Em certa ocasião, meu irmão brigou com um colega na escola. Sabedor do caso, meu pai mandou que meu irmão pedisse perdão ao colega. E acompanhou, pessoalmente, meu irmão até a casa do colega.
No caminho, meu irmão disse a meu pai: “Quando eu tiver filhos, não os obrigarei a fazer isto”. Meu pai comentou: “Quando você tiver filhos, poderá educá-los do jeito que você quiser. Mas com o mesmo direito, eu quero que você peça desculpas ao seu colega”. E meu irmão obedeceu. Meu pai dizia que “obedecer é amar”. E nós amávamos o nosso pai. Outro princípio de meu pai era que “quem obedece nunca erra (quem pode errar é quem manda e terá que prestar contas por isso)”.
Passaram-se muitos anos, desde que meu pai aprendeu tais princípios no colégio dos jesuítas. Os líderes do nazismo tentaram justificar seus crimes, alegando a “obediência devida” a Hitler. Na América Latina, sofremos governos ditatoriais. E, diante de alguns crimes cometidos contra crianças por seus pais, o Congresso brasileiro acaba de aprovar uma lei que proíbe bater nos filhos. Os abusos cometidos em nome da “obediência” desacreditaram a palavra e a prática desta atitude imprescindível para o bom andamento da vida familiar, cívica e religiosa.
Na vida religiosa, junto com os votos de pobreza e castidade, faz-se um “voto de obediência”, pelo qual o religioso se compromete a seguir as determinações dos “superiores” ou coordenadores da comunidade. Tal voto se faz livremente, movido pelo desejo de seguir o exemplo de Cristo, que se fez “obediente até a morte” (cf. Filipenses 2,8). Na prática, quando se vive em uma comunidade de fé e de amor, obedecer é muito mais fácil do que pode parecer.
Etimologicamente, “obedecer” (do latim ob-audire) significa “escutar”. Todos escutamos com prazer aquelas pessoas de quem gostamos ou a quem consideramos mais capacitadas do que nós. Na mística cristã, devemos estar prontos para obedecer-escutar a todos e não só aos superiores, pois “muitas vezes o Senhor revela ao mais moço o que é melhor” (Regra de São Bento 3,3). Com grande equilíbrio, o fundador dos beneditinos manda “venerar os mais velhos” e “amar os mais moços” (idem 4,70-71).
A verdadeira obediência é a prova mais inequívoca da humildade e do amor que devem reinar em uma família cristã ou em uma comunidade de pessoas consagradas a Deus.
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