Por Ana Cristina Ribeiro Em Saúde Atualizada em 20 OUT 2020 - 10H20

Uma ameaça à vida

O consumo de tabaco continua sendo a maior ameaça à saúde pública do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)




Dados de 2019 confirmam que cerca de 8 milhões de mortes ocorrem em decorrência do uso de produtos feitos com tabaco, sendo 130 mil dessas mortes somente no Brasil.

Para alertar sobre os seus riscos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu o dia 31 de maio como o Dia Mundial Sem Tabaco. O objetivo é conscientizar a população sobre os males que o fumo pode trazer à saúde e defender políticas públicas para a redução do seu consumo.

O uso do tabaco no Brasil era uma prática utilizada pelos povos indígenas, desde antes da chegada dos europeus. No início da colonização portuguesa, a planta era cultivada pelos colonos e seus descendentes para consumo próprio e para comercialização, mas só em meados de 1674 que o governo colonial instituiu a comercialização legal do tabaco. No século XIX, as regiões da Bahia, Minas Gerias, Santa Catarina e Rio Grande do Sul passaram a ser grandes produtoras do tabaco no Brasil.

O hábito de fumar é um fator de risco para quem fuma e para quem convive com fumantes. Ambos podem contrair doenças cardiovasculares, cardiorrespiratórias e estão propensos a ter câncer de pulmão, garganta e pescoço, como explica a doutora Denise Leite, oncologista do Centro de Oncologia do Hospital 9 de Julho: “O hábito de fumar ou de inalar a fumaça do cigarro está associado à inalação de mais de 4 mil substâncias tóxicas, entre elas a nicotina, que é bem conhecida e causa dependência. Dessas 4 mil substâncias, umas 60 são ontogênicas, ou seja, promovem o câncer de pulmão”.

Além do câncer de pulmão, o uso do cigarro também pode trazer outros tipos de câncer como tumores na cabeça, pescoço, língua, mas, de modo geral, todos os tumores malignos têm ligação com o uso do cigarro.

Controle do tabaco

Segundo a Fundação Oswaldo Cruz, em 2019, o Brasil tornou-se um dos primeiros países do mundo a alcançar o mais alto nível das seis medidas MPOWER de controle do tabaco. Um relatório da OMS sobre a Epidemia Mundial do Tabaco mostrou que o Brasil tornou-se referência internacional no que diz respeito ao combate do tabagismo. Entre os 171 países que aderiram às medidas globais da OMS, apenas o Brasil se juntou à Turquia, como as duas únicas nações do mundo a implementarem ações governamentais de sucesso.

Influenciaram para alcançar esse resultado as mensagens nas embalagens dos cigarros que passaram a ser mais impactantes, além da obrigatoriedade de os maços terem o Disque Saúde 136, serviço telefônico do Sistema Único de Saúde (SUS) que apoia pessoas que querem parar de fumar.

Publicidades do tabaco nos meios de comunicação como TV, rádio, revistas, jornais e outdoors foram vedadas pela legislação brasileira no ano de 2000, o que também contribuiu para que o país ocupasse a posição de melhor país no controle do tabaco.

Tabagismo como doença

Reduzir o consumo de tabaco é a medida mais eficaz para melhorar a saúde de quem fuma e também daqueles que convivem com quem fuma, os fumantes passivos.

A oncologista Denise explica por que quem convive com um fumante está exposto: “Do ponto de vista de câncer de pulmão, quem é fumante passivo tem 30% a mais de risco de ter esse tipo de câncer, além de doenças cardiovasculares e outras doenças do que alguém que não convive com um fumante. O fumante passivo é considerado, do ponto de vista médico, um paciente tabagista”.

A produtora da Rádio Imaculada 1490 AM, Angela Donadelli, foi uma fumante passiva por mais de 15 anos e, somente aos 37, descobriu que tinha doenças respiratórias em decorrência do fumo passivo: “Passei a praticar alguns esportes e percebi que ficava muito cansada, mas foi um resfriado que me levou ao diagnóstico de asma. Faço uso contínuo de bombinhas para amenizar o cansaço e, por meio do tratamento com o pneumologista, também descobri que tenho efisema pulmonar, tudo em decorrência da convivência com alguém que fumou”.

Atualmente, Angela faz acompanhamento com um especialista, toma medicação para controlar as crises de asma e segue fazendo exercícios físicos, mantendo uma vida saudável: “Acredito que meu pai não sabia do prejuízo que me causaria com seu péssimo hábito, antes não tínhamos tanta informação quanto hoje e, ainda assim, encontramos pessoas fumando. Espero que a minha partilha alerte as pessoas sobre os riscos que o tabagismo pode causar”.

Entre as inúmeras substâncias que há no tabaco, a nicotina é considerada pela OMS uma droga psicoativa que causa dependência. Ela age no sistema nervoso central e chega ao cérebro levando de 7 a 19 segundos. Por isso, o tabagismo é classificado como doença e está inserido no código internacional de doenças (CID – 10) no grupo de transtornos mentais e de comportamento.

Parar é preciso

Aos 15 anos, a coordenadora comercial Meire Soares, hoje com 54, começou a fumar. Era a década de 1980 e a indústria do tabaco estava no seu auge, com publicidades marcantes em todos os meios de comunicação. Essa divulgação em massa fez com que Meire aprendesse a fumar com facilidade, e o hábito passou a fazer parte do seu cotidiano.

No início, fumar trazia tranquilidade para Meire, era como um calmante nos momentos de angústia e ansiedade. Com o passar dos anos, ela sentiu o peso do vício. Em 2014, a coordenadora comercial sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e parar de fumar era a única opção que ela tinha no momento. “Antes do AVC, eu estava me preparando para parar de fumar. Por isso, quando realmente precisei parar, não tive dificuldade. Graças a Deus, o AVC não me trouxe nenhuma sequela. Ele veio leve e deixar de fumar era necessário para não acontecer outra vez”, conta.

Após o AVC, Meire descobriu um aneurisma e entendeu que deixar de fumar tinha sido a melhor escolha que ela tinha feito na vida: “Depois que parei de fumar, percebi uma grande melhora na saúde. Melhorou a minha respiração e meu paladar. É obvio que, a princípio, a gente come mais e, por isso, engordei um pouco, mas, com o passar do tempo, eu voltei ao meu peso adequado”.

A aposentada Roseli Aparecida Soares, de 57 anos, irmã de Meire, também começou a fumar quando era jovem. Depois de muitos anos, dependente do cigarro, sentiu a necessidade de parar, pois o hábito não estava fazendo só mal a ela, mas também à filha Bruna. “Minha filha, ainda pequena, pedia muito para eu parar de fumar. Certa vez, quando ela tinha 17 anos, me pediu um dinheiro, e eu disse que não tinha para dar. De prontidão, ela respondeu: ‘Para comprar cigarro, você tem, não é?’. Aquilo me deixou envergonhada. Sabia do mal que o cigarro causava e, a partir desta indagação da minha filha, vi que era hora de parar”, declara.

Roseli decidiu deixar o vício por conta própria, mas o processo não foi fácil: “Parar de fumar me deixou ainda mais agitada e nervosa. Porém, o apoio da minha família foi essencial. Eles me compreendiam e respeitavam o meu espaço. Tiverem muita paciência comigo, e isso foi fundamental no processo”.

Sobre os benefícios de parar de fumar, Roseli destaca: “Minha condição física melhorou muito. Antes eu era sedentária, e minha imunidade estava sempre frágil, hoje me sinto bem saudável. Minha filha parou de reclamar, e a minha situação financeira melhorou bastante também. Passei a economizar mais, com certeza.”

A aposentada não aconselha a pessoa a parar de fumar sem ajuda médica. “É preciso entender que o tabagismo é uma doença que precisa ser tratada. Procurar ajuda médica é fundamental, assim como permitir o apoio da família em todo o processo”, conclui.

Estudos mostram que poucas pessoas compreendem os riscos que o uso do tabaco pode trazer à saúde da população, e muitas não aceitam que o tabagismo pode causar câncer, por exemplo.

Parar de fumar não é uma coisa fácil. Segundo a doutora Denise, é cientificamente comprovado que a maioria das pessoas que tenta parar de fumar não consegue: “De 3 a 4% das pessoas conseguem parar de fumar efetivamente na primeira tentativa e não voltam a fumar nunca mais. Existem vários tratamentos já estabelecidos e também em fase de estudo. Ajudam terapia comportamental, tratamento medicamentoso e grupos de apoio. Para isso, é importante procurar profissionais como pneumologistas e psicólogos e iniciar o processo”, reforça.

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Escrito por:
Ana Cristina
Ana Cristina Ribeiro

Graduada em Jornalismo e licenciada em Letras, atua no Departamento de Redação da MI como jornalista responsável pela revista "O Pequeno Mílite" desde 2016.

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