Por Padre Luís Gonzalez Quevedo Em Formação

A prova da obediência para amar

Antes de entrar na Companhia de Jesus, eu já conhecia, na prática, a obediência inaciana, porque meu pai tinha estudado interno em um colégio de jesuítas




Em certa ocasião, meu irmão brigou com um colega na escola. Sabedor do caso, meu pai mandou que meu irmão pedisse perdão ao colega. E acompanhou, pessoalmente, meu irmão até a casa do colega.

No caminho, meu irmão disse a meu pai: “Quando eu tiver filhos, não os obrigarei a fazer isto”. Meu pai comentou: “Quando você tiver filhos, poderá educá-los do jeito que você quiser. Mas com o mesmo direito, eu quero que você peça desculpas ao seu colega”. E meu irmão obedeceu. Meu pai dizia que “obedecer é amar”. E nós amávamos o nosso pai. Outro princípio de meu pai era que “quem obedece nunca erra (quem pode errar é quem manda e terá que prestar contas por isso)”.

Passaram-se muitos anos, desde que meu pai aprendeu tais princípios no colégio dos jesuítas. Os líderes do nazismo tentaram justificar seus crimes, alegando a “obediência devida” a Hitler. Na América Latina, sofremos governos ditatoriais. E, diante de alguns crimes cometidos contra crianças por seus pais, o Congresso brasileiro acaba de aprovar uma lei que proíbe bater nos filhos. Os abusos cometidos em nome da “obediência” desacreditaram a palavra e a prática desta atitude imprescindível para o bom andamento da vida familiar, cívica e religiosa.

Na vida religiosa, junto com os votos de pobreza e castidade, faz-se um “voto de obediência”, pelo qual o religioso se compromete a seguir as determinações dos “superiores” ou coordenadores da comunidade. Tal voto se faz livremente, movido pelo desejo de seguir o exemplo de Cristo, que se fez “obediente até a morte” (cf. Filipenses 2,8). Na prática, quando se vive em uma comunidade de fé e de amor, obedecer é muito mais fácil do que pode parecer.

Etimologicamente, “obedecer” (do latim ob-audire) significa “escutar”. Todos escutamos com prazer aquelas pessoas de quem gostamos ou a quem consideramos mais capacitadas do que nós. Na mística cristã, devemos estar prontos para obedecer-escutar a todos e não só aos superiores, pois “muitas vezes o Senhor revela ao mais moço o que é melhor” (Regra de São Bento 3,3). Com grande equilíbrio, o fundador dos beneditinos manda “venerar os mais velhos” e “amar os mais moços” (idem 4,70-71).

A verdadeira obediência é a prova mais inequívoca da humildade e do amor que devem reinar em uma família cristã ou em uma comunidade de pessoas consagradas a Deus.





Escrito por
Padre Luiz Gonzalez Quevedo (Arquivo Pessoal)
Padre Luís Gonzalez Quevedo

Nascido na Espanha, tornou-se advogado antes de ingressas na Companhia de Jesus. Depois de ordenado sacerdote veio para o Brasil como missionário atuando em centros de espiritualidade, comunidades e faculdades. Atualmente ministra retiros espirituais em diversas cidades do Brasil.

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