Para que você não se sinta só

Frei Sebastião Benito Quaglio, OFM Conv., medita hoje o quarto dom do Espírito Santo e recorda a necessidade da unidade entre os cristãos e os cuidados da quarentena. "Estou aqui celebrando, através da mídia, da internet, para você, para que você não se sinta só, mas possa abraçar esta situação, que estamos vivendo, com a resposta da tua fé, da tua oração, da tua solidariedade. E que você não se sinta só, isolado, isolada. Você faz parte de um corpo Vivo, que é a Igreja de Cristo", indicou. 

O frade recordou que 50 dias após a ressurreição de Jesus, vamos festejar a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos e Maria, no Cenáculo, em Jerusalém, no próximo domingo, dia 31.

Confira a seguir a homilia e as orações finais da celebração, e acompanhe a explicação sobre o dom da Inteligência. A Santa Missa começa aos 19 minutos iniciais do vídeo.

Homilia

Quando ouvimos a palavra de Deus, na Bíblia, é sempre um momento de humildade. Momento de deixar que o Espírito Santo nos ilumine. Por isso, a leitura da Bíblia tem que ser sempre preparada pela oração. Temos que abrir, com a chave da humildade e da oração, o sentido da mensagem de Deus, para não enrolar a palavra de Deus de acordo com o nosso jeito de viver e de pensar. Porque, às vezes, queremos que a palavra de Deus justifique aquilo que nós queremos e fazemos.

Estava lendo o comentário do Papa sobre a Primeira Leitura, e ele exclamava três vezes esta palavra: “para frente, para frente, para frente. Não se acomode. Não recue”. O Evangelho é feito para a conquista. Tem que se desestabilizar, lutar, não ter medo das dificuldades que você encontra, porque o mundo é grande. Precisa de conquistadores, desbravadores. A palavra de Deus liberta. Muitos são os presos, amarrados a situações, a culturas, à maneira de ver, perdendo muito o rumo da vida. Então, alguém tem que ir lá, sacudir sem cansar, e mostra São Paulo como esse Apóstolo intrépido, sem medo, que vai, apanha, mas não desiste, porque sente em si a força de Deus.

Quem evangeliza tem Deus no coração, tem o próprio Cristo consigo. E o mundo precisa. É urgente. E quem luta, trabalha, não encontra comodismo, não. Encontra cada vez mais dificuldades, mas a vitória é certa.

E, no Evangelho de hoje, a gente vê como Jesus insiste na comunhão, na unidade: “Que eles sejam um como nós somos”. É incrível esta vontade de Jesus de unir os homens entre si no Seu amor. E você sabe que o cristianismo não é uma doutrina. Desculpe a palavra. O cristianismo é uma pessoa. E essa pessoa é o amor de Deus encarnado, vivo entre nós. Paulo desenvolve muito esta imagem de Cristo, desta Igreja que é o Corpo de Cristo. E o Cristo que é uma coisa só com o Pai.

Então, meus irmãos, se justifica porque o maior mandamento é amar a Deus e ao próximo. Mas Jesus justificou dizendo: “Amai-vos como eu amei vocês”. Então, a palavra de Deus tem que ser mastigada, tem que ser refletida, não procurar uma resposta que nós queremos, mas ouvir a palavra de Deus que nos mostra o caminho, e nem sempre o caminho é fácil.

Que caminho estamos fazendo agora? Quem hoje está totalmente, assim, à vontade, dizendo “eu vou fazer aquilo que eu quero”? Ninguém. O mundo todo está sob a pressão de uma epidemia. O teu irmão que está ao teu lado pode ser um perigo para a tua saúde. Mas você tem que amá-lo. Mas como, agora, posso amá-lo? Ficando longe dele. O amor exige cada solução que nem sempre tem uma lógica, entendeu? Mas que visa sempre o bem do outro, e o teu com o dele também.

E lembrando que a nossa existência brotou de um Deus que nos ama, e tem que voltar para lá não do mesmo jeito que saiu, mas agarrando muitos outros, e voltar juntos.

Então, vamos como Paulo, não ter medo da luta, porque os vencedores seremos nós, e vamos lutar pela unidade. Estamos na semana, exatamente, da Oração pela Unidade.

Irmãos, tem lógica se sentir separados em nome de Jesus? Pois é... Infelizmente, muita gente, em nome de Jesus, se afasta dos outros. Ao invés de se aproximar. É um desafio. E não vamos culpar os outros. Nós, talvez, fazemos a mesma coisa. Vamos procurar encontrar aquela chave que abre a porta da harmonia, do entendimento, da caridade, da solidariedade. Vamos, com a vassoura do amor, afastar o lixo que impede esta comunhão.

E não vamos ter medo. Temos um único redentor que é o nosso Deus. É um único Pai, único Espírito, uma única Mãe, que é Nossa Senhora. Portanto, temos tudo para nos sentirmos família. Irmãos, ninguém tem que ficar fora da porta da casa. Nós temos que deixar a entrada livre, porque a casa é do Pai. Tem lugar para todos. Na porta, estou eu, que, às vezes, quero selecionar. Não. E quem não está preparado, eu vou preparar. Vou dar um jeito, que tome um banho, que se arrume… É a vida do apostolado.

Ser cristão nunca foi fácil. Nunca será. Mas aí está a força da oração, a força do Espírito, a força de Deus, que nunca nos abandona e, com essa força, seremos vitoriosos, como São Paulo. Amém.

E agora, neste ofertório, vamos lembrar, como estava conversando, hoje, com Frei Sérgio, na Igreja, muita gente não tem consciência do que está acontecendo, porque eles não veem o que tem dentro dos hospitais; eles não veem os milhares de enterros que estão sendo feitos, e, portanto, às vezes, é difícil sentir a realidade do momento. Então, vamos, neste ofertório, dar sentido a ele, porque, na consagração, Cristo transforma, não somente este pão feito com farinha, esse vinho, mas transforma tudo aquilo que nós colocamos aqui dentro: a tua vida, tua família, a nossa cidade, o nosso Brasil, o mundo, e coisas que a gente não entende, mas, em Deus, tudo tem sentido.

Orações após a comunhão

Gostaria muito que você sentisse Jesus ao teu lado e dissesse para Ele: “Jesus, faça tudo passar depressa. Quero estar naquela fila, para poder te receber no coração mesmo”. Porque a Eucaristia é realmente um caminho para a comunhão. É a pessoa de Cristo que se torna presente para entrar dentro de nós, se transformar em nós, em força, luz, mas é a pessoa dele mesmo. E nos unirmos entre nós numa realidade única, formando o Corpo dele.

Vamos pedir a Cristo que possa passar esse tempo. Que Deus ilumine este mundo, que todos possam ler, através dessa epidemia, a própria fragilidade, a própria solidariedade, e, sobretudo, olhar para Aquele que nunca se afasta de nós, e que fomos feito para Ele. Seria tão bom que se despertasse em todos os próprios limites, e focalizasse, mais claramente, a meta que toda a humanidade tem que alcançar: “Pai, que eles sejam um como nós somos”.

Colocar fim às guerras, essas competições vazias, que nos levam a nada que não seja a morte. Que os homens se sintam mais próximos. Que a aproximação não é tanto física, mas de corações.

Pedimos a Jesus que faça esse milagre, que é a Eucaristia, se torne, de fato, o jeito de viver da humanidade com Ele, formando nele um só corpo, uma só alma, um só espírito, uma única realidade, aquilo que nós chamamos de o Corpo de Cristo. Vamos pedir a Nossa Senhora que é a Mãe que nos proteja sempre:

(oração da Consagração a Nossa Senhora, Ave-Maria e oração final do missal)

Estamos nos preparando para a Festa de Pentecostes. Estamos fazendo um itinerário meditando, nesses dias, sobre os dons do Espírito Santo.

Já vimos o dom do Santo Temor de Deus, que não é medo, mas é o respeito para amar de verdade. Não tem amor sem o respeito.

Depois, tem a Piedade que significa não pena mas ternura, de Deus para conosco e nossa para com Deus.

Depois, vimos a Ciência, que é o dom que nos leva à essência das coisas, que não fica na embalagem, mas procura o essencial, que é Deus.

E, hoje, nós vamos refletir um pouquinho sobre a inteligência. Inteligência não é a capacidade de conhecer o universo inteiro. Inteligência é um dom. Portanto, a criança pode ter esse dom, a pessoa de idade pode ter esse dom.

O que significa inteligência? Vem do latim e significa amarrar, amarrar todos os acontecimentos da nossa vida dando um sentido; entender que, através dos acontecimentos, Deus nos fala. Até através de um tropeção... Através de qualquer coisa, porque a inteligência é como uma corda. A corda é formada de quê? De milhares de fiozinhos que, quando estão todos juntos, formam uma energia, uma força. E, com a corda, você pode amarrar, pode puxar, porque ela é firme e forte. Cada fiozinho se juntou, então, juntos, se tornaram uma energia. Assim é este dom da Inteligência. É muito importante isso. Quantas coisas acontecem no teu dia tia, coisas insignificantes, mas que, para Deus,

não são insignificante: teu trabalho diário, teus gestos, teus passos, teu olhar, tua respiração, teus passos, tua palavra. Tudo isso, em Deus, tem um plano na tua casa.

(...) Tudo você tem sentido em Deus.  Então, você percebe que a tua vida é algo que se desenvolve sob o olhar de Deus, como se você fosse uma criança e Deus, uma mãe, que não te deixa. Tudo tem sentido. Faz sujeira, limpa etc. É claro, é um dom do Espírito Santo, e você tem que sentir isso, você tem que sentir que está mergulhado em Deus. (...) Temos Deus que nos sustenta. Deus é mais do que o ar que nos sustenta, é mais que a água que nos sustenta... então, sentir que, na Inteligência, esta presença de Deus que olha para nós com muito mais atenção do que um pai ou uma mãe olha uma criança.

Você já experimentou a presença de Deus na tua vida? A presença de Deus na natureza, nos teus irmãos? Então, você não vai achar nunca a tua vida vazia, chata. É um dom que dá ânimo, coragem e energia. É aquele choque que você leva quando pega um fio descascado. A gente, em Deus, precisa um pouco disso. Vamos nos chacoalhar porque este dom está aí para dar sentido à nossa existência. Nada é inútil. Tudo está com Deus.

(oração pedindo os Sete Dons do Espírito Santo: Santo Temor de Deus, Piedade, Ciência, Inteligência, Conselho, Sabedoria e Fortaleza)

Então, vamos nos abrir ao Espírito Santo, que se manifesta através desses dons, os dons dele. E pedimos a Nossa Senhora, esposa do Espírito Santo, que nos ilumine. Esta flor é você. Fica com Nossa Senhora, sempre aqui ao lado de Jesus.

(Christus Vincit e Regina Coeli)

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