreli na implementação dessa posição da CNBB e surgiram diversas iniciativas, inclusive o programa Fome Zero. Hoje o nosso empenho deve ser ainda maior para superar a miséria e a fome. É uma questão urgente. Não são exigências de direita ou esquerda, mas exigências que brotam do Evangelho.

Fonte: O Mílite

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.

0

Boleto

Reportar erro!

Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:

Por Angelica Lima, em Igreja

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente.